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segunda-feira, 1 de setembro de 2025

20 anos do "The Tao of the Guitar" e um convite para uma imersão na música de Paul Galbraith


Neste ano comemoramos 20 anos de existência do blog The Tao of the Guitar! Desde 2005, temos compartilhado com nossos leitores uma diversidade de conteúdos: dicas de leitura, indicações de materiais técnicos, relatos de experiências musicais, análises, fotos, poesias e diversas abstrações sobre a arte de fazer música ao violão. Convidamos todos a navegar pelas postagens antigas e descobrir esse rico acervo, que é fruto de uma caminhada constante de aprendizado e reflexão.

O nome do nosso blog traduz um ideal: unir o estudo técnico e artístico do violão a uma ideia mais profunda de caminho — um caminho espiritual, uma ferramenta de autoconhecimento. É essa perspectiva que buscamos cultivar, tanto na prática do instrumento quanto na vivência pessoal. E é justamente nesse espírito que queremos falar hoje da música de Paul Galbraith, um artista cuja arte ressoa profundamente com os valores musicais, artísticos, estéticos, filosóficos e espirituais que defendemos em nosso espaço.

Paul Galbraith é um violonista renomado, com uma trajetória brilhante. Sua música, seus discos e sua técnica única, aliada a seu violão de 8 cordas e sua postura viosionária, nos encantam e inspiram. A delicadeza, a precisão e a profundidade com que ele aborda o repertório são um convite a um mergulho profundo na música.

Em 2010, tive a oportunidade singular de participar de uma masterclass com Paul Galbraith durante um importante festival internacional de violão. Fui selecionado entre poucos alunos para ter esse contato direto com ele, uma experiência transformadora que já relatamos em um texto aqui no blog, que recomendo a todos lerem, pois traz detalhes e insights valiosos:

 https://thetaooftheguitar.blogspot.com/2010/03/vi-fenavipi-masterclass-com-paul.html 


Para mim, esse contato pessoal foi decisivo para aprofundar minha conexão com sua arte.


Quanto ao disco Sonatas e Partitas, lançado em 1998, só tive acesso alguns anos depois, provavelmente após 2005. Naquela época, antes da consolidação dos serviços de streaming no Brasil, dependíamos de amigos, professores e do compartilhamento de arquivos para descobrir gravações de grandes músicos. Lembro claramente da impressão ao ouvir as gravações em mp3 deste disco, que não saía da memória do meu player digital. Curiosamente, mesmo tendo hoje o CD físico em mãos, o disco continua comigo no mp3 player — um sinal da importância e da intimidade que ele conquistou em minha vida musical.

Logo nas primeiras audições, mesmo sem acesso ao encarte, a detalhes ou às ideias interpretativas de Galbraith, percebi intuitivamente várias nuances que depois confirmei ao ler o texto do próprio artista. Uma delas é a sensação de que as Sonatas e Partitas formam um conjunto único, uma verdadeira "suíte de suítes". Um dos elementos que mais me chamou atenção foi a aparente "unidade de pulso" entre as faixas, que imprime ao disco um caráter reflexivo e hipnótico. É um verdadeiro refúgio para a alma, uma imersão onde o ouvinte se funde com o violonista e seu som.

O disco é dividido em dois CDs: no primeiro, temos as Sonatas 1 e 2 e a Partita 1; no segundo, as Partitas 2 e 3 e a Sonata 3. Sinto que o primeiro disco representa uma peregrinação, uma caminhada que sai de um ponto e determina um destino certo. Esse destino, sem dúvidas, é alcançado no começo do segundo disco, com a emblemática Partita nº 2, especialmente sua Chaconne. A Sonata 3 e a Partita 3, por sua vez, me parecem simbolizar o retorno — uma verdadeira viagem espiritual.

Um ponto técnico interessante a mencionar é a escolha das tonalidades no disco: apenas as Partitas 1 e 3 mantêm as tonalidades originais. A Partita nº 2, BWV 1004, que normalmente se toca em ré menor, é aqui apresentada por Galbraith em mi menor, causando um certo estranhamento. Essa escolha pode estar relacionada ao seu violão de 8 cordas, conhecido como Brahms-Guitar, que provoca adaptações próprias. Mas, ao refletir, percebemos que mudar tonalidades em obras de Bach ao adaptá-las para outros instrumentos é uma prática comum — as famosas Suites para violoncelo, por exemplo, raramente são executadas satisfatoriamente no violão na tonalidade original. O próprio Bach recorria a esse recurso ao adaptar suas obras e de seus contemporâneos para outros instrumentos. Assim, essas decisões se tornam plenamente compreensíveis.

Gostaria de avisar ao leitor que, logo abaixo, está a tradução para o português do texto do encarte do CD "Sonatas and Partitas" de Paul Galbraith. Ressalto que o objetivo dessa tradução é puramente pedagógico: facilitar o acesso de alunos e leitores ao conteúdo rico que acompanha a música, já que na maioria das plataformas de streaming ele não está disponível. Escutar o disco com o encarte em mãos é uma experiência muito mais completa e enriquecedora.

Um link para ouvir o disco em um serviço de streaming será deixado ao final da tradução. Mas esse disco é bastante difundido e, atualmente, pode ser encontrado facilmente nas principais plataformas de streaming musical.





Tradução do encarte "Sonatas and Partitas" - Paul Galbraith


"

Dedicado a George Hadjinikos, grande músico e professor, em seu 75º ano.

P.G. ... 


Já em 1958, Julian Bream publicou um artigo na Guitar Review dizendo que as Seis Sonatas e Partitas para violino eram ideais para o violão, como se tivessem sido escritas para esse instrumento. O próprio conceito fluido de Bach sobre a intercambialidade possível entre instrumentos nestas obras pode ser claramente visto pelo fato de que a Terceira Partita para violino existe em uma versão original para alaúde (BWV 1006A), e que a Segunda Sonata para violino também existe em uma versão para teclado.

Para minha própria transcrição das Sonatas e Partitas — ou “6 Solo”, como Bach chamou — me apoiei nas próprias transcrições de Bach, assim como na adaptação para alaúde contemporânea da Fuga da Sonata I e na maravilhosa versão para piano de Brahms da Chacona para apenas a mão esquerda. Para as demais obras, tratei os arranjos conforme as exigências da música, pois a textura da escrita varia consideravelmente. Para mim, essa variação de textura foi intencional por parte de Bach para proporcionar diversidade e contraste. Assim, houve momentos em que senti que era vital não adicionar nada em movimentos de linha única. Os Doubles na Partita I, por exemplo, sugerem uma textura polifônica rica principalmente por uma supressão consciente de “preenchimento”. Mas também há ocasiões em que a música parece exigir uma realização mais cheia, e aqui fiz pleno uso da extensão do alaúde barroco do meu violão de 8 cordas.

Bach escreveu o conjunto alternando as formas: Sonata I, Partita I, Sonata II, Partita II, Sonata III, Partita III. Algumas leituras agruparam as três Sonatas juntas e as três Partitas separadamente. Não que essas versões não funcionem! Mas era um sonho meu há algum tempo poder tocar o “6 Solo” da forma como foi composto, pois tinha uma forte intuição de que foi concebido como uma única peça, como uma “suíte de suítes”. Foi com o desenvolvimento do meu novo violão de 8 cordas em 1994 que encontrei uma forma de executar essa música “de uma vez só”, já que as cordas extras aguda e grave permitiram manter a mesma afinação durante toda a peça. Enquanto a estudava neste instrumento e a apresentava ao longo dos anos, comecei a perceber as interconexões dentro da música.

Agora estou convencido de que um fio temático percorre a obra, e que suas origens estão em um Urtema (tema raiz), que é o tema da Fuga da Sonata III. Esse Urtema é ele mesmo uma variação do “Come Holy Ghost”, um hino popular da época que simboliza a Ressurreição de Cristo. O uso desse tema da Ressurreição no final de uma obra longa — que se poderia chamar épica — de Bach, que personificou a visão de Lutero da “teologia através da música”, sugere fortemente uma narrativa ao estilo bíblico. Minha impressão pessoal é que o “6 Solo” é uma história gospel instrumental em forma de tríptico, contando o Nascimento, a Paixão e a Ressurreição de Cristo.

Aqui estão algumas pistas para essa narrativa conforme a vejo:

Após a introdução declamatória do Adagio de abertura, Bach nos dá uma fuga que lembra muito sua fuga “Unto Us a Child Is Born” da Cantata 42. O Siciliano que segue é a canção de ninar perfeita, como as do Oratório de Natal. Para mim, a Partita I traz a própria voz de Cristo (aqui em um tom agudo contrastante) em Si menor, a tonalidade mais pessoal de Bach.

A música da Paixão começa com o Grave da Sonata II, onde o baixo descendente simboliza a partida do mundo. Esse motivo, que vem diretamente do contorno descendente do tema da Ressurreição, é intensificado pelo seu uso como linha de baixo durante toda a Partita II, culminando nas variações contínuas que constituem a Chacona, uma das obras-primas incontestáveis e insondáveis de Bach (e da música em geral). A Chacona chega a um momento crucial no “6 Solo”: a “Seção Áurea”, na verdade, da teoria arquitetônica grega antiga.

O fato de a Chacona espelhar a estrutura geral do “6 Solo” em sua forma tríptica assim como em seus 32 segmentos (o “6 Solo” tem 32 movimentos) — e de que em seu manuscrito Bach a liga sem pausa ao Adagio de abertura da Sonata III seguinte — parece mais uma evidência da unidade geral do conjunto.

Esse Adagio parece emergir da sombra da Chacona, oscilando no seu andar laborioso entre uma nova tonalidade prometida e a tonalidade anterior, ainda lembrada, da Chacona. O ritmo pontilhado, geralmente simbólico (na música antiga) do sofrimento, aparentemente carrega um peso pesado e sugere para mim a imagem clara do “Caminho da Cruz”. Há até três dramáticas “quedas” cadenciais antes de finalmente chegarmos à cadência maior tônica, que até então nos foi negada (na verdade, não temos certeza durante todo o movimento em qual tonalidade estamos até essa cadência final).

Além disso, toda a obra até agora esteve quase totalmente no modo menor (as exceções são os dois movimentos lentos das Sonatas I e II). Então, esta é a primeira vez que Bach nos dá uma sensação real de modo maior, e na sequência vem o tema da Ressurreição. O modo maior que foi tão esperado e finalmente liberado nos conduz com uma exuberância alegre até o fim do “6 Solo”. Bach corona a obra com algumas das músicas mais felizes que já escreveu. De fato, Bach, em sua Cantata 29, colocou as palavras “We Thank Thee, God, We Thank Thee” (Agradecemos a Ti, Deus, Agradecemos a Ti) no Prelúdio da Partita III.

Paul Galbraith ... Paul Galbraith ganhou reconhecimento público pela primeira vez na Grã-Bretanha quando, aos 17 anos, sua performance no Concurso Internacional de Guitarra Segovia lhe rendeu a Medalha de Prata. Segovia, que estava presente no concurso, chamou sua performance de “magnífica”. No ano seguinte, ele ganhou o prêmio Jovem Músico do Ano da BBC na televisão.

Esses prêmios ajudaram a lançar sua carreira internacional, incluindo apresentações com algumas das melhores orquestras da Grã-Bretanha e Europa (entre elas, Royal Philharmonic, Chamber Orchestra of Europe, BBC Philharmonic, Scottish Symphony Orchestra, English Chamber Orchestra, BBC Scottish Orchestra, Scottish Baroque Orchestra, Ulster Orchestra, Hallé Orchestra e Scottish Chamber Orchestra). Turnês de concerto o levaram a EUA, Canadá, Espanha, Itália, Grécia, República Tcheca, Noruega, Hungria, Brasil, China, Índia e Islândia. Desde 1983, Galbraith estuda com o maestro e pianista grego George Hadjinikos.

A posição única de tocar de Galbraith foi revelada pela primeira vez no Festival de Edimburgo em 1989. Seu violão é suportado por um espigão metálico (semelhante ao de um violoncelo) que repousa sobre uma caixa de ressonância de madeira. O instrumento em si foi projetado por Galbraith em colaboração com o renomado construtor David Rubio. As oito cordas e o design extraordinário deste violão aumentam efetivamente o alcance e as possibilidades do instrumento a um nível nunca antes possível.

As seis cordas padrão são “circundadas” por duas cordas extras, uma mais aguda e outra mais grave, estendendo o alcance para ambos os lados. Isso normalmente seria impossível com comprimento fixo das cordas. Contudo, esse problema foi resolvido variando o comprimento da corda em uma ponte inclinada, uma ideia inspirada no instrumento renascentista “Orphereon” ... que usava esse sistema único (único, isto é, para instrumentos com trastes, já que a harpa e todos os instrumentos de teclado têm comprimentos variados de cordas). O alcance do instrumento permitiu a Galbraith fazer transcrições de obras de compositores não usualmente associados ao violão, como Haydn, Schubert e Brahms.


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Em 1995, Galbraith fez a estreia mundial da sua transcrição completa das sonatas e partitas solo para violino de Bach no Festival Bach da Filadélfia, e em 1996 as apresentou no Festival de Edimburgo. A BBC TV escolheu filmar este concerto e transmitiu parte dele na Grã-Bretanha como um dos destaques do festival. Em agosto de 1996, seu CD com obras de Brahms e outros compositores foi eleito “Melhor do Mês” pela BBC Radio.


(Críticas sobre o disco e sobreo o violonista em publicações especializadas)

“As viagens longas para ouvi-lo valem a pena.” The Guardian

“Execução de brilho impressionante... Sua técnica é de tirar o fôlego, mas nunca mais importante que a própria música. Seu Bach é profundamente sentido, e sua técnica permite que esses sentimentos nos cheguem com uma maravilhosa facilidade.” The Scotsman

“O melhor guitarrista da sua geração.” Classical Guitar

“O que muitos queriam ver e ouvir foi a mudança revolucionária que ele trouxe para tocar violão... os resultados foram verdadeiramente notáveis, com uma clareza incrível e uma enorme variedade dinâmica que nunca tinha ouvido em qualquer guitarrista antes. O público ficou hipnotizado.” The Times de Londres

“Ele não só dominou tecnicamente seu instrumento, mas tem a capacidade de acessar seus mistérios internos.” Classical Guitar Magazine

“Galbraith conquistou uma façanha considerável ao transcrever e decorar as seis Sonatas e Partitas solo de Bach, e as tocou com um real sentido de comunicar algo na música, e não apenas uma virtuosidade técnica... um aumento delicioso de sonoridade instrumental e cor fez este concerto uma experiência prazerosa. Tanto Galbraith quanto seu instrumento têm potencial para fazer coisas notáveis.” Glasgow Herald

“A performance de Galbraith é cativante do início ao fim.” Classic CD

“Na terça-feira à noite, no Grande Salão, me encantei com a combinação de artista, instrumento e música. Pianíssimos de delicadeza extrema contrastavam com momentos de poder quase assombroso. Nunca ouvi ninguém tocar assim. Galbraith parecia ter transcendendo a técnica e estabelecido uma conexão pessoal com uma fonte interior, permitindo que a música comunicasse de forma surpreendentemente direta. Tudo soava como uma obra-prima naquela noite.” Classical Guitar

“Paul Galbraith tem algo próximo do gênio.” Classical Music

“Ele produziu música de cor, riqueza e virtuosismo incomuns.” Philadelphia Inquirer

“Sua musicalidade é tão ‘autêntica’ que cada nota traz a marca da verdade e as noções acadêmicas de erudição tornaram-se supérfluas. Ele manteve o público em silêncio extasiado, como hipnotizado por algum mágico.” The Scotsman


Informações sobre Paul Galbraith e seu violão: www.paulgalbraith.com


Produtores Executivos: Amelia S. Haygood, Carol Rosenberger

Produtor de Gravação: Ramiro Belgardt

Engenheiros de Gravação: John Eargle, Jeff Mee

Edição: Ramiro Belgardt, Peter S. Myles

Associados de Produção: Phyllis Bernard, Catharine Jaap

Gravado em 1, 2, 4, 5 de setembro de 1997; 19 a 21 de janeiro de 1998

Primeira Igreja Congregacional, Los Angeles

Processamento Digital 20-bit: Prism AD-1

Edição Digital: Sonic Solutions

Monitores de Som

Gravação: Genelec 1030A

Pós-produção: JBL 250Ti

Microfones: Sennheiser MKH-20, AKG C480/CK-61ULS

Console: Soundcraft Spirit Folio

Construtor do violão: David Rubio, Cambridge, Inglaterra

Fotos da capa e contracapa: Harry J. Pack

Direção Criativa: Harry Pack, Tri-Arts and Associates

Gráficos: Mark Evans

Agradecimentos Especiais

Lisa Sapinkopf, Lisa Sapinkopf Artists, Berkeley, Califórnia

Antonio Tessarim, luthier brasileiro, por sua bela caixa de ressonância


© 1998 Delos Productions, Inc., Santa Monica, Califórnia, EUA

Impressão e montagem nos EUA

(Fim do encarte)




Link para o ouvir o álbum "Sonatas and Partitas" de Paul Galbraith no Youtube Music:

https://music.youtube.com/playlist?list=OLAK5uy_mB1s9VLzwAiGbfwY_8O2aoNKLzpYRfjTs&si=pcEqeHhg6kaNR2eF


Esse é um convite para mergulhar fundo não só na música, mas nas histórias, técnicas e contemplações que ela pode despertar. Que a arte de Paul Galbraith amplie sua jornada musical e espiritual. E que o The Tao of the Guitar continue sendo um ponto de encontro para quem busca unir técnica, expressão e autoconhecimento através do violão.


Grande abraço e ótimos estudos.

João Paulo Pessoa.

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Nota: Esse texto (e a tradução apresentada) foram produzidos com auxílio do "Mecanismo de busca com inteligência artificial e processamento avançado de linguagem natural" denominado Perplexity. 

"A Perplexity AI é um mecanismo de busca com IA que entende e responde perguntas com respostas completas"

(https://www.perplexity.ai/)

domingo, 17 de agosto de 2025

Conexões Virtuais: Caminhos e Equilíbrios para o Artista-Professor




 Olá.

De volta às nossas reflexões aqui no blog.

O tema de hoje:

Por que é importante reconsiderar o retorno às redes sociais, especialmente quando pensamos na divulgação de nossas atividades artísticas, pedagógicas e musicais.

Após um período desligado do Instagram e do Facebook — motivado pelos efeitos negativos da “rolagem infinita”, que já discutimos em outro post aqui do blog (https://thetaooftheguitar.blogspot.com/2025/05/desativando-instagram-e-facebook.html) — percebi a importância de avaliar com atenção o papel dessas plataformas em nossa vida profissional.


Afinal, por que voltar?

Em um mundo digitalizado, as redes sociais tornaram-se ferramentas úteis, de fato (não sei se indispensáveis), para artistas, professores e músicos divulgarem seu trabalho, conectarem-se com novos públicos e compartilharem conhecimento. A instantaneidade, a visibilidade e o alcance que Instagram e Facebook oferecem muitas vezes são incomparáveis. Por meio dessas redes, conseguimos:

- Apresentar nossas produções musicais para pessoas além do nosso círculo imediato;

- Compartilhar eventos, aulas, concertos e novidades em tempo real;

- Trocar ideias, receber feedback e criar colaborações com outros artistas e educadores;

- Inspirar e ser inspirado pela diversidade de trabalhos na área musical e pedagógica.

Inclusive, muitos dos contatos profissionais e parcerias relevantes surgem justamente dessas plataformas, dando voz e espaço para quem, fora do universo digital, talvez demorasse muito mais para conquistar visibilidade. 

No entanto, não podemos ignorar a outra face da moeda: o retorno exige cuidado.

Precauções ao retornar 

Ao retomar a atividade nessas redes, precisamos estar alertas para os perigos da rolagem infinita e de outros impactos negativos, como detalhado no primeiro artigo:

- Desregulação da dopamina e vício em recompensas instantâneas, que prejudicam o foco em nossas práticas artísticas e estudos;

- Fragmentação da atenção por excesso de estímulos curtos e desconexos;

- Aumento da ansiedade e comparação constante, que podem minar nossa autoestima;

- Fadiga mental e problemas de sono, prejudicando nosso desempenho musical;

- Infotoxicação, sobrecarga de informações e dificuldade de filtrar o que realmente é relevante.


Portanto, o segredo é encontrar equilíbrio: usar essas ferramentas conscientemente, sempre priorizando qualidade de produção e divulgação, mas sem cair na armadilha do consumo desenfreado de conteúdo e “rolagem sem fim”.

O que pode ajudar:

- Estabeleça limites de tempo para navegar nas redes;

- Prefira postar com propósito e interagir com perfis e comunidades afins;

- Foque mais no compartilhamento do seu processo criativo e pedagógico;

- Faça pausas frequentes e procure não acessar as redes antes de dormir;

- Não se esqueça: as redes sociais são ferramentas, não um fim em si mesmas.


Retomar as redes pode, sim, fortalecer nossa atividade artística e pedagógica. Mas que seja sempre com olhar crítico e consciente para não sacrificar saúde mental e foco no nosso verdadeiro objetivo: a música e o desenvolvimento pessoal e coletivo.


Panorama dos nossos canais e perfis

Para quem deseja acompanhar de perto minha jornada musical e pedagógica, meus canais digitais estão abertos para troca e divulgação:

- No Instagram, meu perfil pessoal @jpguitar999 traz registros do meu dia a dia musical, dicas e interações com seguidores apaixonados pela música (além de outros interesses, como café, bicicletas, skates para surfar, livros, discos, games, consoles, vinhos, HQs, filmes, etc...);

https://www.instagram.com/jpguitar999/

- No Facebook, além do perfil pessoal jpguitar999, que funciona como ponto de contato mais direto e pessoal, temos também a página JPPGuitar, voltada especialmente para divulgação de eventos, novidades e conteúdos musicais e pedagógicos, que recebe seguidores interessados no universo do violão e da música em geral;

https://www.facebook.com/jpguitar999/

https://www.facebook.com/jppguitar/

Nosso canal no YouTube, @jpguitar999, é um espaço criado para compartilhar conteúdos dedicados ao aprendizado e à inspiração musical.

https://www.youtube.com/@jpguitar999

Esses canais são excelentes ferramentas para unir divulgação e conexão com o público, desde que usados com consciência para evitar as armadilhas das redes sociais.

Antes de dar aquela "conferida" hoje em seu Instagram e/ou Facebook, lembre-se:

USE, MAS NÃO SE DEIXE USAR PELA ROLAGEM INFINITA!

😉🙏

E pra finalizar nosso post de hoje, mais um "Álbum incrível do dia":


https://music.youtube.com/playlist?list=OLAK5uy_kmTqqMbIHGdLMbAJ6YN-rxwgkMH2CP540&si=ArrGFgxdGbAtr8af


Grande abraço e ótimos estudos.

JPP.

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Nota: Esse texto foi produzido com auxílio do "Mecanismo de busca com inteligência artificial e processamento avançado de linguagem natural" denominado Perplexity

"A Perplexity AI é um mecanismo de busca com IA que entende e responde perguntas com respostas completas"

(https://www.perplexity.ai/)

quarta-feira, 30 de julho de 2025

Além do Streaming: O colecionismo de discos como caminho para uma escuta mais profunda.

 



O The Tao of the Guitar faz 20 anos!

É com enorme alegria que celebramos  — em 2025 — duas décadas de existência do nosso blog The Tao of the Guitar

Desde 2005, dedico este espaço a compartilhar ideias, descobertas e paixões ligadas à arte de fazer música com o violão e à compreensão mais profunda daquilo que nos move enquanto músicos, ouvintes e, sobretudo, aprendizes.

Hoje iremos abordar um tema fundamental para o desenvolvimento artístico e intelectual de quem se dedica à música clássica: a importância do colecionismo de discos — especialmente CDs — para estudantes e ouvintes desse universo.


Muito além do streaming: por que colecionar discos importa

Vivemos a era do streaming, da abundância e do acesso instantâneo. No entanto, para quem busca formação musical sólida, especialmente na música clássica, a experiência do contato direto com discos revela riquezas que nenhuma plataforma digital consegue substituir.


Os encartes: aprendizado na palma da mão

Lembro com viva nitidez do quanto aprendi lendo encartes de CDs e LPs na minha juventude. Eles não são apenas complementos: trazem análises de obras, histórias dos intérpretes, detalhes sobre gravações — um rico material pedagógico, fundamental para quem quer ir além da escuta passiva e se embrenhar nos contextos histórico, estilístico e interpretativo das músicas estudadas.


A materialidade: foco, inspiração e concentração

Existe um poder inspirador inegável no objeto palpável. O simples fato de pegar um CD, apreciar a arte gráfica, folhear o encarte e posicionar o disco no player transforma a escuta em ritual: aumenta o foco, aprofunda a concentração e promove uma escuta ativa plenamente imersiva, muito diferente da relação fugaz e dispersa que, por vezes, temos ao ouvir música em meio a múltiplas distrações digitais.


Organização e pesquisa: a experiência do colecionador

O colecionismo permite construir uma biblioteca auditiva personalizada. Ao organizar minha estante por compositores, intérpretes ou escolas interpretativas, consigo visualizar relações, tradições e evoluções musicais de modo que nenhum serviço de streaming proporciona. Em música clássica isso é essencial: dificilmente playlists digitais respeitam movimentos de sonatas, sinfonias, suítes — e, para o entendimento do todo, ouvir essas obras de forma integral faz toda diferença.


Qualidade de som: o CD reina absoluto (ao lado do bom vinil)

Para quem exige qualidade sonora — dinâmica, silêncio, transparência —, nada supera o CD, sobretudo em comparação com arquivos comprimidos do streaming. Vinil também ocupa um lugar histórico e afetivo, mas o CD traz praticidade, baixíssimo ruído e precisão, fatores decisivos em repertórios com nuances detalhadas, como a música de câmara, as gravações históricas ou as gravações de instrumentos solo (Violão, Alaúde, Piano, Cravo etc ... ou mesmo instrumentos de corda friccionada tocando obras solo como as Suites para Celo de Bach , por exemplo).


O papel de plataformas como Discogs — e a compra online

Hoje, comprar CDs novos tornou-se tarefa quase exclusivamente digital. Lojas físicas rarearam, mas a Amazon, Imusic e outras plataformas viabilizam que continuemos a alimentar nossas coleções. E, para raridades, edições especialíssimas ou pesquisa minuciosa de informações técnicas e históricas, o Discogs é fonte indispensável: ali catalogo parte da minha coleção, Sigo aprendendo nos fóruns e, por vezes, adquiro discos de outros apaixonados mundo afora.


Entendendo discografias: pesquisa e trajetória interpretativa

Para o estudante de música clássica, mapear discografias de intérpretes é fonte de descobertas inesgotáveis. Como mostra o trabalho do professor Sidney Molina, “O Violão na Era do Disco: interpretação e desleitura na arte de Julian Bream”, muito do repertório do violão e de outros instrumentos se construiu pelas gravações — conhecer as diferentes leituras de uma mesma obra é uma das maiores aventuras do ouvinte atento, trazendo ensinamentos que vão (muito) além das partituras.


Por que abandonar o colecionismo empobrece o ouvinte clássico

A cultura do colecionismo preserva história, memória afetiva, profundidade intelectual. Quem ignora completamente esse universo tende a perder a chance de explorar abordagens interpretativas, trajetórias editoriais, partituras raras, encartes informativos — e, acima de tudo, abdica de uma relação mais íntima e comprometida com o ato de ouvir música.


Minha história com discos: entre memórias e redescobertas

Sou uma criança dos anos 70. Cresci em uma casa inundada por discos — vinil, fitas K7 (originais e gravadas), fitas de rolo e, a partir dos anos 80, os ainda raros e caríssimos CDs. Meu pai era fã inveterado de ópera, jazz, música de câmara, orquestra, MPB — e audiófilo de primeira: nossa sala guardava um sistema HI-FI lendário, com um receiver Sansui quadrifônico, toca-discos Philips, tape-deck AKAI, gravador de rolo ("Reel to Reel") AKAI e, depois (nos anos 80), um CD player Sony que tocava, entre outros, as sinfonias de Beethoven em edições japonesas (ainda vivas em minha coleção).

Nota: as imagens a seguir são apenas ilustrativas.






A trilha sonora da casa transitava pelos universos mais plurais: música antiga, frevo, música francesa, folclores do mundo, violão solo, e por influência dos meus irmãos, rock dos anos 70 como Pink Floyd, Led Zeppelin, Beatles e Stones. Eram tempos de descobertas e aprendizado coletivo em família.

E tinha também o aprendizado com os amigos e com as famílias de amigos próximos. Meus grandes amigos de infância Alain Guerra e Mathias Anguita Echiburu foram importantíssimos nesse sentido em minha formação musical. Muito dos meus gostos por rock dos anos 70 se deram também por causa deles. O tio de Alain ("Tio Dido") tinha uma coleção imensa de discos com materiais que eram completamente inacessíveis pra nós na época... "Dido" era generoso o suficiente pra deixar as crianças ouvirem. Devo muito a esses dois grandes amigos e às suas famílias. Não consigo mensurar o quanto aprendemos juntos ouvindo tantos discos e investigando minuciosamente as capas e encartes daquela coleção incrível. É uma memória que sempre inunda de gratidão o meu coração.

No final dos anos 80, após a perda do meu pai, os vinis e a era do HI-FI começaram a desaparecer lá em casa. Boa parte dos equipamentos foi se desfazendo aos poucos — era a ascensão do Walkman, do Discman, daqueles Boombox nem sempre agradáveis — e o ritual de comprar vinil já não tinha o mesmo encanto para nós. Mesmo assim, os discos mais importantes permaneceram protegidos, quase como relíquias familiares, e ninguém tinha coragem de abrir mão de algo tão significativo. Aos poucos, fui adquirindo CDs nos anos 90 e 2000, mas não me via como colecionador: eu simplesmente queria ouvir música, fosse nos grandes “bolachões” ou nos compactos CDs, sempre atento aos encartes, que eu adorava folhear.

Quando a internet chegou de vez no meu dia a dia, já nos anos 2000, fiquei fascinado pela possibilidade de baixar música com softwares nada ortodoxos (alguns deles usavam tapa-olho, tinham mão de gancho, perna de pau e bebiam rum) — foi a fase do E-Mule, com HDs abarrotados de álbuns, discografias inteiras e encartes digitalizados. Isso expandiu meu universo musical enormemente, até porque os próprios professores da universidade incentivavam a ouvir de tudo. Durante esse período importante, aprendi muito apenas explorando aquele oceano musical digital. Depois vieram os smartphones e o streaming, que no início me entusiasmaram, mas, (um pouco mais tarde) quando eu já era um professor, fui me dando conta do que estávamos deixando para trás ao abandonar o contato físico com os álbuns. Uma saudade dos discos começou a crescer, uma vontade de retomar aquela relação tátil e concentrada com a música.

Foi então que resolvi remontar um sistema HI-FI e reestruturar minha coleção de discos. Alguns discos de vinil, e, também, alguns CDs haviam sobrevivido apenas como lembranças da infância e juventude; cuidei deles, limpei cada peça e voltei a comprar novos discos, percebendo, agora com mais consciência, que meu formato preferido é mesmo o CD — prático, eficiente e perfeito para música clássica. Meu sistema HI-FI atualmente é enxuto e funcional: um par de monitores Edifier S-1000 MKII, notebook com interface Scarlet 1818, um DAC/Preamp Fiio, CD Player TEAC CD-P650, toca-discos Audio-Technica LP-120 e fone Audio-Technica ATH M50x. Aprender sobre DAC, Toslink e tantos detalhes técnicos me fez enxergar de vez o potencial impressionante do CD, especialmente quando o equipamento corresponde. Com certeza, meu Sistema atual não é um grande sistema como o que meu pai tinha nos anos 70 ... mas tenho, como meu equipamento, um som muito mais preciso de CDs, algo que eu não sonhava ser possível. O uso dos DACs dedicados para CDs e as diferentes maneiras de conversão do sinal, abriram portas oníricas pra audição das mini-bolachinhas prateadas; além do acesso ao streaming, claro (sim, eu uso streaming também ... não seja radical). 

:)

Nota: as imagens a seguir são apenas ilustrativas.





Com o novo sistema montado, comecei realmente a me entender como colecionador — vendo nos discos um capítulo vivo do meu caminho musical. Passei a mergulhar ainda mais nas informações dos encartes, nas histórias dos intérpretes, nas curiosidades de selos e gravações. Aos poucos, comecei a compartilhar esse olhar com alunos e colegas no Conservatório Pernambucano de Música, sentindo que era fundamental alertar a todos sobre o valor da mídia física e do colecionismo, e sobre tudo o que se perde quando abandonamos isso sem reflexão.

Hoje, minha coleção tem cerca de 150 LPs e aproximadamente 1.100 CDs, sendo essa última parte ampliada por aquisições pessoais e, também, por doações generosas. Estes números são apenas uma especulação, pois realmente não fico contando. Compartilho esse amor pelo colecionismo de discos com alunos e colegas, sempre ressaltando: a mídia física é um refúgio para a alma, uma ponte entre o passado e o presente, entre o mundo material e o sonho, entre o afeto e a erudição musical.

Vou deixar aqui algumas fotos reais do meu atual Sistema HI-FI. São imagens descompromissadas e triviais do dia-a-dia de estudos e escutas ... por favor, não reparem a bagunça.

:)












O convite

Se você chegou até aqui, espero ter despertado a vontade de explorar mais o mundo dos discos — por aqui, em outros posts do The Tao of the Guitar, você encontra muitas indicações de álbuns essenciais para ouvir, mergulhar e aprender. E, para os curiosos, convido a visitar a parte da minha coleção que cataloguei no Discogs. Que esse blog continue sendo, por anos a fio, um ponto de encontro entre a paixão pelo violão, o amor pelos discos e a busca incessante pelo conhecimento musical.

Veja aqui minha página do Discogshttps://www.discogs.com/user/jpguitar

e o nosso álbum incrível de hoje:

Lang Lang - Bach: Goldberg Variations (Extended Edt.)


https://music.youtube.com/playlist?list=OLAK5uy_kxtLPf52mtVuboPQsZRc2d7giykhmGIjo&si=WeoWeWxe4OUHYPYX


Grande abraço musical.

Boas escutas e ótimos estudos.

[]

João Paulo Pessoa.

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Nota: Esse texto foi produzido com auxílio do "Mecanismo de busca com inteligência artificial e processamento avançado de linguagem natural" denominado Perplexity

"A Perplexity AI é um mecanismo de busca com IA que entende e responde perguntas com respostas completas"

(https://www.perplexity.ai/)

quarta-feira, 9 de julho de 2025

A Arte de Ouvir Música: Reflexões.


 Olá, leitor! Antes de começarmos, um lembrete especial: em 2025, o The Tao of the Guitar completa 20 anos no ar! Desde 2005, seguimos juntos compartilhando nossa paixão pelo violão clássico e pela música em sua essência. Hoje, vamos explorar um tema fundamental: a importância de ouvir música (especialmente gravações) na formação do instrumentista. Parece óbvio? Garanto que não é tanto assim.

1. O que é ouvir música?

Ouvir música vai muito além de deixar o som de fundo enquanto fazemos outra coisa. Aaron Copland, em seu clássico "Como Ouvir e Entender Música", propõe que a escuta musical envolve níveis de atenção: o sensorial (sentir o som), o expressivo (perceber emoções) e o puramente musical (analisar estrutura, forma, harmonia). Para Copland, ouvir de verdade exige intenção, reflexão e entrega.

Neste texto, focamos na tradição da música clássica ocidental, reconhecendo que discutir "o que é música" seria um tema gigantesco. O ponto central aqui é a importância de refletir sobre as diferentes formas de ouvir gravações, especialmente para estudantes de música. Isso envolve desde paradoxos filosóficos até questões práticas: equipamentos, mídias, colecionismo, streaming, etc.

O objetivo é simples e profundo: para ser um bom músico, é preciso antes de tudo ser um bom ouvinte. E isso, acredite, não é tão óbvio quanto parece.

2. O Paradoxo Leonhardt: Ouvir Música x Ouvir Gravações

O cravista Gustav Leonhardt, referência absoluta na música barroca, dizia: "Só existem duas formas de se fazer música: ensinando e tocando ao vivo num palco". Mesmo tendo gravado dezenas de discos, Leonhardt defendia que gravações não são música, mas sim documentos — importantes, mas incapazes de substituir a experiência ao vivo.

Músicos próximos a ele, como Nikolaus Harnoncourt (em "O Discurso dos Sons"), reforçam essa ideia: a música só existe plenamente no momento da execução, no espaço acústico, na interação com o público. Hopkinson Smith, alaudista renomado, também destaca a insubstituível experiência de ouvir instrumentos acústicos em salas sem amplificação.

Por isso, é fundamental para estudantes de música frequentar concertos, sentir o som direto do instrumento, perceber nuances impossíveis de captar em gravações. Quando ouvimos um disco de Segovia, ouvimos uma gravação — não o Segovia em si. Parece óbvio? Não é. O esvaziamento das salas de concerto é uma tragédia silenciosa para a música verdadeira.

3. Modernidade: A Cultura Visual do Século XXI

Vivemos numa era em que se vê mais do que se ouve. O Youtube, as playlists do Spotify e a avalanche de vídeos mudaram a relação do estudante com a música. Oliver Sacks, em "Alucinações Musicais", discute como o que vemos influencia profundamente o que ouvimos, alterando inclusive nosso julgamento estético.

Não há nada de errado em ver vídeos, mas há um problema quando isso substitui a escuta atenta de álbuns completos. Playlists fragmentam obras, especialmente na música clássica, onde a unidade do álbum é fundamental para a compreensão do repertório, da narrativa e da intenção do intérprete.

Ser um bom ouvinte de gravações exige desenvolver a habilidade de escolher o que ouvir, conhecer discos, intérpretes, técnicas de gravação, história das obras e dos selos. Isso não se aprende pulando de vídeo em vídeo ou de faixa em faixa.

4. Colecionismo de Discos e Streaming de Música

O streaming é prático e essencial — eu mesmo uso e recomendo. Mas acreditar que um estudante de música não precisa colecionar mídias físicas é um equívoco. O CD, por exemplo, oferece qualidade de áudio superior ao streaming padrão, além de encartes, textos, artes gráficas e informações que enriquecem a experiência e o aprendizado.

Estudos mostram que o contato com mídias físicas aprofunda o envolvimento do estudante com a obra, favorecendo a compreensão histórica, estética e técnica. Colecionar discos, sejam vinis, CDs ou mesmo arquivos digitais organizados e documentados, é um ato de respeito e culto à música. O streaming, por sua natureza efêmera, não oferece essa profundidade.

5. Equipamentos: A Qualidade Importa

Com tanta tecnologia disponível, muitos negligenciam a importância dos equipamentos. Ouvir gravações como estudante de música sem se preocupar com a qualidade do som é inadmissível. Bons fones de ouvido, caixas de som adequadas e, se possível, um sistema hi-fi fazem toda a diferença.

Nos anos 1970 e 1980, era comum arquitetos pensarem um espaço da casa dedicado à audição musical, com sistemas de som de qualidade. Hoje, a prioridade parece ser o sofá e a TV. Essa mudança cultural, acelerada pelo streaming e pelo uso de celulares, faz com que percamos muito mais do que imaginamos em termos de experiência musical.

Para quem quer começar: marcas como Sennheiser, Audio-Technica e AKG oferecem ótimos fones de ouvido. Canais como "Darko Audio" e sites como "What Hi-Fi?" defendem a cultura do áudio de qualidade e trazem dicas para todos os bolsos.

https://www.youtube.com/@DarkoAudio

https://www.youtube.com/@whathifi


6. Ser um Ouvinte de Música Virtuoso

Aqui está o ponto central: desenvolver habilidades como ouvinte está diretamente ligado ao desenvolvimento como instrumentista. Ser ouvinte de música clássica envolve:

    • Discernir períodos históricos, estilos e linhas interpretativas.

    • Conhecer a história da música, dos intérpretes, compositores, gravadoras e selos.

    • Perceber aspectos técnicos: escalas, modos, harmonias, ritmos, instrumentação, formas e estilos.

    • Refletir constantemente sobre os próprios hábitos de escuta, buscando sempre aprimorar a percepção e a compreensão musical.

Aaron Copland reforça que o ouvinte atento é capaz de perceber detalhes estruturais e expressivos que escapam ao ouvinte casual. Essa escuta ativa é o que transforma o estudante em músico completo.

7. Conclusão

A intenção deste texto é provocar reflexão: como estudantes e amantes da música, precisamos repensar nossos hábitos de escuta, a cultura das gravações, o papel da indústria e as armadilhas do marketing do streaming. Ouvir música — de verdade — é um ato de entrega, estudo e celebração. Que possamos cultivar, cada vez mais, o hábito de ouvir com atenção, respeito e paixão.

Bibliografia

    1. Copland, Aaron. Como Ouvir e Entender Música.

    2. Zuk, Patrick. “Gustav Leonhardt: A Life in Music.” The Musical Times, 2012.

    3. Harnoncourt, Nikolaus. O Discurso dos Sons.

    4. Sacks, Oliver. Alucinações Musicais.

    5. Day, Timothy. A Century of Recorded Music: Listening to Musical History.

    6. Katz, Mark. Capturing Sound: How Technology Has Changed Music.

    7. Milner, Greg. Perfecting Sound Forever: An Aural History of Recorded Music.

    8. Bartmanski, Dominik & Woodward, Ian. Vinyl: The Analogue Record in the Digital Age.

    9. Toole, Floyd E. Sound Reproduction: The Acoustics and Psychoacoustics of Loudspeakers and Rooms.

    10. Owsinski, Bobby. The Audiophile’s Project Sourcebook.

    11. Chion, Michel. A Música no Cinema: Ouvir, Ver, Sentir.

Sinta-se à vontade para comentar, discordar ou compartilhar suas experiências nos comentários. E, claro, continue ouvindo — de verdade!

Para concluir nosso post de hoje com música, aqui está um link para um álbum incrível da pianista Alice Sara Ott interpretando os "Études d'Exécution Transcendante" de Liszt. Afinal de contas, é muito importante ouvir outros instrumentos além do que você toca e estuda. Aproveite este disco fantástico.

https://music.youtube.com/playlist?list=OLAK5uy_l2TBYjZqM0omuP2-XSFhmrblUpVOFlIVQ&si=PhWPcciLMWIxWqr5


Bons estudos e até nosso próximo post.

:)

[]

João Paulo Pessoa.

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Nota: Esse texto foi produzido com auxílio do "Mecanismo de busca com inteligência artificial e processamento avançado de linguagem natural" denominado Perplexity

"A Perplexity AI é um mecanismo de busca com IA que entende e responde perguntas com respostas completas"

(https://www.perplexity.ai/)

sábado, 5 de julho de 2025

On Practicing - Ricardo Iznaola - Tradução por I.A.

 



20 anos do The Tao of the Guitar. Estamos aqui postando ideias sobre nossa arte desde 2005. Se tiver interesse, dê uma navegada por nossas postagens ... tem muita coisa interessante. 


Olá, leitores do The Tao of the Guitar

Nesta postagem, compartilho com vocês uma tradução para o português do livro "On Practising", do renomado professor e violonista Ricardo Iznaola. Esta tradução foi realizada com o auxílio de inteligência artificial, partindo da versão original em inglês, que está disponível gratuitamente para leitura no Internet Archive. (https://archive.org/details/RicardoIznaolaOnPractising)

Meu objetivo ao disponibilizar este material é puramente educacional: desejo tornar acessíveis as valiosas ideias do professor Iznaola a meus alunos e a todos os interessados que não são fluentes em inglês, já que até o momento não existe uma versão oficial em português deste livro.

Reforço que respeito integralmente os direitos autorais do autor. Esta tradução não possui qualquer finalidade comercial ou lucrativa, sendo compartilhada apenas para fins de estudo e divulgação do conhecimento. Espero que este conteúdo possa contribuir para o desenvolvimento musical de todos!

Boa leitura!

:)

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RICARDO IZNAOLA


SOBRE A PRÁTICA

Um manual para estudantes de performance em violão




ÍNDICE

Prefácio

I. FUNDAMENTOS DA BOA PRÁTICA

- Introdução

- Equilíbrio Interior

- Equilíbrio Exterior


II. FATORES NEGATIVOS QUE AFETAM A PRÁTICA

- Fatores Materiais ou Tangíveis

- Fatores Intangíveis ou Psicológicos


III. PROPÓSITO E MÉTODO DA BOA PRÁTICA


IV. HIGIENE DA PRÁTICA: O SISTEMA DE PRÁTICA

- Materiais

- Distribuição do Tempo entre os Materiais


V. ESSÊNCIA DA BOA PRÁTICA:

- RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS


VI. MEMÓRIA E LEITURA À VISTA:

- A QUESTÃO DA PRECISÃO NA PRÁTICA

E O PAPEL DA VISUALIZAÇÃO

Experimento Nº 1

Experimento Nº 2

Experimento Nº 3


VII. O COMBUSTÍVEL PARA A BOA PRÁTICA:

A INTERAÇÃO ENTRE MOTIVAÇÃO INTERNA E EXTERNA

- Motivação Interna: Disciplina

- Motivação Externa: Dever

- Sugestões para Leitura Complementar



Prefácio

Este breve manual responde a algumas das perguntas mais comuns sobre como praticar de forma eficaz. Também aborda algumas questões frequentemente deixadas sem explicação nas discussões sobre o tema.

O leitor curioso poderá querer explorar os escritos de outros autores, como Matthay, Bonpensiere, Havas, Galamian, Leimer e Stanislavski — todos eles influentes na formação da abordagem e filosofia de prática descritas neste livreto. Consulte também as "Sugestões para Leitura Complementar" ao final do manual.


Fundamentos da boa prática: 

1. INTRODUÇÃO

O que acontece no palco de um concerto é consequência direta do que acontece na sala de prática. Não há mágica nem mistério: uma boa prática resulta em boas performances. Uma prática inadequada produzirá performances ruins.

Para aprender a praticar de forma eficaz, o intérprete deve primeiro compreender a natureza do desafio peculiar que uma apresentação pública representa, bem como sua capacidade de enfrentá-lo não apenas com sucesso, mas também de desfrutar dessa experiência. Amar a música, e até mesmo gostar de tocar para si próprio, não garante o sucesso como intérprete. É necessário sentir a necessidade de compartilhar a música com os outros para se tornar um intérprete bem-sucedido.

A abordagem de prática descrita aqui está focada no objetivo final da apresentação pública bem-sucedida. Praticar bem, neste contexto, significa alcançar o objetivo de tocar bem em público.


2. EQUILÍBRIO INTERIOR

A base da boa prática é a conquista e a manutenção do equilíbrio interior. Equilíbrio interior pode ser definido como um estado mental/espiritual de alerta e prontidão para a atividade intelectual, sem tensão emocional. Caracteriza-se pela ausência de atitudes julgadoras sobre nós mesmos e por um senso aguçado de curiosidade.

O equilíbrio interior só pode ser alcançado quando as seguintes condições são atendidas:

a. Desapego emocional em relação ao material que está sendo praticado. Somos imparciais e, portanto, emocionalmente indiferentes às oscilações naturais que ocorrem durante a prática. Não nos condenamos pelos erros, embora os reconheçamos realisticamente. Comportamo-nos e sentimos como cientistas em um laboratório, observando de forma imparcial os resultados de nossos experimentos.

b. Observação objetiva do que estamos fazendo e dos resultados que estamos obtendo. Não escondemos as falhas. Não deixamos de ouvir atentamente tudo o que fazemos. Não deixamos de observar as sensações físicas produzidas em nosso mecanismo de execução pelo ato de tocar.

c. Facilidade na ação do que estamos fazendo. Desenvolvemos um senso apurado da quantidade de esforço necessária para realizar os movimentos de tocar e buscamos continuamente reduzi-lo. Não permitimos que a dificuldade, muito menos a fadiga ou a dor, faça parte de nossa abordagem ao instrumento. A facilidade na ação é resultado direto do desenvolvimento de um senso muscular refinado para o equilíbrio exterior (descrito posteriormente).

Quando nosso equilíbrio interior é perturbado, nossa prática não pode ser ótima. Frequentemente isso ocorre quando as coisas não vão bem e cometemos erros. Ficamos frustrados com nossa própria incompetência e começamos a nos condenar. A ansiedade começa a surgir. A tensão emocional se acumula e gera tensão física, o que torna tudo ainda mais difícil, e perdemos a facilidade na ação. Como consequência desse processo, também paramos de ouvir objetivamente, em parte porque tentamos, subconscientemente, nos proteger dos sentimentos dolorosos de inadequação e frustração.

Entramos assim em um círculo vicioso que só piora quanto mais persistimos nessa pseudo-prática. Gradualmente, também perdemos nossa motivação e o desejo de praticar.

Devemos aprender a identificar esse processo para que possamos interrompê-lo no início, antes que ele tome o controle de nossa prática.


3. EQUILÍBRIO EXTERIOR

O equivalente físico do equilíbrio interior é o equilíbrio exterior. Equilíbrio exterior pode ser definido como o estado de alerta e prontidão para a ação de um membro, sem tensão disfuncional. Caracteriza-se por sensações de leveza e facilidade. É uma atitude do membro situada aproximadamente no meio do caminho entre o colapso (relaxamento total) e a rigidez (tensão máxima).

Aprender a identificar e usar o equilíbrio como norma para a atividade física no instrumento é a chave para alcançar a facilidade na ação. Para isso, devemos distinguir entre sensações de peso e sensações de esforço.

Sensações de peso (queda) são produzidas quando permitimos que a gravidade atue sobre nossos membros. Sensações de esforço (elevação; superação de uma resistência) são produzidas quando vencemos a força da gravidade, ou alguma outra resistência, por meio da atividade muscular.

O membro em equilíbrio parece flutuar devido à oposição equilibrada entre a força da gravidade e o esforço muscular necessário apenas para superá-la. Deve ficar claro que o equilíbrio é uma norma, uma referência que nos ajuda a controlar a quantidade de esforço necessária para um determinado movimento.

É necessário um espectro completo de graus de esforço para tocar o instrumento adequadamente. Quando e quanto esforço usar em cada momento é o problema. Controlar o equilíbrio à vontade é a chave para essa questão.


II

FATORES NEGATIVOS QUE AFETAM A PRÁTICA

Existem diversos fatores que, em sua maior parte de forma subconsciente e involuntária, podem afetar a qualidade da nossa prática.

1. FATORES MATERIAIS OU TANGÍVEIS

a. Nível de dificuldade – a tendência de enfrentar material que é demasiado difícil para nosso nível atual de desenvolvimento. A dificuldade pode ser técnica, musical ou uma combinação de ambas.

b. Quantidade de material – a tendência de lidar com muitas coisas ao mesmo tempo. Isso se manifesta tanto no número excessivo de peças a serem estudadas quanto na forma como áreas específicas de cada peça são trabalhadas. A tendência é trabalhar fragmentos que são longos demais ao tratar de problemas específicos dentro da peça.

c. Falta de tempo – a tendência de apressar a abordagem da prática por falta de tempo. A sensação de que não temos tempo suficiente é sempre produzida pelo fator “c” acima e por certas expectativas implícitas.

d. A inércia do fluxo rítmico – a tendência de tocar uma peça do começo ao fim, causada pela inclinação natural de seguir o “groove” rítmico da peça. Quando tocamos assim, não estamos praticando, mas sim executando.

Lembre-se destes princípios básicos:

- Se estamos executando, o fluxo rítmico não deve ser interrompido, independentemente dos incidentes (erros) que ocorram. Uma execução é uma declaração completa e ininterrupta.

- Se estamos praticando, não continuamos tocando a peça até que tenhamos alcançado os objetivos específicos predefinidos para aquele fragmento em particular.

- Praticar é, fundamentalmente, um processo orientado a objetivos e focado em detalhes, de correção e experimentação para melhorar o que foi feito anteriormente. Embora também se pratique a execução, como veremos mais adiante, esta é a etapa culminante da prática e nunca pode substituir o trabalho preliminar detalhado, que é o verdadeiro núcleo da boa prática.


e. Tempo – intimamente ligado ao item “d”. A tendência de praticar no tempo de execução prematuramente, antes que nosso mecanismo esteja realmente pronto para isso. O tempo é um dos últimos fatores a ser incorporado à prática.

Uma boa regra prática para as etapas de aprendizagem de uma nova peça (aplica-se igualmente a estudos, exercícios, solos, partes de conjunto etc.) é:

- Prática pré-rítmica – preocupada apenas em identificar e alcançar as notas corretas por meio de movimentos fáceis e fluidos. Sem ritmo, sem compasso, sem tempo.

- Prática rítmica pré-métrica – identificação de padrões, “gestos”, grupos rítmicos e trabalho em suas conexões sem continuidade métrica rigorosa. Importância máxima para alcançar a facilidade na ação.

- Prática métrica pré-tempo (manipulação do tempo) – tocar a peça (ou grandes trechos dela) mantendo a sensação métrica, mas alterando os tempos conforme necessário para garantir a execução perfeita das passagens mais difíceis. Este é o primeiro passo para a integração. A ideia é tocar sem parar e manipular o tempo para que tudo seja executado sem erros e sem tensão excessiva.

- Prática métrica lenta – tocar no tempo, mas em um andamento lento e constante. A facilidade física é sempre prioridade. Alternância com as etapas anteriores para aprimoramento dos detalhes.

- Prática no tempo – o objetivo final. Se aplicada à peça como um todo, é idêntica à prática de execução (descrita mais adiante). Também deve ser usada para prática fragmentada, focada em pontos específicos (ver Capítulo V).


Tenha em mente dois pontos:

- Leitura à primeira vista não é prática. Os objetivos e processos da boa leitura à primeira vista são certamente complementares e indispensáveis, mas estão fora do âmbito da prática conforme discutida aqui. Trataremos essa questão com mais detalhes posteriormente.

- A chamada “prática lenta” é apenas uma das etapas da prática adequada. Como nosso plano sugere, existem etapas preliminares que precisam ser assimiladas antes que a prática lenta se torne eficaz.


Além disso, lembre-se de que, não importa o quão bem conheçamos uma peça, todas as abordagens acima serão úteis para manter nosso mecanismo funcionando com facilidade eficaz. Não hesite em empregar todas essas estratégias, mesmo com material que você conhece muito bem. O retorno será enorme.


2. FATORES INTANGÍVEIS OU PSICOLÓGICOS

a. Expectativas – todos nós temos expectativas explícitas e implícitas, tanto de curto quanto de longo prazo, sobre o que deveríamos fazer, alcançar ou realizar. Algumas dessas expectativas são saudáveis e necessárias para manter nossa motivação viva. Outras, porém, devem ser compreendidas como negativas e prejudiciais ao nosso desenvolvimento orgânico como artistas intérpretes.

De modo geral, o problema começa quando temos uma visão não objetiva de nossas próprias capacidades, o que nos faz confundir o que desejamos ou queremos com a realidade.

Exemplos típicos de expectativas negativas são:

“Já estou tocando há 3 anos. Deveria ser capaz de tocar a, b ou c.”

“Estarei pronto para tocar x, y ou z no próximo mês.”

Devemos entender que o processo de aprender a tocar bem um instrumento (em geral, o treinamento de qualquer habilidade) é essencialmente um processo de crescimento que varia individualmente.

Não podemos acelerar o crescimento de uma árvore puxando seus galhos.

O realismo honesto é uma virtude fundamental para todos os intérpretes.

Respeite seu ritmo individual de crescimento.

Não permita que suas expectativas (falsas) [o futuro] interrompam o desenrolar natural da sua prática [o presente].

Aborde sua prática seguindo o conselho do grande diretor teatral russo Stanislavski: “hoje, aqui, agora”.


b. Memórias – o lado oposto da moeda. Todos carregamos o peso de nossas experiências passadas, boas e ruins. As boas servem como combustível para conquistas futuras. As ruins devem ficar do lado de fora da porta da nossa sala de prática.

Não permita que suas memórias (negativas) [o passado] interrompam o desenrolar natural da sua prática [o presente].

“Hoje, aqui, agora.”


c. Comparações – as conquistas dos outros podem ser uma influência positiva e inspiradora. Mais frequentemente, tornam-se um obstáculo ao nosso autodesenvolvimento se fizermos julgamentos de valor baseados em comparações com os outros.

A tendência a nos compararmos com os outros é natural em todos nós. Baseia-se naquele componente atlético da personalidade humana que nos torna competitivos.

Por causa da natureza física da performance, é fácil cair na armadilha de ver a habilidade técnica como o objetivo final e a medida de nossas conquistas.

Uma das chaves para a prática bem-sucedida é aprender a controlar esses sentimentos sem negá-los. Precisamos, sim, de um grau de habilidade técnica para nos tornarmos intérpretes bem-sucedidos. O público espera agilidade, volume e velocidade na execução musical.

O público não vai a concertos para comparar apresentações anteriores com a atual. Sob muitos aspectos, um concerto se assemelha a muitos aspectos de um relacionamento amoroso: é a atratividade única da sua mensagem artística e personalidade que fará você ter sucesso. O público, nesse contexto, é “promíscuo”; tem uma capacidade ilimitada de “se apaixonar” por todas as possíveis mensagens e personalidades artísticas únicas.

O velho ditado ainda vale: você está competindo apenas consigo mesmo.

Devemos alterar nosso lema de “hoje, aqui, agora” para:

“Eu, hoje, aqui, agora.”


IIΙ

PROPÓSITO E MÉTODO DA BOA PRÁTICA

O propósito da boa prática é alcançar objetivos específicos, focando na melhoria contínua da qualidade e da facilidade de execução.

As áreas em que esse processo ocorre são: técnica, musicalidade e performance.

O grande pedagogo do violino Galamian propôs a distribuição metódica do tempo de prática em três períodos:

a. Tempo de construção – no qual são abordadas questões puramente técnicas (detalhes técnicos)

b. Tempo interpretativo – no qual os elementos musicais de expressão são experimentados e incorporados à peça (detalhes musicais)

c. Tempo de execução – no qual ocorre a integração da técnica e da musicalidade, tocando peças ou seções completas, prestando atenção às circunstâncias imaginadas de uma apresentação real e lidando com problemas de etiqueta de concerto, nervosismo de palco, etc.


Tipicamente, os períodos “a” e “b” lidam com a prática detalhada, fragmentada e seccional, enquanto o “c” trabalha a peça como um todo, como um evento esteticamente relevante, que não deve ser interrompido ou parado.

Claro que nem todas as sessões de prática precisam ser rigorosamente divididas dessa forma. Em diferentes estágios de desenvolvimento, mais ou menos ênfase será dada a uma ou outra etapa. Entretanto, deve-se estar sempre conscientemente ciente do tipo de prática que está em vigor. Não se permita uma prática aleatória, cega e falsa, tomando-a por prática verdadeira.

Quando alguém quiser apenas “brincar” com o instrumento, deve fazê-lo, sem dúvida. Esteja ciente, porém, de que isso não é prática.



IV

HIGIENE DA PRÁTICA: O SISTEMA DE PRÁTICA


1. MATERIAIS

A boa prática deve incorporar uma combinação equilibrada de materiais, que incluirá:

a. Exercícios – cujo propósito é treinar as capacidades ginásticas do mecanismo de execução (fundação ou técnica básica).

b. Estudos – cujo propósito é apresentar procedimentos técnicos específicos dentro de um contexto musical de extensão moderada (técnica aplicada).

c. Repertório – que é o objetivo artístico e onde ocorre a verdadeira integração entre arte e técnica, técnica e musicalidade (técnica expressiva).

A crença de que a técnica pode ser adquirida apenas por meio do trabalho no repertório é um equívoco comum. Como a boa técnica depende de um mecanismo de execução fisicamente apto, e como as obras concebidas artisticamente não têm um propósito técnico formativo predefinido, o equipamento técnico construído apenas a partir do estudo do repertório sempre terá muitas áreas frágeis. Seu componente de aptidão física não será plenamente treinado.

Não se pode treinar o corpo para jogar futebol profissional apenas jogando. Ao fazer isso, corre-se o risco de lesão ou, no melhor dos casos, de jogar de forma medíocre.

O mesmo se aplica, pelas mesmas razões, à performance musical.

Uma vez alcançado um estágio avançado de desenvolvimento técnico, a manutenção técnica pode ser mantida isolando trechos do repertório e selecionando alguns estudos que consideremos particularmente úteis, etc. Essa abordagem, no entanto, só é produtiva quando as etapas formativas do treinamento técnico já foram bem assimiladas.



2. DISTRIBUIÇÃO DO TEMPO ENTRE OS MATERIAIS

Tradicionalmente, a prática tem sido realizada e seus resultados avaliados diariamente. Aqui propõe-se que a unidade de tempo para a prática seja considerada a semana: distribuir os materiais a serem praticados (exercícios, estudos, repertório) ao longo da semana, de modo que, ao final dela, tudo tenha sido trabalhado.

Dessa forma, fica mais fácil controlar a quantidade de tempo dedicada a áreas específicas, o que precisa de mais ou menos trabalho, evitando ao mesmo tempo a sensação incômoda de que não há tempo suficiente para trabalhar tudo (conforme discutido na seção anterior sobre fatores negativos).

A semana deve consistir em apenas seis dias de prática, com um sétimo dia de descanso (embora você possa tocar o quanto quiser nesse dia!).

Para estudantes profissionais em nível universitário, nenhuma abordagem de prática produzirá resultados se realizada por menos de uma média de 2 a 3 horas por dia. Por outro lado, praticar mais de 5 a 6 horas começará a produzir retornos decrescentes.

Idealmente, a prática diária deve ser dividida em três sessões, com tempo suficiente de descanso entre elas (certamente não menos que intervalos de 10 a 15 minutos). Se alguma sessão ultrapassar 60 minutos, devem ser feitos intervalos adicionais, porém mais breves.

Uma abordagem inteligente, flexível e consistente na alocação do tempo para a prática evitará muitos problemas possíveis relacionados a lesões do mecanismo físico, sintomas de estresse, deterioração da técnica, condição geral de saúde, falta de motivação, etc.

Nada de grave acontece se alguém deixar de praticar por alguns dias. Nos estágios iniciais de desenvolvimento, pode-se notar uma perda momentânea de habilidade, rapidamente corrigida assim que os tempos adequados de prática forem retomados.

Quanto à prática técnica, como exercícios e estudos, é prudente alternar os procedimentos técnicos usados, para que alguns elementos físicos descansem e se recuperem, enquanto outros são trabalhados.

Em conclusão, lembre-se de que ter seis dias por semana como unidade de tempo para a prática significa que nem tudo precisa ser trabalhado todos os dias!


V


ESSÊNCIA DA BOA PRÁTICA: RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS

O propósito da boa prática foi definido no Capítulo III como “alcançar objetivos específicos enquanto se foca na melhoria contínua da qualidade e da facilidade de execução”.

Esses objetivos específicos podem ser tão detalhados e pequenos quanto uma única mudança de casa em um traste, ou tão gerais e amplos quanto decidir como abordar dinamicamente o primeiro tema na seção de recapitulação de um movimento sonata-allegro.

Em todos os casos, a abordagem é a mesma: considerar o objetivo a ser alcançado como um problema particular apresentado pela peça naquele momento específico.

Praticar, então, torna-se um método de resolução de problemas. Nossa abordagem para a resolução de problemas, neste contexto, possui três etapas:

a. Identificação do fato de que, a) existe um problema, b) qual é ele, c) onde começa e termina.

É fácil cair na armadilha de sobrepor problemas (ou seja, considerar como um problema o que na realidade é uma série de problemas diferentes). Seja o mais preciso e detalhado possível ao determinar os limites da área problemática.

b. Compreensão das causas exatas de um problema. Esta é uma etapa difícil para a maioria dos iniciantes, pois ainda não adquiriram experiência ou conhecimento suficiente do instrumento para identificar especificamente o que gera o problema.

A compreensão geralmente traz consigo uma solução apropriada para o problema, mas também pode exigir experimentação com várias opções antes que a melhor solução seja encontrada.

Grande parte do que os professores fazem em estúdio é ajudar o aluno a identificar e compreender os problemas apresentados por uma determinada peça.

c. Assimilação – a palavra assimilação significa “tornar-se um com”, ser absorvido pela natureza de algo.

No nosso contexto, isso significa o processo pelo qual, tendo encontrado uma solução válida para um problema, nos empenhamos em aprimorá-la por meio da repetição guiada. Ao fazer isso, incorporamos a solução a nós mesmos, garantindo assim que, durante a performance, tenhamos uma boa garantia de sucesso ao lidar com aquela passagem específica.

Esta última etapa é o que mais frequentemente se entende por prática. O problema é que a assimilação por repetição ocorre independentemente de estarmos fazendo algo certo ou errado. Se o processo anterior de identificação e compreensão não foi realizado com o devido cuidado, e simplesmente nos entregamos àquilo que pode ser chamado de “repetição cega”, os resultados podem ser piores do que se não tivéssemos praticado nada!

Mantenha a partitura sempre à mão durante a prática, mesmo quando o material estiver memorizado. A conexão entre o código escrito da partitura, os eventos sonoros e a ação física de tocar é de fundamental importância para desenvolver tanto a segurança técnica quanto a da memória, como veremos no Capítulo VI.

Uma forma muito eficaz de resolver problemas técnicos rápida e corretamente é a técnica do spotting, na qual as três etapas de identificação, compreensão e assimilação são claramente diferenciadas e controladas.

a. Você ou o professor identifica um problema, marcando-o na partitura com um colchete horizontal que começa um pouco antes e termina um pouco depois do ponto específico do problema.

Escreva sinais de repetição nas duas extremidades do colchete:


(no livro: desenho da barra de repetição)




b. Você e/ou seu professor então estudam as causas do problema até que uma solução válida seja encontrada. Esta é a segunda etapa, a compreensão do problema.

c. Uma vez que o problema foi compreendido e sua solução encontrada, comece a praticar repetidamente o conteúdo do colchete como um exercício ininterrupto. Devem ser usados diferentes tempos. Esta última etapa (assimilação) estará completa quando hábitos corretos forem formados na forma de lidar com o ponto específico.

Dependendo do nível de dificuldade do problema, a etapa de assimilação levará mais ou menos tempo. Tipicamente, encontrar uma boa solução para um ponto específico permitirá momentaneamente que o músico o toque bem. Nesse momento ocorre a compreensão (ou o que pode ser chamado de reação “click”), e a terceira etapa (assimilação por repetição guiada) pode começar.

Uma vez que o problema esteja a caminho de ser resolvido, coloque-o de volta no contexto, adicionando vários compassos antes e depois do ponto específico. Tanto na definição do ponto quanto quando ele é recolocado no contexto, deve-se cuidar para criar fragmentos que façam sentido rítmico.

Ao fazer spotting, certifique-se de não começar a trabalhar o conteúdo do colchete (repetição) até ter uma ideia precisa de qual deve ser a abordagem correta para o problema. Lembre-se de que o processo de assimilação – que é, essencialmente, o condicionamento do sistema nervoso autônomo e espinhal – trabalhará contra você se sua abordagem estiver equivocada. Se você praticar erros, aprenderá e executará erros.

Deve-se enfatizar que as etapas de identificação e compreensão são as mais difíceis para músicos menos experientes dominarem. O papel do professor, nesse sentido, é indispensável para assegurar uma definição correta da extensão exata, das causas e da solução de cada problema particular. Como mencionado antes, a tendência é considerar como um único problema o que, na verdade, é uma série de problemas diferentes.

Tenha em mente que qualquer coisa que dê errado, pareça errada ou seja difícil, não importa o quão pequena pareça, deve ser tratada como um problema isolado e melhorada ou corrigida por meio da prática adequada.


VI

SOBRE A PRÁTICA


MEMÓRIA E LEITURA À VISTA:

A QUESTÃO DA PRECISÃO NA PRÁTICA E O PAPEL DA VISUALIZAÇÃO

Toda a discussão anterior trata, na verdade, da questão fundamental de alcançar precisão perfeita em nossa prática. Só então teremos uma base sólida para construir uma performance verdadeiramente artística.

Existem oito áreas nas quais devemos ser precisos antes que uma boa performance possa começar:

a. Acertar as notas corretas (interpretar a notação de altura).

b. Acertar a duração correta (interpretar a notação do valor das notas).

c. Acertar a acentuação correta (interpretar a notação rítmica/métrica).

d. Acertar as velocidades e níveis de intensidade corretos (interpretar as indicações de tempo e expressão).

e. Acertar a digitação correta (interpretar a notação instrumental/técnica).

f. Acertar a frase correta (interpretar a estrutura).

g. Acertar as conexões corretas entre as diferentes seções da peça (interpretar a forma).

h. Acertar a sensação emocional e histórica correta da peça (interpretar caráter e estilo).

Dependendo do tipo de material praticado, algumas dessas áreas tornam-se mais relevantes que outras. Também o nível relativo de importância mudará conforme diferentes estágios de desenvolvimento forem alcançados. As três últimas áreas entram em cena em um estágio relativamente avançado.

A maioria dos problemas que afetam muitos estudantes de performance musical são apenas imprecisões em uma ou mais das áreas indicadas de 'a' a 'e', ou seja, erros na leitura/memorização do material.

Leitura à vista e memorização são as duas faces da mesma moeda. A habilidade de ler e lembrar com precisão as alturas, valores das notas, ritmos, dinâmicas (nuances de intensidade), agógica (nuances de duração e andamento) e digitação de uma peça musical é o objetivo principal do qual dependem todos os outros objetivos técnicos e musicais.

Muitos intérpretes acreditam erroneamente que são maus leitores ou têm má memória porque não descobriram os princípios relativamente simples que guiam o desenvolvimento natural e saudável dessas habilidades.

O seguinte pode ajudar:

a. Se for fácil o suficiente para você, você pode visualizá-lo.

b. Se você pode visualizá-lo, você pode ler à vista.

c. Se você pode visualizá-lo sem o instrumento e sem a partitura, você pode lembrar.


Visualizar, neste contexto, significa tanto ver suas mãos nos movimentos de tocar quanto ouvir a música internamente, com o olho e ouvido da mente.

d. Se for muito difícil, você não vai ler à vista bem.


O problema com a leitura à vista é que a maioria dos músicos tenta material além de suas capacidades atuais. (Nota do autor: o último ponto (d) deve ser tomado com cautela — uma precaução geral, não uma regra rígida. Esticar suas capacidades, quando feito em um espírito saudável de “e se”, é um grande estímulo motivacional.)

Os seguintes experimentos darão oportunidades para desenvolver essas habilidades enquanto você se diverte com desafios.


EXPERIMENTO Nº 1

a. Selecione uma peça ou fragmento curto: no máximo 2 pautas, no máximo 8 compassos, todos em primeira ou segunda posição.

b. As alturas não devem ultrapassar a primeira linha suplementar em qualquer direção.

c. Os valores das notas não devem ser menores que colcheias.

d. O compasso deve ser simples binário.

e. A textura deve ser principalmente em duas vozes, com acordes de três vozes ocasionais.

f. Não mais que um sustenido ou bemol na armadura.

g. Andamento moderado.

h. As marcações de expressão (dinâmicas, agógica) devem ser poucas. Certifique-se de saber o que cada termo significa.

i. As indicações de digitação devem ser poucas e discretas.


Passo 1 – Leia o fragmento sem o instrumento, tentando visualizar mentalmente onde sua mão esquerda está a todo momento. Não se preocupe com valores, ritmo, compasso ou andamento nesse momento. Apenas entenda e visualize o que a mão esquerda deve fazer.


Passo 2 – Adicione a visualização da atividade da mão direita. Se os dedos da mão direita não estiverem indicados, marque-os antes de começar. Novamente, concentre-se apenas em ver (na mente) as mãos em ação para cada movimento, desconsiderando ritmo, andamento etc.

NOTA: Se a visualização da mão direita for muito difícil, pule esta etapa.


Passo 3 – Comece a sentir o fluxo rítmico da peça. Apenas cante, em monotonia, os valores das notas enquanto marca o tempo com a mão direita. Faça isso muito devagar. Não visualize a atividade das mãos durante esta etapa.


Passo 4 – Tente “ver” as mãos em ação enquanto marca o tempo e canta os valores das notas em monotonia. Provavelmente será necessário subdividir o fragmento em pedaços ainda menores para fazer isso corretamente. Faça isso muito devagar. Não pare até conseguir “tocar” mentalmente o fragmento inteiro, visualizando suas mãos no ato de tocar.


Passo 5 – DESCANSE! O que você fez é exaustivo!


Passo 6 – Pegue seu instrumento e prepare-se para tocar. Agora você tentará ler à vista todo o fragmento do começo ao fim, sem parar. Provavelmente errará muitas coisas: notas, valores, ritmos e, claro, digitação e marcações de expressão. Não se preocupe. Seu único objetivo é tocar até o fim, tentando manter a continuidade rítmica com o mínimo de interrupções. Comece a tocar.


Passo 7 – Faça uma pausa e tente novamente. Controle seu andamento (não acelere).


Passo 8 – Você pode querer tentar mais uma vez, se as tentativas anteriores foram hesitantes. Se estiver satisfeito, prossiga para o passo IX.


Passo 9 – Tente o Passo 4 novamente – visualização sem o instrumento – mas desta vez seu objetivo é ouvir a música “internamente”, em todos os detalhes. Muitas coisas ficarão “borradas”. Não se preocupe. Repita algumas vezes e descanse.


O processo descrito pode ser aplicado a todos os níveis de habilidade de leitura e execução. O exemplo dado supõe que o músico seja relativamente iniciante com alguma habilidade de leitura. Se você ainda está encontrando as notas no instrumento, tente o processo com pequenos fragmentos melódicos, usando principalmente cordas soltas (com algumas notas em primeira posição), ritmos muito simples e valores longos (meia e semínima).


O ponto é que você deve começar a internalizar música e técnica o quanto antes.


À medida que sua experiência e conhecimento musical crescem e amadurecem, o processo será auxiliado por habilidades analíticas que se desenvolvem por último. Essas reforçarão os outros três elementos envolvidos: visual, auditivo e tátil/cinestésico.


EXPERIMENTO Nº 2

Um equívoco comum é acreditar que se toca de memória apenas quando se toca sem a partitura. Pelo contrário, até a leitura à vista depende da memória para ser bem-sucedida. Todo bom leitor à vista confirmará que está sempre lendo à frente do ponto que está sendo tocado, até frases inteiras à frente. O seguinte experimento ajudará a desenvolver suas habilidades de memória de curto prazo por meio da visualização.


Passo 1 – Usando o mesmo fragmento do Experimento Nº 1, visualize apenas os dois primeiros compassos, sem o instrumento.

Passo 2 – Pegue o instrumento e prepare-se para tocar. Feche os olhos e toque esses dois compassos.

Passo 3 – Abra os olhos e toque os mesmos compassos, olhando apenas para a mão esquerda.

Passo 4 – Faça o mesmo, olhando para a mão direita.

Passo 5 – Repita o processo para o restante do fragmento, trabalhando dois compassos por vez.

Passo 6 – Depois de passar por todo o fragmento (8 compassos) dessa forma, comece a ler do início novamente, mas tente olhar um ou dois compassos à frente do que está tocando. Faça isso várias vezes.

Passo 7 – Toque todo o fragmento de memória. Não dê uma espiada! (Não se preocupe se não tiver sucesso total. Com o tempo, você conseguirá.)

Obviamente, esses procedimentos não são fáceis e levarão tempo para serem dominados.

Não misture sua prática regular com a prática de visualização.

Pratique leitura à vista/memorização independentemente da sua prática regular, com material novo que esteja bem abaixo do seu verdadeiro nível técnico/musical.

Você pode querer aplicar algumas das técnicas de visualização a material novo que está começando a estudar, material que esteja em equilíbrio com suas reais habilidades como músico. As chances são de que, a menos que você já seja um visualizador proficiente, não terá muito sucesso devido à complexidade técnica/musical desse material.

Uma vez que você comece a dedicar regularmente algum tempo à prática da visualização, notará rapidamente que o nível geral de precisão na obtenção de informações da partitura melhorará significativamente e levará menos tempo.

O sétimo dia recomendado de descanso da prática regular é uma oportunidade ideal para dedicar algum tempo (cerca de uma hora) à visualização.

Não subestime o poder da visualização. Alguns pedagogos ilustres (Bonpensiere, Leimer) acreditavam que, com o treinamento adequado, a capacidade de visualizar poderia eventualmente se tornar tão forte e vívida a ponto de permitir a eliminação parcial ou total da prática física. Alguns intérpretes lendários do passado recente alcançaram resultados incríveis por meio da visualização, por exemplo, Gieseking, Kreisler, Cortot ou, mais recentemente, Rubinstein e Arrau.

Esses indivíduos foram capazes de aprender obras longas e complexas durante uma longa viagem de trem ou transatlântica, executando-as de memória ao chegar, sem nunca terem tocado a peça no instrumento.


Tudo é possível.


EXPERIMENTO Nº 3

Depois de trabalhar por algum tempo nos experimentos 1 e 2, tente este desafio mais avançado.

Passo 1 – Selecione um fragmento muito fácil e curto (4 a 8 compassos). Visualize, sem o instrumento, conforme descrito nos passos 1 a 4 do experimento 1.

Passo 2 – Trabalhe os dois primeiros compassos, ainda sem o instrumento, tentando ouvir a música internamente com atenção. Não pare até conseguir uma visualização clara e precisa desses dois compassos. Descreva em voz alta o conteúdo desses compassos. Cante a melodia em voz alta.

Passo 3 – Pegue uma folha pautada e escreva, de memória, esses dois compassos. Tente ser preciso na reprodução.

Passo 4 – Repita o processo para todo o fragmento, trabalhando dois compassos por vez.

Passo 5 – Depois de ter escrito todo o fragmento de memória, sem nunca ter tocado o instrumento, pegue o instrumento e prepare-se para tocar. Visualize o fragmento novamente enquanto lê seu manuscrito (sem tocar).

Passo 6 – Com os olhos fechados, visualize o fragmento mais uma vez.

Passo 7 – Guarde a partitura e toque o fragmento do começo ao fim de memória.

As primeiras tentativas provavelmente não serão muito bem-sucedidas. Isso é natural. Descanse um pouco e tente novamente. Eventualmente, você terá sucesso.

Assim como na prática física, suas habilidades de visualização se desenvolverão gradualmente. Não se irrite consigo mesmo. Tenha em mente o que aprendeu sobre o Equilíbrio Interior, sua importância fundamental na boa prática e como alcançá-lo e mantê-lo.


VII

O COMBUSTÍVEL PARA A BOA PRÁTICA:

A INTERAÇÃO ENTRE MOTIVAÇÃO INTERNA E EXTERNA


1. MOTIVAÇÃO INTERNA: DISCIPLINA

Nenhuma abordagem de prática pode ser eficaz se não houver trabalho regular e consistente. Antes de tudo, é preciso querer praticar de forma regular e constante. Portanto, como manter a motivação para a prática torna-se uma questão fundamental.

O que tradicionalmente chamamos de disciplina deve ser entendido como motivação interna, isto é, a responsabilidade assumida de agir de maneira predeterminada para alcançar objetivos que são importantes para nós espiritualmente como indivíduos.

Disciplina, entendida dessa forma, é consequência do desejo de agir de forma orientada a objetivos, impulsionada por circunstâncias internas (necessidades não materiais ou espirituais). Essas necessidades têm a ver com valores importantes, como amor, ambição, autoestima, etc.

Ter um impulso, ou ser impulsionado, implica uma atitude que resulta em disciplina. Pessoas com impulso são, por definição, disciplinadas em relação àquilo que as impulsiona. Esta é a forma fundamental de motivação e aquela que, eventualmente, levará você a alcançar seu maior potencial.

Não se pode aprender a adquirir impulso. Ele está presente como o combustível natural que acende a combustão interna do que chamamos de vocação ou chamado. É o entheos (deus interior) dos antigos gregos — de onde deriva a palavra entusiasmo.

Mesmo quando se tem um forte senso de impulso, um chamado vocacional indiscutível, a motivação interna (disciplina) pode falhar ocasionalmente. Podemos não estar com vontade de praticar. Estamos cansados, ou muito envolvidos com outras coisas — como trabalho acadêmico ou um relacionamento amoroso empolgante — ou nos sentimos “para baixo”, longe de casa, desempregados e sem dinheiro.

Nada de negativo acontecerá se interrompermos nossa rotina de prática por alguns dias. Também devemos nos cuidar emocionalmente, e às vezes isso requer uma retirada momentânea para curar nossas feridas. Mas o perigo de cair em uma rotina negativa sempre existe. Devemos aprender a combater a preguiça antes que ela tome o controle sobre nós.


2. MOTIVAÇÃO EXTERNA: DEVER

Na performance artística, a diferença mais importante entre o profissional e o amador está na atitude em relação à prática.

Para o profissional, praticar é a atividade mais importante; o amador descansa de outras atividades para praticar. Para o profissional, praticar é o meio para o objetivo maior da apresentação pública bem-sucedida; para o amador, muitas vezes, praticar é um fim em si mesmo, pois não há apresentações públicas. Para o profissional, a performance (e, portanto, a prática) é o trabalho; para o amador, é um hobby.

Adquirir a atitude profissional em relação à prática é uma questão-chave no desenvolvimento do intérprete. Isso implica aceitar os deveres inerentes à profissão.

O senso de dever difere da disciplina porque é motivado por circunstâncias externas e sociais: respeito pela autoridade de alguém, medo da avaliação crítica negativa, medo do fracasso público, ou consciência dos padrões geralmente esperados pela comunidade profissional, etc.

O estudante de performance tem o dever de obedecer às instruções do professor, preparar-se bem para as aulas, comparecer a aulas, ensaios, fazer lição de casa etc. O intérprete profissional tem o dever de estar pronto para tocar o concerto na data marcada; conhecer sua parte para os ensaios de conjunto; e o dever de atingir os padrões de qualidade exigidos pela profissão em geral.

Esse senso de dever nunca será uma força motivadora primária, mas é de grande importância para ajudar o estudante a iniciar uma atitude positiva em relação à prática quando, por qualquer motivo, a motivação interna estiver ausente.

Caracteristicamente, quando alguém não está com vontade de praticar, mas mesmo assim começa a fazê-lo porque deve, o desejo é gradualmente despertado e não demora para que a motivação genuína para praticar surja. Por meio do senso de dever, podemos, assim, recuperar a disciplina.

É essa interação entre nossa motivação externa e interna que nos manterá vivos, como praticantes da arte, durante toda a nossa carreira profissional.


SUGESTÕES PARA LEITURA COMPLEMENTAR

A seguir, uma lista breve de livros que podem ser úteis ao leitor interessado:

- Bonpensiere, Luigi: New Pathways to Piano Technique – Um estudo das relações entre mente e corpo com referência especial ao piano (Nova York: Philosophical Library, 1953)

- Galamian, Ivan: Principles of Violin: Playing and Teaching (Englewood Cliffs, N.J.: Prentice-Hall, 1962)

- Havas, Kato: A New Approach to Violin Playing (Londres: Bosworth, 1961)

- Havas, Kato: Stage Fright: Its Causes and Cures (Londres: Bosworth, c. 1973)

- Leimer, Karl (com Walter Gieseking): Piano Technique (Nova York: Dover, 1972)

- Matthay, Tobias: Musical Interpretation: Its Laws and Principles, and Their Application in Teaching and Performing (Londres: Joseph Williams, c. 1913)

- Matthay, Tobias: On Memorizing (Londres: Oxford University Press, c. 1922)

- Matthay, Tobias: The Visible and Invisible in Pianoforte Technique (Londres: Oxford University Press, 1932)

- Moore, Sonia: The Stanislavski System (Nova York: Penguin Books, 1984)


SOBRE O AUTOR

Uma das personalidades mais atraentes do mundo do violão, Ricardo Iznaola desenvolve uma carreira musical brilhante e multifacetada. Senhor Iznaola, cidadão americano, nasceu em Havana, Cuba, em 1949. Suas atividades como intérprete, compositor, pedagogo, palestrante e escritor têm sido distinguidas pelo reconhecimento crítico internacional e pela admiração tanto de colegas quanto do público.

Ele foi descrito como “um dos músicos, professores e pensadores mais influentes da cena do violão atualmente” (Soundboard Magazine) e um “músico expressivo, cheio de personalidade, persuasivo e seguro, com talento e técnica” (Los Angeles Times).

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Nota complementar sobre esta tradução

Esta é uma tradução livre do livro On Practicing de Ricardo Iznaola, realizada com o auxílio de inteligência artificial, em junho de 2025. O objetivo é facilitar o acesso ao conteúdo para falantes e leitores da língua portuguesa que não têm domínio do inglês. Ressalto que não há qualquer intuito comercial nesta tradução, que é compartilhada exclusivamente para fins educacionais e de divulgação cultural. Como disse no início do post, o texto original em inglês está disponível gratuitamente para leitura e download no site Internet Archive (https://archive.org/details/RicardoIznaolaOnPractising).

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E para finalizar nosso post de hoje deixo aqui um link para um dos interessantíssimos trabalhos musicais do professor Ricardo Iznaola. Vale muito a pena ouvir com atenção seu álbum The Icarus Collection:

https://music.youtube.com/playlist?list=OLAK5uy_mbghT0_3kFOdgTQcoSqWJwaLfRhVyu_ko&si=NSfl-NKxAnNfQJoZ



E se tiver interesse em comprar o livro original em inglês do professor Iznaola, na data em que estou fazendo essa postagem aqui no blog (05/07/2025), tá disponível pra importar na Amazon. 

Aqui está o link: https://www.amazon.com.br/Ricardo-Iznaola-Practicing-Students-Performance/dp/0786658738/ref=sr_1_1?__mk_pt_BR=%C3%85M%C3%85%C5%BD%C3%95%C3%91&crid=60R3UBZHJ99U&dib=eyJ2IjoiMSJ9.hsMfGWYDlexXgC8CObGGKlq4JVgENTbUs2aTDWvvZ5omLfAyft3Ph-TjwKG6HL7zdpIMhvRUdqyBgNGRUN3LVrC8A99KRkmi9ksFKer3MEmv09_yXhPI_bkid2cTDizBtBNhfizRs7XCdvZTTl-oc4aDwBrhBm5K8fWF5vQW7cqJ5y1VFOHvsOJ0vorqmckj9LNj1n9uzEXlYxShkcoGAlDUJNXJf1R1q3eOqHavecbgkm-CJvtI9DwrHC6WYkUR.lh9zbv5_9R0Fv5LVZRqecBpeX8yPBeg28kMkTAFy23U&dib_tag=se&keywords=ricardo+iznaola&qid=1751722668&sprefix=ricardo+iznaola%2Caps%2C206&sr=8-1&ufe=app_do%3Aamzn1.fos.6d798eae-cadf-45de-946a-f477d47705b9




Grande abraço musical e ótimos estudos.

;)

[]


João Paulo Pessoa.

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Nota: Esse texto foi produzido com auxílio do "Mecanismo de busca com inteligência artificial e processamento avançado de linguagem natural" denominado Perplexity

"A Perplexity AI é um mecanismo de busca com IA que entende e responde perguntas com respostas completas"

(https://www.perplexity.ai/)