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segunda-feira, 1 de setembro de 2025

20 anos do "The Tao of the Guitar" e um convite para uma imersão na música de Paul Galbraith


Neste ano comemoramos 20 anos de existência do blog The Tao of the Guitar! Desde 2005, temos compartilhado com nossos leitores uma diversidade de conteúdos: dicas de leitura, indicações de materiais técnicos, relatos de experiências musicais, análises, fotos, poesias e diversas abstrações sobre a arte de fazer música ao violão. Convidamos todos a navegar pelas postagens antigas e descobrir esse rico acervo, que é fruto de uma caminhada constante de aprendizado e reflexão.

O nome do nosso blog traduz um ideal: unir o estudo técnico e artístico do violão a uma ideia mais profunda de caminho — um caminho espiritual, uma ferramenta de autoconhecimento. É essa perspectiva que buscamos cultivar, tanto na prática do instrumento quanto na vivência pessoal. E é justamente nesse espírito que queremos falar hoje da música de Paul Galbraith, um artista cuja arte ressoa profundamente com os valores musicais, artísticos, estéticos, filosóficos e espirituais que defendemos em nosso espaço.

Paul Galbraith é um violonista renomado, com uma trajetória brilhante. Sua música, seus discos e sua técnica única, aliada a seu violão de 8 cordas e sua postura viosionária, nos encantam e inspiram. A delicadeza, a precisão e a profundidade com que ele aborda o repertório são um convite a um mergulho profundo na música.

Em 2010, tive a oportunidade singular de participar de uma masterclass com Paul Galbraith durante um importante festival internacional de violão. Fui selecionado entre poucos alunos para ter esse contato direto com ele, uma experiência transformadora que já relatamos em um texto aqui no blog, que recomendo a todos lerem, pois traz detalhes e insights valiosos:

 https://thetaooftheguitar.blogspot.com/2010/03/vi-fenavipi-masterclass-com-paul.html 


Para mim, esse contato pessoal foi decisivo para aprofundar minha conexão com sua arte.


Quanto ao disco Sonatas e Partitas, lançado em 1998, só tive acesso alguns anos depois, provavelmente após 2005. Naquela época, antes da consolidação dos serviços de streaming no Brasil, dependíamos de amigos, professores e do compartilhamento de arquivos para descobrir gravações de grandes músicos. Lembro claramente da impressão ao ouvir as gravações em mp3 deste disco, que não saía da memória do meu player digital. Curiosamente, mesmo tendo hoje o CD físico em mãos, o disco continua comigo no mp3 player — um sinal da importância e da intimidade que ele conquistou em minha vida musical.

Logo nas primeiras audições, mesmo sem acesso ao encarte, a detalhes ou às ideias interpretativas de Galbraith, percebi intuitivamente várias nuances que depois confirmei ao ler o texto do próprio artista. Uma delas é a sensação de que as Sonatas e Partitas formam um conjunto único, uma verdadeira "suíte de suítes". Um dos elementos que mais me chamou atenção foi a aparente "unidade de pulso" entre as faixas, que imprime ao disco um caráter reflexivo e hipnótico. É um verdadeiro refúgio para a alma, uma imersão onde o ouvinte se funde com o violonista e seu som.

O disco é dividido em dois CDs: no primeiro, temos as Sonatas 1 e 2 e a Partita 1; no segundo, as Partitas 2 e 3 e a Sonata 3. Sinto que o primeiro disco representa uma peregrinação, uma caminhada que sai de um ponto e determina um destino certo. Esse destino, sem dúvidas, é alcançado no começo do segundo disco, com a emblemática Partita nº 2, especialmente sua Chaconne. A Sonata 3 e a Partita 3, por sua vez, me parecem simbolizar o retorno — uma verdadeira viagem espiritual.

Um ponto técnico interessante a mencionar é a escolha das tonalidades no disco: apenas as Partitas 1 e 3 mantêm as tonalidades originais. A Partita nº 2, BWV 1004, que normalmente se toca em ré menor, é aqui apresentada por Galbraith em mi menor, causando um certo estranhamento. Essa escolha pode estar relacionada ao seu violão de 8 cordas, conhecido como Brahms-Guitar, que provoca adaptações próprias. Mas, ao refletir, percebemos que mudar tonalidades em obras de Bach ao adaptá-las para outros instrumentos é uma prática comum — as famosas Suites para violoncelo, por exemplo, raramente são executadas satisfatoriamente no violão na tonalidade original. O próprio Bach recorria a esse recurso ao adaptar suas obras e de seus contemporâneos para outros instrumentos. Assim, essas decisões se tornam plenamente compreensíveis.

Gostaria de avisar ao leitor que, logo abaixo, está a tradução para o português do texto do encarte do CD "Sonatas and Partitas" de Paul Galbraith. Ressalto que o objetivo dessa tradução é puramente pedagógico: facilitar o acesso de alunos e leitores ao conteúdo rico que acompanha a música, já que na maioria das plataformas de streaming ele não está disponível. Escutar o disco com o encarte em mãos é uma experiência muito mais completa e enriquecedora.

Um link para ouvir o disco em um serviço de streaming será deixado ao final da tradução. Mas esse disco é bastante difundido e, atualmente, pode ser encontrado facilmente nas principais plataformas de streaming musical.





Tradução do encarte "Sonatas and Partitas" - Paul Galbraith


"

Dedicado a George Hadjinikos, grande músico e professor, em seu 75º ano.

P.G. ... 


Já em 1958, Julian Bream publicou um artigo na Guitar Review dizendo que as Seis Sonatas e Partitas para violino eram ideais para o violão, como se tivessem sido escritas para esse instrumento. O próprio conceito fluido de Bach sobre a intercambialidade possível entre instrumentos nestas obras pode ser claramente visto pelo fato de que a Terceira Partita para violino existe em uma versão original para alaúde (BWV 1006A), e que a Segunda Sonata para violino também existe em uma versão para teclado.

Para minha própria transcrição das Sonatas e Partitas — ou “6 Solo”, como Bach chamou — me apoiei nas próprias transcrições de Bach, assim como na adaptação para alaúde contemporânea da Fuga da Sonata I e na maravilhosa versão para piano de Brahms da Chacona para apenas a mão esquerda. Para as demais obras, tratei os arranjos conforme as exigências da música, pois a textura da escrita varia consideravelmente. Para mim, essa variação de textura foi intencional por parte de Bach para proporcionar diversidade e contraste. Assim, houve momentos em que senti que era vital não adicionar nada em movimentos de linha única. Os Doubles na Partita I, por exemplo, sugerem uma textura polifônica rica principalmente por uma supressão consciente de “preenchimento”. Mas também há ocasiões em que a música parece exigir uma realização mais cheia, e aqui fiz pleno uso da extensão do alaúde barroco do meu violão de 8 cordas.

Bach escreveu o conjunto alternando as formas: Sonata I, Partita I, Sonata II, Partita II, Sonata III, Partita III. Algumas leituras agruparam as três Sonatas juntas e as três Partitas separadamente. Não que essas versões não funcionem! Mas era um sonho meu há algum tempo poder tocar o “6 Solo” da forma como foi composto, pois tinha uma forte intuição de que foi concebido como uma única peça, como uma “suíte de suítes”. Foi com o desenvolvimento do meu novo violão de 8 cordas em 1994 que encontrei uma forma de executar essa música “de uma vez só”, já que as cordas extras aguda e grave permitiram manter a mesma afinação durante toda a peça. Enquanto a estudava neste instrumento e a apresentava ao longo dos anos, comecei a perceber as interconexões dentro da música.

Agora estou convencido de que um fio temático percorre a obra, e que suas origens estão em um Urtema (tema raiz), que é o tema da Fuga da Sonata III. Esse Urtema é ele mesmo uma variação do “Come Holy Ghost”, um hino popular da época que simboliza a Ressurreição de Cristo. O uso desse tema da Ressurreição no final de uma obra longa — que se poderia chamar épica — de Bach, que personificou a visão de Lutero da “teologia através da música”, sugere fortemente uma narrativa ao estilo bíblico. Minha impressão pessoal é que o “6 Solo” é uma história gospel instrumental em forma de tríptico, contando o Nascimento, a Paixão e a Ressurreição de Cristo.

Aqui estão algumas pistas para essa narrativa conforme a vejo:

Após a introdução declamatória do Adagio de abertura, Bach nos dá uma fuga que lembra muito sua fuga “Unto Us a Child Is Born” da Cantata 42. O Siciliano que segue é a canção de ninar perfeita, como as do Oratório de Natal. Para mim, a Partita I traz a própria voz de Cristo (aqui em um tom agudo contrastante) em Si menor, a tonalidade mais pessoal de Bach.

A música da Paixão começa com o Grave da Sonata II, onde o baixo descendente simboliza a partida do mundo. Esse motivo, que vem diretamente do contorno descendente do tema da Ressurreição, é intensificado pelo seu uso como linha de baixo durante toda a Partita II, culminando nas variações contínuas que constituem a Chacona, uma das obras-primas incontestáveis e insondáveis de Bach (e da música em geral). A Chacona chega a um momento crucial no “6 Solo”: a “Seção Áurea”, na verdade, da teoria arquitetônica grega antiga.

O fato de a Chacona espelhar a estrutura geral do “6 Solo” em sua forma tríptica assim como em seus 32 segmentos (o “6 Solo” tem 32 movimentos) — e de que em seu manuscrito Bach a liga sem pausa ao Adagio de abertura da Sonata III seguinte — parece mais uma evidência da unidade geral do conjunto.

Esse Adagio parece emergir da sombra da Chacona, oscilando no seu andar laborioso entre uma nova tonalidade prometida e a tonalidade anterior, ainda lembrada, da Chacona. O ritmo pontilhado, geralmente simbólico (na música antiga) do sofrimento, aparentemente carrega um peso pesado e sugere para mim a imagem clara do “Caminho da Cruz”. Há até três dramáticas “quedas” cadenciais antes de finalmente chegarmos à cadência maior tônica, que até então nos foi negada (na verdade, não temos certeza durante todo o movimento em qual tonalidade estamos até essa cadência final).

Além disso, toda a obra até agora esteve quase totalmente no modo menor (as exceções são os dois movimentos lentos das Sonatas I e II). Então, esta é a primeira vez que Bach nos dá uma sensação real de modo maior, e na sequência vem o tema da Ressurreição. O modo maior que foi tão esperado e finalmente liberado nos conduz com uma exuberância alegre até o fim do “6 Solo”. Bach corona a obra com algumas das músicas mais felizes que já escreveu. De fato, Bach, em sua Cantata 29, colocou as palavras “We Thank Thee, God, We Thank Thee” (Agradecemos a Ti, Deus, Agradecemos a Ti) no Prelúdio da Partita III.

Paul Galbraith ... Paul Galbraith ganhou reconhecimento público pela primeira vez na Grã-Bretanha quando, aos 17 anos, sua performance no Concurso Internacional de Guitarra Segovia lhe rendeu a Medalha de Prata. Segovia, que estava presente no concurso, chamou sua performance de “magnífica”. No ano seguinte, ele ganhou o prêmio Jovem Músico do Ano da BBC na televisão.

Esses prêmios ajudaram a lançar sua carreira internacional, incluindo apresentações com algumas das melhores orquestras da Grã-Bretanha e Europa (entre elas, Royal Philharmonic, Chamber Orchestra of Europe, BBC Philharmonic, Scottish Symphony Orchestra, English Chamber Orchestra, BBC Scottish Orchestra, Scottish Baroque Orchestra, Ulster Orchestra, Hallé Orchestra e Scottish Chamber Orchestra). Turnês de concerto o levaram a EUA, Canadá, Espanha, Itália, Grécia, República Tcheca, Noruega, Hungria, Brasil, China, Índia e Islândia. Desde 1983, Galbraith estuda com o maestro e pianista grego George Hadjinikos.

A posição única de tocar de Galbraith foi revelada pela primeira vez no Festival de Edimburgo em 1989. Seu violão é suportado por um espigão metálico (semelhante ao de um violoncelo) que repousa sobre uma caixa de ressonância de madeira. O instrumento em si foi projetado por Galbraith em colaboração com o renomado construtor David Rubio. As oito cordas e o design extraordinário deste violão aumentam efetivamente o alcance e as possibilidades do instrumento a um nível nunca antes possível.

As seis cordas padrão são “circundadas” por duas cordas extras, uma mais aguda e outra mais grave, estendendo o alcance para ambos os lados. Isso normalmente seria impossível com comprimento fixo das cordas. Contudo, esse problema foi resolvido variando o comprimento da corda em uma ponte inclinada, uma ideia inspirada no instrumento renascentista “Orphereon” ... que usava esse sistema único (único, isto é, para instrumentos com trastes, já que a harpa e todos os instrumentos de teclado têm comprimentos variados de cordas). O alcance do instrumento permitiu a Galbraith fazer transcrições de obras de compositores não usualmente associados ao violão, como Haydn, Schubert e Brahms.


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Em 1995, Galbraith fez a estreia mundial da sua transcrição completa das sonatas e partitas solo para violino de Bach no Festival Bach da Filadélfia, e em 1996 as apresentou no Festival de Edimburgo. A BBC TV escolheu filmar este concerto e transmitiu parte dele na Grã-Bretanha como um dos destaques do festival. Em agosto de 1996, seu CD com obras de Brahms e outros compositores foi eleito “Melhor do Mês” pela BBC Radio.


(Críticas sobre o disco e sobreo o violonista em publicações especializadas)

“As viagens longas para ouvi-lo valem a pena.” The Guardian

“Execução de brilho impressionante... Sua técnica é de tirar o fôlego, mas nunca mais importante que a própria música. Seu Bach é profundamente sentido, e sua técnica permite que esses sentimentos nos cheguem com uma maravilhosa facilidade.” The Scotsman

“O melhor guitarrista da sua geração.” Classical Guitar

“O que muitos queriam ver e ouvir foi a mudança revolucionária que ele trouxe para tocar violão... os resultados foram verdadeiramente notáveis, com uma clareza incrível e uma enorme variedade dinâmica que nunca tinha ouvido em qualquer guitarrista antes. O público ficou hipnotizado.” The Times de Londres

“Ele não só dominou tecnicamente seu instrumento, mas tem a capacidade de acessar seus mistérios internos.” Classical Guitar Magazine

“Galbraith conquistou uma façanha considerável ao transcrever e decorar as seis Sonatas e Partitas solo de Bach, e as tocou com um real sentido de comunicar algo na música, e não apenas uma virtuosidade técnica... um aumento delicioso de sonoridade instrumental e cor fez este concerto uma experiência prazerosa. Tanto Galbraith quanto seu instrumento têm potencial para fazer coisas notáveis.” Glasgow Herald

“A performance de Galbraith é cativante do início ao fim.” Classic CD

“Na terça-feira à noite, no Grande Salão, me encantei com a combinação de artista, instrumento e música. Pianíssimos de delicadeza extrema contrastavam com momentos de poder quase assombroso. Nunca ouvi ninguém tocar assim. Galbraith parecia ter transcendendo a técnica e estabelecido uma conexão pessoal com uma fonte interior, permitindo que a música comunicasse de forma surpreendentemente direta. Tudo soava como uma obra-prima naquela noite.” Classical Guitar

“Paul Galbraith tem algo próximo do gênio.” Classical Music

“Ele produziu música de cor, riqueza e virtuosismo incomuns.” Philadelphia Inquirer

“Sua musicalidade é tão ‘autêntica’ que cada nota traz a marca da verdade e as noções acadêmicas de erudição tornaram-se supérfluas. Ele manteve o público em silêncio extasiado, como hipnotizado por algum mágico.” The Scotsman


Informações sobre Paul Galbraith e seu violão: www.paulgalbraith.com


Produtores Executivos: Amelia S. Haygood, Carol Rosenberger

Produtor de Gravação: Ramiro Belgardt

Engenheiros de Gravação: John Eargle, Jeff Mee

Edição: Ramiro Belgardt, Peter S. Myles

Associados de Produção: Phyllis Bernard, Catharine Jaap

Gravado em 1, 2, 4, 5 de setembro de 1997; 19 a 21 de janeiro de 1998

Primeira Igreja Congregacional, Los Angeles

Processamento Digital 20-bit: Prism AD-1

Edição Digital: Sonic Solutions

Monitores de Som

Gravação: Genelec 1030A

Pós-produção: JBL 250Ti

Microfones: Sennheiser MKH-20, AKG C480/CK-61ULS

Console: Soundcraft Spirit Folio

Construtor do violão: David Rubio, Cambridge, Inglaterra

Fotos da capa e contracapa: Harry J. Pack

Direção Criativa: Harry Pack, Tri-Arts and Associates

Gráficos: Mark Evans

Agradecimentos Especiais

Lisa Sapinkopf, Lisa Sapinkopf Artists, Berkeley, Califórnia

Antonio Tessarim, luthier brasileiro, por sua bela caixa de ressonância


© 1998 Delos Productions, Inc., Santa Monica, Califórnia, EUA

Impressão e montagem nos EUA

(Fim do encarte)




Link para o ouvir o álbum "Sonatas and Partitas" de Paul Galbraith no Youtube Music:

https://music.youtube.com/playlist?list=OLAK5uy_mB1s9VLzwAiGbfwY_8O2aoNKLzpYRfjTs&si=pcEqeHhg6kaNR2eF


Esse é um convite para mergulhar fundo não só na música, mas nas histórias, técnicas e contemplações que ela pode despertar. Que a arte de Paul Galbraith amplie sua jornada musical e espiritual. E que o The Tao of the Guitar continue sendo um ponto de encontro para quem busca unir técnica, expressão e autoconhecimento através do violão.


Grande abraço e ótimos estudos.

João Paulo Pessoa.

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Nota: Esse texto (e a tradução apresentada) foram produzidos com auxílio do "Mecanismo de busca com inteligência artificial e processamento avançado de linguagem natural" denominado Perplexity. 

"A Perplexity AI é um mecanismo de busca com IA que entende e responde perguntas com respostas completas"

(https://www.perplexity.ai/)

sábado, 5 de julho de 2025

On Practicing - Ricardo Iznaola - Tradução por I.A.

 



20 anos do The Tao of the Guitar. Estamos aqui postando ideias sobre nossa arte desde 2005. Se tiver interesse, dê uma navegada por nossas postagens ... tem muita coisa interessante. 


Olá, leitores do The Tao of the Guitar

Nesta postagem, compartilho com vocês uma tradução para o português do livro "On Practising", do renomado professor e violonista Ricardo Iznaola. Esta tradução foi realizada com o auxílio de inteligência artificial, partindo da versão original em inglês, que está disponível gratuitamente para leitura no Internet Archive. (https://archive.org/details/RicardoIznaolaOnPractising)

Meu objetivo ao disponibilizar este material é puramente educacional: desejo tornar acessíveis as valiosas ideias do professor Iznaola a meus alunos e a todos os interessados que não são fluentes em inglês, já que até o momento não existe uma versão oficial em português deste livro.

Reforço que respeito integralmente os direitos autorais do autor. Esta tradução não possui qualquer finalidade comercial ou lucrativa, sendo compartilhada apenas para fins de estudo e divulgação do conhecimento. Espero que este conteúdo possa contribuir para o desenvolvimento musical de todos!

Boa leitura!

:)

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RICARDO IZNAOLA


SOBRE A PRÁTICA

Um manual para estudantes de performance em violão




ÍNDICE

Prefácio

I. FUNDAMENTOS DA BOA PRÁTICA

- Introdução

- Equilíbrio Interior

- Equilíbrio Exterior


II. FATORES NEGATIVOS QUE AFETAM A PRÁTICA

- Fatores Materiais ou Tangíveis

- Fatores Intangíveis ou Psicológicos


III. PROPÓSITO E MÉTODO DA BOA PRÁTICA


IV. HIGIENE DA PRÁTICA: O SISTEMA DE PRÁTICA

- Materiais

- Distribuição do Tempo entre os Materiais


V. ESSÊNCIA DA BOA PRÁTICA:

- RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS


VI. MEMÓRIA E LEITURA À VISTA:

- A QUESTÃO DA PRECISÃO NA PRÁTICA

E O PAPEL DA VISUALIZAÇÃO

Experimento Nº 1

Experimento Nº 2

Experimento Nº 3


VII. O COMBUSTÍVEL PARA A BOA PRÁTICA:

A INTERAÇÃO ENTRE MOTIVAÇÃO INTERNA E EXTERNA

- Motivação Interna: Disciplina

- Motivação Externa: Dever

- Sugestões para Leitura Complementar



Prefácio

Este breve manual responde a algumas das perguntas mais comuns sobre como praticar de forma eficaz. Também aborda algumas questões frequentemente deixadas sem explicação nas discussões sobre o tema.

O leitor curioso poderá querer explorar os escritos de outros autores, como Matthay, Bonpensiere, Havas, Galamian, Leimer e Stanislavski — todos eles influentes na formação da abordagem e filosofia de prática descritas neste livreto. Consulte também as "Sugestões para Leitura Complementar" ao final do manual.


Fundamentos da boa prática: 

1. INTRODUÇÃO

O que acontece no palco de um concerto é consequência direta do que acontece na sala de prática. Não há mágica nem mistério: uma boa prática resulta em boas performances. Uma prática inadequada produzirá performances ruins.

Para aprender a praticar de forma eficaz, o intérprete deve primeiro compreender a natureza do desafio peculiar que uma apresentação pública representa, bem como sua capacidade de enfrentá-lo não apenas com sucesso, mas também de desfrutar dessa experiência. Amar a música, e até mesmo gostar de tocar para si próprio, não garante o sucesso como intérprete. É necessário sentir a necessidade de compartilhar a música com os outros para se tornar um intérprete bem-sucedido.

A abordagem de prática descrita aqui está focada no objetivo final da apresentação pública bem-sucedida. Praticar bem, neste contexto, significa alcançar o objetivo de tocar bem em público.


2. EQUILÍBRIO INTERIOR

A base da boa prática é a conquista e a manutenção do equilíbrio interior. Equilíbrio interior pode ser definido como um estado mental/espiritual de alerta e prontidão para a atividade intelectual, sem tensão emocional. Caracteriza-se pela ausência de atitudes julgadoras sobre nós mesmos e por um senso aguçado de curiosidade.

O equilíbrio interior só pode ser alcançado quando as seguintes condições são atendidas:

a. Desapego emocional em relação ao material que está sendo praticado. Somos imparciais e, portanto, emocionalmente indiferentes às oscilações naturais que ocorrem durante a prática. Não nos condenamos pelos erros, embora os reconheçamos realisticamente. Comportamo-nos e sentimos como cientistas em um laboratório, observando de forma imparcial os resultados de nossos experimentos.

b. Observação objetiva do que estamos fazendo e dos resultados que estamos obtendo. Não escondemos as falhas. Não deixamos de ouvir atentamente tudo o que fazemos. Não deixamos de observar as sensações físicas produzidas em nosso mecanismo de execução pelo ato de tocar.

c. Facilidade na ação do que estamos fazendo. Desenvolvemos um senso apurado da quantidade de esforço necessária para realizar os movimentos de tocar e buscamos continuamente reduzi-lo. Não permitimos que a dificuldade, muito menos a fadiga ou a dor, faça parte de nossa abordagem ao instrumento. A facilidade na ação é resultado direto do desenvolvimento de um senso muscular refinado para o equilíbrio exterior (descrito posteriormente).

Quando nosso equilíbrio interior é perturbado, nossa prática não pode ser ótima. Frequentemente isso ocorre quando as coisas não vão bem e cometemos erros. Ficamos frustrados com nossa própria incompetência e começamos a nos condenar. A ansiedade começa a surgir. A tensão emocional se acumula e gera tensão física, o que torna tudo ainda mais difícil, e perdemos a facilidade na ação. Como consequência desse processo, também paramos de ouvir objetivamente, em parte porque tentamos, subconscientemente, nos proteger dos sentimentos dolorosos de inadequação e frustração.

Entramos assim em um círculo vicioso que só piora quanto mais persistimos nessa pseudo-prática. Gradualmente, também perdemos nossa motivação e o desejo de praticar.

Devemos aprender a identificar esse processo para que possamos interrompê-lo no início, antes que ele tome o controle de nossa prática.


3. EQUILÍBRIO EXTERIOR

O equivalente físico do equilíbrio interior é o equilíbrio exterior. Equilíbrio exterior pode ser definido como o estado de alerta e prontidão para a ação de um membro, sem tensão disfuncional. Caracteriza-se por sensações de leveza e facilidade. É uma atitude do membro situada aproximadamente no meio do caminho entre o colapso (relaxamento total) e a rigidez (tensão máxima).

Aprender a identificar e usar o equilíbrio como norma para a atividade física no instrumento é a chave para alcançar a facilidade na ação. Para isso, devemos distinguir entre sensações de peso e sensações de esforço.

Sensações de peso (queda) são produzidas quando permitimos que a gravidade atue sobre nossos membros. Sensações de esforço (elevação; superação de uma resistência) são produzidas quando vencemos a força da gravidade, ou alguma outra resistência, por meio da atividade muscular.

O membro em equilíbrio parece flutuar devido à oposição equilibrada entre a força da gravidade e o esforço muscular necessário apenas para superá-la. Deve ficar claro que o equilíbrio é uma norma, uma referência que nos ajuda a controlar a quantidade de esforço necessária para um determinado movimento.

É necessário um espectro completo de graus de esforço para tocar o instrumento adequadamente. Quando e quanto esforço usar em cada momento é o problema. Controlar o equilíbrio à vontade é a chave para essa questão.


II

FATORES NEGATIVOS QUE AFETAM A PRÁTICA

Existem diversos fatores que, em sua maior parte de forma subconsciente e involuntária, podem afetar a qualidade da nossa prática.

1. FATORES MATERIAIS OU TANGÍVEIS

a. Nível de dificuldade – a tendência de enfrentar material que é demasiado difícil para nosso nível atual de desenvolvimento. A dificuldade pode ser técnica, musical ou uma combinação de ambas.

b. Quantidade de material – a tendência de lidar com muitas coisas ao mesmo tempo. Isso se manifesta tanto no número excessivo de peças a serem estudadas quanto na forma como áreas específicas de cada peça são trabalhadas. A tendência é trabalhar fragmentos que são longos demais ao tratar de problemas específicos dentro da peça.

c. Falta de tempo – a tendência de apressar a abordagem da prática por falta de tempo. A sensação de que não temos tempo suficiente é sempre produzida pelo fator “c” acima e por certas expectativas implícitas.

d. A inércia do fluxo rítmico – a tendência de tocar uma peça do começo ao fim, causada pela inclinação natural de seguir o “groove” rítmico da peça. Quando tocamos assim, não estamos praticando, mas sim executando.

Lembre-se destes princípios básicos:

- Se estamos executando, o fluxo rítmico não deve ser interrompido, independentemente dos incidentes (erros) que ocorram. Uma execução é uma declaração completa e ininterrupta.

- Se estamos praticando, não continuamos tocando a peça até que tenhamos alcançado os objetivos específicos predefinidos para aquele fragmento em particular.

- Praticar é, fundamentalmente, um processo orientado a objetivos e focado em detalhes, de correção e experimentação para melhorar o que foi feito anteriormente. Embora também se pratique a execução, como veremos mais adiante, esta é a etapa culminante da prática e nunca pode substituir o trabalho preliminar detalhado, que é o verdadeiro núcleo da boa prática.


e. Tempo – intimamente ligado ao item “d”. A tendência de praticar no tempo de execução prematuramente, antes que nosso mecanismo esteja realmente pronto para isso. O tempo é um dos últimos fatores a ser incorporado à prática.

Uma boa regra prática para as etapas de aprendizagem de uma nova peça (aplica-se igualmente a estudos, exercícios, solos, partes de conjunto etc.) é:

- Prática pré-rítmica – preocupada apenas em identificar e alcançar as notas corretas por meio de movimentos fáceis e fluidos. Sem ritmo, sem compasso, sem tempo.

- Prática rítmica pré-métrica – identificação de padrões, “gestos”, grupos rítmicos e trabalho em suas conexões sem continuidade métrica rigorosa. Importância máxima para alcançar a facilidade na ação.

- Prática métrica pré-tempo (manipulação do tempo) – tocar a peça (ou grandes trechos dela) mantendo a sensação métrica, mas alterando os tempos conforme necessário para garantir a execução perfeita das passagens mais difíceis. Este é o primeiro passo para a integração. A ideia é tocar sem parar e manipular o tempo para que tudo seja executado sem erros e sem tensão excessiva.

- Prática métrica lenta – tocar no tempo, mas em um andamento lento e constante. A facilidade física é sempre prioridade. Alternância com as etapas anteriores para aprimoramento dos detalhes.

- Prática no tempo – o objetivo final. Se aplicada à peça como um todo, é idêntica à prática de execução (descrita mais adiante). Também deve ser usada para prática fragmentada, focada em pontos específicos (ver Capítulo V).


Tenha em mente dois pontos:

- Leitura à primeira vista não é prática. Os objetivos e processos da boa leitura à primeira vista são certamente complementares e indispensáveis, mas estão fora do âmbito da prática conforme discutida aqui. Trataremos essa questão com mais detalhes posteriormente.

- A chamada “prática lenta” é apenas uma das etapas da prática adequada. Como nosso plano sugere, existem etapas preliminares que precisam ser assimiladas antes que a prática lenta se torne eficaz.


Além disso, lembre-se de que, não importa o quão bem conheçamos uma peça, todas as abordagens acima serão úteis para manter nosso mecanismo funcionando com facilidade eficaz. Não hesite em empregar todas essas estratégias, mesmo com material que você conhece muito bem. O retorno será enorme.


2. FATORES INTANGÍVEIS OU PSICOLÓGICOS

a. Expectativas – todos nós temos expectativas explícitas e implícitas, tanto de curto quanto de longo prazo, sobre o que deveríamos fazer, alcançar ou realizar. Algumas dessas expectativas são saudáveis e necessárias para manter nossa motivação viva. Outras, porém, devem ser compreendidas como negativas e prejudiciais ao nosso desenvolvimento orgânico como artistas intérpretes.

De modo geral, o problema começa quando temos uma visão não objetiva de nossas próprias capacidades, o que nos faz confundir o que desejamos ou queremos com a realidade.

Exemplos típicos de expectativas negativas são:

“Já estou tocando há 3 anos. Deveria ser capaz de tocar a, b ou c.”

“Estarei pronto para tocar x, y ou z no próximo mês.”

Devemos entender que o processo de aprender a tocar bem um instrumento (em geral, o treinamento de qualquer habilidade) é essencialmente um processo de crescimento que varia individualmente.

Não podemos acelerar o crescimento de uma árvore puxando seus galhos.

O realismo honesto é uma virtude fundamental para todos os intérpretes.

Respeite seu ritmo individual de crescimento.

Não permita que suas expectativas (falsas) [o futuro] interrompam o desenrolar natural da sua prática [o presente].

Aborde sua prática seguindo o conselho do grande diretor teatral russo Stanislavski: “hoje, aqui, agora”.


b. Memórias – o lado oposto da moeda. Todos carregamos o peso de nossas experiências passadas, boas e ruins. As boas servem como combustível para conquistas futuras. As ruins devem ficar do lado de fora da porta da nossa sala de prática.

Não permita que suas memórias (negativas) [o passado] interrompam o desenrolar natural da sua prática [o presente].

“Hoje, aqui, agora.”


c. Comparações – as conquistas dos outros podem ser uma influência positiva e inspiradora. Mais frequentemente, tornam-se um obstáculo ao nosso autodesenvolvimento se fizermos julgamentos de valor baseados em comparações com os outros.

A tendência a nos compararmos com os outros é natural em todos nós. Baseia-se naquele componente atlético da personalidade humana que nos torna competitivos.

Por causa da natureza física da performance, é fácil cair na armadilha de ver a habilidade técnica como o objetivo final e a medida de nossas conquistas.

Uma das chaves para a prática bem-sucedida é aprender a controlar esses sentimentos sem negá-los. Precisamos, sim, de um grau de habilidade técnica para nos tornarmos intérpretes bem-sucedidos. O público espera agilidade, volume e velocidade na execução musical.

O público não vai a concertos para comparar apresentações anteriores com a atual. Sob muitos aspectos, um concerto se assemelha a muitos aspectos de um relacionamento amoroso: é a atratividade única da sua mensagem artística e personalidade que fará você ter sucesso. O público, nesse contexto, é “promíscuo”; tem uma capacidade ilimitada de “se apaixonar” por todas as possíveis mensagens e personalidades artísticas únicas.

O velho ditado ainda vale: você está competindo apenas consigo mesmo.

Devemos alterar nosso lema de “hoje, aqui, agora” para:

“Eu, hoje, aqui, agora.”


IIΙ

PROPÓSITO E MÉTODO DA BOA PRÁTICA

O propósito da boa prática é alcançar objetivos específicos, focando na melhoria contínua da qualidade e da facilidade de execução.

As áreas em que esse processo ocorre são: técnica, musicalidade e performance.

O grande pedagogo do violino Galamian propôs a distribuição metódica do tempo de prática em três períodos:

a. Tempo de construção – no qual são abordadas questões puramente técnicas (detalhes técnicos)

b. Tempo interpretativo – no qual os elementos musicais de expressão são experimentados e incorporados à peça (detalhes musicais)

c. Tempo de execução – no qual ocorre a integração da técnica e da musicalidade, tocando peças ou seções completas, prestando atenção às circunstâncias imaginadas de uma apresentação real e lidando com problemas de etiqueta de concerto, nervosismo de palco, etc.


Tipicamente, os períodos “a” e “b” lidam com a prática detalhada, fragmentada e seccional, enquanto o “c” trabalha a peça como um todo, como um evento esteticamente relevante, que não deve ser interrompido ou parado.

Claro que nem todas as sessões de prática precisam ser rigorosamente divididas dessa forma. Em diferentes estágios de desenvolvimento, mais ou menos ênfase será dada a uma ou outra etapa. Entretanto, deve-se estar sempre conscientemente ciente do tipo de prática que está em vigor. Não se permita uma prática aleatória, cega e falsa, tomando-a por prática verdadeira.

Quando alguém quiser apenas “brincar” com o instrumento, deve fazê-lo, sem dúvida. Esteja ciente, porém, de que isso não é prática.



IV

HIGIENE DA PRÁTICA: O SISTEMA DE PRÁTICA


1. MATERIAIS

A boa prática deve incorporar uma combinação equilibrada de materiais, que incluirá:

a. Exercícios – cujo propósito é treinar as capacidades ginásticas do mecanismo de execução (fundação ou técnica básica).

b. Estudos – cujo propósito é apresentar procedimentos técnicos específicos dentro de um contexto musical de extensão moderada (técnica aplicada).

c. Repertório – que é o objetivo artístico e onde ocorre a verdadeira integração entre arte e técnica, técnica e musicalidade (técnica expressiva).

A crença de que a técnica pode ser adquirida apenas por meio do trabalho no repertório é um equívoco comum. Como a boa técnica depende de um mecanismo de execução fisicamente apto, e como as obras concebidas artisticamente não têm um propósito técnico formativo predefinido, o equipamento técnico construído apenas a partir do estudo do repertório sempre terá muitas áreas frágeis. Seu componente de aptidão física não será plenamente treinado.

Não se pode treinar o corpo para jogar futebol profissional apenas jogando. Ao fazer isso, corre-se o risco de lesão ou, no melhor dos casos, de jogar de forma medíocre.

O mesmo se aplica, pelas mesmas razões, à performance musical.

Uma vez alcançado um estágio avançado de desenvolvimento técnico, a manutenção técnica pode ser mantida isolando trechos do repertório e selecionando alguns estudos que consideremos particularmente úteis, etc. Essa abordagem, no entanto, só é produtiva quando as etapas formativas do treinamento técnico já foram bem assimiladas.



2. DISTRIBUIÇÃO DO TEMPO ENTRE OS MATERIAIS

Tradicionalmente, a prática tem sido realizada e seus resultados avaliados diariamente. Aqui propõe-se que a unidade de tempo para a prática seja considerada a semana: distribuir os materiais a serem praticados (exercícios, estudos, repertório) ao longo da semana, de modo que, ao final dela, tudo tenha sido trabalhado.

Dessa forma, fica mais fácil controlar a quantidade de tempo dedicada a áreas específicas, o que precisa de mais ou menos trabalho, evitando ao mesmo tempo a sensação incômoda de que não há tempo suficiente para trabalhar tudo (conforme discutido na seção anterior sobre fatores negativos).

A semana deve consistir em apenas seis dias de prática, com um sétimo dia de descanso (embora você possa tocar o quanto quiser nesse dia!).

Para estudantes profissionais em nível universitário, nenhuma abordagem de prática produzirá resultados se realizada por menos de uma média de 2 a 3 horas por dia. Por outro lado, praticar mais de 5 a 6 horas começará a produzir retornos decrescentes.

Idealmente, a prática diária deve ser dividida em três sessões, com tempo suficiente de descanso entre elas (certamente não menos que intervalos de 10 a 15 minutos). Se alguma sessão ultrapassar 60 minutos, devem ser feitos intervalos adicionais, porém mais breves.

Uma abordagem inteligente, flexível e consistente na alocação do tempo para a prática evitará muitos problemas possíveis relacionados a lesões do mecanismo físico, sintomas de estresse, deterioração da técnica, condição geral de saúde, falta de motivação, etc.

Nada de grave acontece se alguém deixar de praticar por alguns dias. Nos estágios iniciais de desenvolvimento, pode-se notar uma perda momentânea de habilidade, rapidamente corrigida assim que os tempos adequados de prática forem retomados.

Quanto à prática técnica, como exercícios e estudos, é prudente alternar os procedimentos técnicos usados, para que alguns elementos físicos descansem e se recuperem, enquanto outros são trabalhados.

Em conclusão, lembre-se de que ter seis dias por semana como unidade de tempo para a prática significa que nem tudo precisa ser trabalhado todos os dias!


V


ESSÊNCIA DA BOA PRÁTICA: RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS

O propósito da boa prática foi definido no Capítulo III como “alcançar objetivos específicos enquanto se foca na melhoria contínua da qualidade e da facilidade de execução”.

Esses objetivos específicos podem ser tão detalhados e pequenos quanto uma única mudança de casa em um traste, ou tão gerais e amplos quanto decidir como abordar dinamicamente o primeiro tema na seção de recapitulação de um movimento sonata-allegro.

Em todos os casos, a abordagem é a mesma: considerar o objetivo a ser alcançado como um problema particular apresentado pela peça naquele momento específico.

Praticar, então, torna-se um método de resolução de problemas. Nossa abordagem para a resolução de problemas, neste contexto, possui três etapas:

a. Identificação do fato de que, a) existe um problema, b) qual é ele, c) onde começa e termina.

É fácil cair na armadilha de sobrepor problemas (ou seja, considerar como um problema o que na realidade é uma série de problemas diferentes). Seja o mais preciso e detalhado possível ao determinar os limites da área problemática.

b. Compreensão das causas exatas de um problema. Esta é uma etapa difícil para a maioria dos iniciantes, pois ainda não adquiriram experiência ou conhecimento suficiente do instrumento para identificar especificamente o que gera o problema.

A compreensão geralmente traz consigo uma solução apropriada para o problema, mas também pode exigir experimentação com várias opções antes que a melhor solução seja encontrada.

Grande parte do que os professores fazem em estúdio é ajudar o aluno a identificar e compreender os problemas apresentados por uma determinada peça.

c. Assimilação – a palavra assimilação significa “tornar-se um com”, ser absorvido pela natureza de algo.

No nosso contexto, isso significa o processo pelo qual, tendo encontrado uma solução válida para um problema, nos empenhamos em aprimorá-la por meio da repetição guiada. Ao fazer isso, incorporamos a solução a nós mesmos, garantindo assim que, durante a performance, tenhamos uma boa garantia de sucesso ao lidar com aquela passagem específica.

Esta última etapa é o que mais frequentemente se entende por prática. O problema é que a assimilação por repetição ocorre independentemente de estarmos fazendo algo certo ou errado. Se o processo anterior de identificação e compreensão não foi realizado com o devido cuidado, e simplesmente nos entregamos àquilo que pode ser chamado de “repetição cega”, os resultados podem ser piores do que se não tivéssemos praticado nada!

Mantenha a partitura sempre à mão durante a prática, mesmo quando o material estiver memorizado. A conexão entre o código escrito da partitura, os eventos sonoros e a ação física de tocar é de fundamental importância para desenvolver tanto a segurança técnica quanto a da memória, como veremos no Capítulo VI.

Uma forma muito eficaz de resolver problemas técnicos rápida e corretamente é a técnica do spotting, na qual as três etapas de identificação, compreensão e assimilação são claramente diferenciadas e controladas.

a. Você ou o professor identifica um problema, marcando-o na partitura com um colchete horizontal que começa um pouco antes e termina um pouco depois do ponto específico do problema.

Escreva sinais de repetição nas duas extremidades do colchete:


(no livro: desenho da barra de repetição)




b. Você e/ou seu professor então estudam as causas do problema até que uma solução válida seja encontrada. Esta é a segunda etapa, a compreensão do problema.

c. Uma vez que o problema foi compreendido e sua solução encontrada, comece a praticar repetidamente o conteúdo do colchete como um exercício ininterrupto. Devem ser usados diferentes tempos. Esta última etapa (assimilação) estará completa quando hábitos corretos forem formados na forma de lidar com o ponto específico.

Dependendo do nível de dificuldade do problema, a etapa de assimilação levará mais ou menos tempo. Tipicamente, encontrar uma boa solução para um ponto específico permitirá momentaneamente que o músico o toque bem. Nesse momento ocorre a compreensão (ou o que pode ser chamado de reação “click”), e a terceira etapa (assimilação por repetição guiada) pode começar.

Uma vez que o problema esteja a caminho de ser resolvido, coloque-o de volta no contexto, adicionando vários compassos antes e depois do ponto específico. Tanto na definição do ponto quanto quando ele é recolocado no contexto, deve-se cuidar para criar fragmentos que façam sentido rítmico.

Ao fazer spotting, certifique-se de não começar a trabalhar o conteúdo do colchete (repetição) até ter uma ideia precisa de qual deve ser a abordagem correta para o problema. Lembre-se de que o processo de assimilação – que é, essencialmente, o condicionamento do sistema nervoso autônomo e espinhal – trabalhará contra você se sua abordagem estiver equivocada. Se você praticar erros, aprenderá e executará erros.

Deve-se enfatizar que as etapas de identificação e compreensão são as mais difíceis para músicos menos experientes dominarem. O papel do professor, nesse sentido, é indispensável para assegurar uma definição correta da extensão exata, das causas e da solução de cada problema particular. Como mencionado antes, a tendência é considerar como um único problema o que, na verdade, é uma série de problemas diferentes.

Tenha em mente que qualquer coisa que dê errado, pareça errada ou seja difícil, não importa o quão pequena pareça, deve ser tratada como um problema isolado e melhorada ou corrigida por meio da prática adequada.


VI

SOBRE A PRÁTICA


MEMÓRIA E LEITURA À VISTA:

A QUESTÃO DA PRECISÃO NA PRÁTICA E O PAPEL DA VISUALIZAÇÃO

Toda a discussão anterior trata, na verdade, da questão fundamental de alcançar precisão perfeita em nossa prática. Só então teremos uma base sólida para construir uma performance verdadeiramente artística.

Existem oito áreas nas quais devemos ser precisos antes que uma boa performance possa começar:

a. Acertar as notas corretas (interpretar a notação de altura).

b. Acertar a duração correta (interpretar a notação do valor das notas).

c. Acertar a acentuação correta (interpretar a notação rítmica/métrica).

d. Acertar as velocidades e níveis de intensidade corretos (interpretar as indicações de tempo e expressão).

e. Acertar a digitação correta (interpretar a notação instrumental/técnica).

f. Acertar a frase correta (interpretar a estrutura).

g. Acertar as conexões corretas entre as diferentes seções da peça (interpretar a forma).

h. Acertar a sensação emocional e histórica correta da peça (interpretar caráter e estilo).

Dependendo do tipo de material praticado, algumas dessas áreas tornam-se mais relevantes que outras. Também o nível relativo de importância mudará conforme diferentes estágios de desenvolvimento forem alcançados. As três últimas áreas entram em cena em um estágio relativamente avançado.

A maioria dos problemas que afetam muitos estudantes de performance musical são apenas imprecisões em uma ou mais das áreas indicadas de 'a' a 'e', ou seja, erros na leitura/memorização do material.

Leitura à vista e memorização são as duas faces da mesma moeda. A habilidade de ler e lembrar com precisão as alturas, valores das notas, ritmos, dinâmicas (nuances de intensidade), agógica (nuances de duração e andamento) e digitação de uma peça musical é o objetivo principal do qual dependem todos os outros objetivos técnicos e musicais.

Muitos intérpretes acreditam erroneamente que são maus leitores ou têm má memória porque não descobriram os princípios relativamente simples que guiam o desenvolvimento natural e saudável dessas habilidades.

O seguinte pode ajudar:

a. Se for fácil o suficiente para você, você pode visualizá-lo.

b. Se você pode visualizá-lo, você pode ler à vista.

c. Se você pode visualizá-lo sem o instrumento e sem a partitura, você pode lembrar.


Visualizar, neste contexto, significa tanto ver suas mãos nos movimentos de tocar quanto ouvir a música internamente, com o olho e ouvido da mente.

d. Se for muito difícil, você não vai ler à vista bem.


O problema com a leitura à vista é que a maioria dos músicos tenta material além de suas capacidades atuais. (Nota do autor: o último ponto (d) deve ser tomado com cautela — uma precaução geral, não uma regra rígida. Esticar suas capacidades, quando feito em um espírito saudável de “e se”, é um grande estímulo motivacional.)

Os seguintes experimentos darão oportunidades para desenvolver essas habilidades enquanto você se diverte com desafios.


EXPERIMENTO Nº 1

a. Selecione uma peça ou fragmento curto: no máximo 2 pautas, no máximo 8 compassos, todos em primeira ou segunda posição.

b. As alturas não devem ultrapassar a primeira linha suplementar em qualquer direção.

c. Os valores das notas não devem ser menores que colcheias.

d. O compasso deve ser simples binário.

e. A textura deve ser principalmente em duas vozes, com acordes de três vozes ocasionais.

f. Não mais que um sustenido ou bemol na armadura.

g. Andamento moderado.

h. As marcações de expressão (dinâmicas, agógica) devem ser poucas. Certifique-se de saber o que cada termo significa.

i. As indicações de digitação devem ser poucas e discretas.


Passo 1 – Leia o fragmento sem o instrumento, tentando visualizar mentalmente onde sua mão esquerda está a todo momento. Não se preocupe com valores, ritmo, compasso ou andamento nesse momento. Apenas entenda e visualize o que a mão esquerda deve fazer.


Passo 2 – Adicione a visualização da atividade da mão direita. Se os dedos da mão direita não estiverem indicados, marque-os antes de começar. Novamente, concentre-se apenas em ver (na mente) as mãos em ação para cada movimento, desconsiderando ritmo, andamento etc.

NOTA: Se a visualização da mão direita for muito difícil, pule esta etapa.


Passo 3 – Comece a sentir o fluxo rítmico da peça. Apenas cante, em monotonia, os valores das notas enquanto marca o tempo com a mão direita. Faça isso muito devagar. Não visualize a atividade das mãos durante esta etapa.


Passo 4 – Tente “ver” as mãos em ação enquanto marca o tempo e canta os valores das notas em monotonia. Provavelmente será necessário subdividir o fragmento em pedaços ainda menores para fazer isso corretamente. Faça isso muito devagar. Não pare até conseguir “tocar” mentalmente o fragmento inteiro, visualizando suas mãos no ato de tocar.


Passo 5 – DESCANSE! O que você fez é exaustivo!


Passo 6 – Pegue seu instrumento e prepare-se para tocar. Agora você tentará ler à vista todo o fragmento do começo ao fim, sem parar. Provavelmente errará muitas coisas: notas, valores, ritmos e, claro, digitação e marcações de expressão. Não se preocupe. Seu único objetivo é tocar até o fim, tentando manter a continuidade rítmica com o mínimo de interrupções. Comece a tocar.


Passo 7 – Faça uma pausa e tente novamente. Controle seu andamento (não acelere).


Passo 8 – Você pode querer tentar mais uma vez, se as tentativas anteriores foram hesitantes. Se estiver satisfeito, prossiga para o passo IX.


Passo 9 – Tente o Passo 4 novamente – visualização sem o instrumento – mas desta vez seu objetivo é ouvir a música “internamente”, em todos os detalhes. Muitas coisas ficarão “borradas”. Não se preocupe. Repita algumas vezes e descanse.


O processo descrito pode ser aplicado a todos os níveis de habilidade de leitura e execução. O exemplo dado supõe que o músico seja relativamente iniciante com alguma habilidade de leitura. Se você ainda está encontrando as notas no instrumento, tente o processo com pequenos fragmentos melódicos, usando principalmente cordas soltas (com algumas notas em primeira posição), ritmos muito simples e valores longos (meia e semínima).


O ponto é que você deve começar a internalizar música e técnica o quanto antes.


À medida que sua experiência e conhecimento musical crescem e amadurecem, o processo será auxiliado por habilidades analíticas que se desenvolvem por último. Essas reforçarão os outros três elementos envolvidos: visual, auditivo e tátil/cinestésico.


EXPERIMENTO Nº 2

Um equívoco comum é acreditar que se toca de memória apenas quando se toca sem a partitura. Pelo contrário, até a leitura à vista depende da memória para ser bem-sucedida. Todo bom leitor à vista confirmará que está sempre lendo à frente do ponto que está sendo tocado, até frases inteiras à frente. O seguinte experimento ajudará a desenvolver suas habilidades de memória de curto prazo por meio da visualização.


Passo 1 – Usando o mesmo fragmento do Experimento Nº 1, visualize apenas os dois primeiros compassos, sem o instrumento.

Passo 2 – Pegue o instrumento e prepare-se para tocar. Feche os olhos e toque esses dois compassos.

Passo 3 – Abra os olhos e toque os mesmos compassos, olhando apenas para a mão esquerda.

Passo 4 – Faça o mesmo, olhando para a mão direita.

Passo 5 – Repita o processo para o restante do fragmento, trabalhando dois compassos por vez.

Passo 6 – Depois de passar por todo o fragmento (8 compassos) dessa forma, comece a ler do início novamente, mas tente olhar um ou dois compassos à frente do que está tocando. Faça isso várias vezes.

Passo 7 – Toque todo o fragmento de memória. Não dê uma espiada! (Não se preocupe se não tiver sucesso total. Com o tempo, você conseguirá.)

Obviamente, esses procedimentos não são fáceis e levarão tempo para serem dominados.

Não misture sua prática regular com a prática de visualização.

Pratique leitura à vista/memorização independentemente da sua prática regular, com material novo que esteja bem abaixo do seu verdadeiro nível técnico/musical.

Você pode querer aplicar algumas das técnicas de visualização a material novo que está começando a estudar, material que esteja em equilíbrio com suas reais habilidades como músico. As chances são de que, a menos que você já seja um visualizador proficiente, não terá muito sucesso devido à complexidade técnica/musical desse material.

Uma vez que você comece a dedicar regularmente algum tempo à prática da visualização, notará rapidamente que o nível geral de precisão na obtenção de informações da partitura melhorará significativamente e levará menos tempo.

O sétimo dia recomendado de descanso da prática regular é uma oportunidade ideal para dedicar algum tempo (cerca de uma hora) à visualização.

Não subestime o poder da visualização. Alguns pedagogos ilustres (Bonpensiere, Leimer) acreditavam que, com o treinamento adequado, a capacidade de visualizar poderia eventualmente se tornar tão forte e vívida a ponto de permitir a eliminação parcial ou total da prática física. Alguns intérpretes lendários do passado recente alcançaram resultados incríveis por meio da visualização, por exemplo, Gieseking, Kreisler, Cortot ou, mais recentemente, Rubinstein e Arrau.

Esses indivíduos foram capazes de aprender obras longas e complexas durante uma longa viagem de trem ou transatlântica, executando-as de memória ao chegar, sem nunca terem tocado a peça no instrumento.


Tudo é possível.


EXPERIMENTO Nº 3

Depois de trabalhar por algum tempo nos experimentos 1 e 2, tente este desafio mais avançado.

Passo 1 – Selecione um fragmento muito fácil e curto (4 a 8 compassos). Visualize, sem o instrumento, conforme descrito nos passos 1 a 4 do experimento 1.

Passo 2 – Trabalhe os dois primeiros compassos, ainda sem o instrumento, tentando ouvir a música internamente com atenção. Não pare até conseguir uma visualização clara e precisa desses dois compassos. Descreva em voz alta o conteúdo desses compassos. Cante a melodia em voz alta.

Passo 3 – Pegue uma folha pautada e escreva, de memória, esses dois compassos. Tente ser preciso na reprodução.

Passo 4 – Repita o processo para todo o fragmento, trabalhando dois compassos por vez.

Passo 5 – Depois de ter escrito todo o fragmento de memória, sem nunca ter tocado o instrumento, pegue o instrumento e prepare-se para tocar. Visualize o fragmento novamente enquanto lê seu manuscrito (sem tocar).

Passo 6 – Com os olhos fechados, visualize o fragmento mais uma vez.

Passo 7 – Guarde a partitura e toque o fragmento do começo ao fim de memória.

As primeiras tentativas provavelmente não serão muito bem-sucedidas. Isso é natural. Descanse um pouco e tente novamente. Eventualmente, você terá sucesso.

Assim como na prática física, suas habilidades de visualização se desenvolverão gradualmente. Não se irrite consigo mesmo. Tenha em mente o que aprendeu sobre o Equilíbrio Interior, sua importância fundamental na boa prática e como alcançá-lo e mantê-lo.


VII

O COMBUSTÍVEL PARA A BOA PRÁTICA:

A INTERAÇÃO ENTRE MOTIVAÇÃO INTERNA E EXTERNA


1. MOTIVAÇÃO INTERNA: DISCIPLINA

Nenhuma abordagem de prática pode ser eficaz se não houver trabalho regular e consistente. Antes de tudo, é preciso querer praticar de forma regular e constante. Portanto, como manter a motivação para a prática torna-se uma questão fundamental.

O que tradicionalmente chamamos de disciplina deve ser entendido como motivação interna, isto é, a responsabilidade assumida de agir de maneira predeterminada para alcançar objetivos que são importantes para nós espiritualmente como indivíduos.

Disciplina, entendida dessa forma, é consequência do desejo de agir de forma orientada a objetivos, impulsionada por circunstâncias internas (necessidades não materiais ou espirituais). Essas necessidades têm a ver com valores importantes, como amor, ambição, autoestima, etc.

Ter um impulso, ou ser impulsionado, implica uma atitude que resulta em disciplina. Pessoas com impulso são, por definição, disciplinadas em relação àquilo que as impulsiona. Esta é a forma fundamental de motivação e aquela que, eventualmente, levará você a alcançar seu maior potencial.

Não se pode aprender a adquirir impulso. Ele está presente como o combustível natural que acende a combustão interna do que chamamos de vocação ou chamado. É o entheos (deus interior) dos antigos gregos — de onde deriva a palavra entusiasmo.

Mesmo quando se tem um forte senso de impulso, um chamado vocacional indiscutível, a motivação interna (disciplina) pode falhar ocasionalmente. Podemos não estar com vontade de praticar. Estamos cansados, ou muito envolvidos com outras coisas — como trabalho acadêmico ou um relacionamento amoroso empolgante — ou nos sentimos “para baixo”, longe de casa, desempregados e sem dinheiro.

Nada de negativo acontecerá se interrompermos nossa rotina de prática por alguns dias. Também devemos nos cuidar emocionalmente, e às vezes isso requer uma retirada momentânea para curar nossas feridas. Mas o perigo de cair em uma rotina negativa sempre existe. Devemos aprender a combater a preguiça antes que ela tome o controle sobre nós.


2. MOTIVAÇÃO EXTERNA: DEVER

Na performance artística, a diferença mais importante entre o profissional e o amador está na atitude em relação à prática.

Para o profissional, praticar é a atividade mais importante; o amador descansa de outras atividades para praticar. Para o profissional, praticar é o meio para o objetivo maior da apresentação pública bem-sucedida; para o amador, muitas vezes, praticar é um fim em si mesmo, pois não há apresentações públicas. Para o profissional, a performance (e, portanto, a prática) é o trabalho; para o amador, é um hobby.

Adquirir a atitude profissional em relação à prática é uma questão-chave no desenvolvimento do intérprete. Isso implica aceitar os deveres inerentes à profissão.

O senso de dever difere da disciplina porque é motivado por circunstâncias externas e sociais: respeito pela autoridade de alguém, medo da avaliação crítica negativa, medo do fracasso público, ou consciência dos padrões geralmente esperados pela comunidade profissional, etc.

O estudante de performance tem o dever de obedecer às instruções do professor, preparar-se bem para as aulas, comparecer a aulas, ensaios, fazer lição de casa etc. O intérprete profissional tem o dever de estar pronto para tocar o concerto na data marcada; conhecer sua parte para os ensaios de conjunto; e o dever de atingir os padrões de qualidade exigidos pela profissão em geral.

Esse senso de dever nunca será uma força motivadora primária, mas é de grande importância para ajudar o estudante a iniciar uma atitude positiva em relação à prática quando, por qualquer motivo, a motivação interna estiver ausente.

Caracteristicamente, quando alguém não está com vontade de praticar, mas mesmo assim começa a fazê-lo porque deve, o desejo é gradualmente despertado e não demora para que a motivação genuína para praticar surja. Por meio do senso de dever, podemos, assim, recuperar a disciplina.

É essa interação entre nossa motivação externa e interna que nos manterá vivos, como praticantes da arte, durante toda a nossa carreira profissional.


SUGESTÕES PARA LEITURA COMPLEMENTAR

A seguir, uma lista breve de livros que podem ser úteis ao leitor interessado:

- Bonpensiere, Luigi: New Pathways to Piano Technique – Um estudo das relações entre mente e corpo com referência especial ao piano (Nova York: Philosophical Library, 1953)

- Galamian, Ivan: Principles of Violin: Playing and Teaching (Englewood Cliffs, N.J.: Prentice-Hall, 1962)

- Havas, Kato: A New Approach to Violin Playing (Londres: Bosworth, 1961)

- Havas, Kato: Stage Fright: Its Causes and Cures (Londres: Bosworth, c. 1973)

- Leimer, Karl (com Walter Gieseking): Piano Technique (Nova York: Dover, 1972)

- Matthay, Tobias: Musical Interpretation: Its Laws and Principles, and Their Application in Teaching and Performing (Londres: Joseph Williams, c. 1913)

- Matthay, Tobias: On Memorizing (Londres: Oxford University Press, c. 1922)

- Matthay, Tobias: The Visible and Invisible in Pianoforte Technique (Londres: Oxford University Press, 1932)

- Moore, Sonia: The Stanislavski System (Nova York: Penguin Books, 1984)


SOBRE O AUTOR

Uma das personalidades mais atraentes do mundo do violão, Ricardo Iznaola desenvolve uma carreira musical brilhante e multifacetada. Senhor Iznaola, cidadão americano, nasceu em Havana, Cuba, em 1949. Suas atividades como intérprete, compositor, pedagogo, palestrante e escritor têm sido distinguidas pelo reconhecimento crítico internacional e pela admiração tanto de colegas quanto do público.

Ele foi descrito como “um dos músicos, professores e pensadores mais influentes da cena do violão atualmente” (Soundboard Magazine) e um “músico expressivo, cheio de personalidade, persuasivo e seguro, com talento e técnica” (Los Angeles Times).

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Nota complementar sobre esta tradução

Esta é uma tradução livre do livro On Practicing de Ricardo Iznaola, realizada com o auxílio de inteligência artificial, em junho de 2025. O objetivo é facilitar o acesso ao conteúdo para falantes e leitores da língua portuguesa que não têm domínio do inglês. Ressalto que não há qualquer intuito comercial nesta tradução, que é compartilhada exclusivamente para fins educacionais e de divulgação cultural. Como disse no início do post, o texto original em inglês está disponível gratuitamente para leitura e download no site Internet Archive (https://archive.org/details/RicardoIznaolaOnPractising).

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E para finalizar nosso post de hoje deixo aqui um link para um dos interessantíssimos trabalhos musicais do professor Ricardo Iznaola. Vale muito a pena ouvir com atenção seu álbum The Icarus Collection:

https://music.youtube.com/playlist?list=OLAK5uy_mbghT0_3kFOdgTQcoSqWJwaLfRhVyu_ko&si=NSfl-NKxAnNfQJoZ



E se tiver interesse em comprar o livro original em inglês do professor Iznaola, na data em que estou fazendo essa postagem aqui no blog (05/07/2025), tá disponível pra importar na Amazon. 

Aqui está o link: https://www.amazon.com.br/Ricardo-Iznaola-Practicing-Students-Performance/dp/0786658738/ref=sr_1_1?__mk_pt_BR=%C3%85M%C3%85%C5%BD%C3%95%C3%91&crid=60R3UBZHJ99U&dib=eyJ2IjoiMSJ9.hsMfGWYDlexXgC8CObGGKlq4JVgENTbUs2aTDWvvZ5omLfAyft3Ph-TjwKG6HL7zdpIMhvRUdqyBgNGRUN3LVrC8A99KRkmi9ksFKer3MEmv09_yXhPI_bkid2cTDizBtBNhfizRs7XCdvZTTl-oc4aDwBrhBm5K8fWF5vQW7cqJ5y1VFOHvsOJ0vorqmckj9LNj1n9uzEXlYxShkcoGAlDUJNXJf1R1q3eOqHavecbgkm-CJvtI9DwrHC6WYkUR.lh9zbv5_9R0Fv5LVZRqecBpeX8yPBeg28kMkTAFy23U&dib_tag=se&keywords=ricardo+iznaola&qid=1751722668&sprefix=ricardo+iznaola%2Caps%2C206&sr=8-1&ufe=app_do%3Aamzn1.fos.6d798eae-cadf-45de-946a-f477d47705b9




Grande abraço musical e ótimos estudos.

;)

[]


João Paulo Pessoa.

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Nota: Esse texto foi produzido com auxílio do "Mecanismo de busca com inteligência artificial e processamento avançado de linguagem natural" denominado Perplexity

"A Perplexity AI é um mecanismo de busca com IA que entende e responde perguntas com respostas completas"

(https://www.perplexity.ai/)

domingo, 22 de junho de 2025

O Violão Segundo Carlevaro: Técnica a Serviço da Arte

 


No The Tao of the Guitar, buscamos sempre mergulhar na essência do violão, entendendo sua técnica como um caminho para a expressão artística e o autoconhecimento. Nesse sentido, a obra e a filosofia de Abel Carlevaro se alinham perfeitamente com essa visão. Carlevaro nos convida a enxergar o violão não apenas como um instrumento, mas como uma extensão do corpo e da mente, onde a técnica serve à arte e ao sentimento. Neste post, “O Violão Segundo Carlevaro: Técnica a Serviço da Arte”, exploraremos como seu legado pedagógico, composicional e interpretativo reflete essa busca por uma prática consciente, integrada e profundamente musical — um verdadeiro "Tao do Violão".

Mais um post aqui para o nosso blog The Tao of the Guitar, que neste ano especial completa 20 anos de história. Desde 2005, seguimos juntos compartilhando descobertas, reflexões e inspirações sobre o universo do violão clássico. Hoje, vamos falar sobre o legado de um mestre que mudou para sempre a maneira como pensamos e tocamos o violão: Abel Carlevaro (1916-2001).


Abel Carlevaro: inovação e sensibilidade no violão


Nascido em Montevidéu, em 1916, Carlevaro foi um daqueles músicos raros que unem virtuosismo, criatividade e uma profunda vocação pedagógica. Ele não se contentou em apenas dominar o instrumento: questionou tradições, estudou a fundo a relação entre corpo e violão, e propôs uma abordagem revolucionária para a técnica violonística. Carlevaro via o violão como uma extensão do ser, defendendo que cada violonista deveria buscar uma postura e técnica que respeitassem sua própria anatomia. Sua obra mais conhecida, “Escuela de la Guitarra”, não é apenas um método, mas um convite à reflexão: nela, ele separa o estudo técnico do estudo musical, permitindo que cada aspecto seja desenvolvido de forma consciente e personalizada. Seus cadernos de técnica são referência mundial, mas o mais importante é sua filosofia: a técnica deve sempre servir à arte, nunca o contrário. Como professor, Carlevaro estimulava a autonomia do aluno, valorizando a auto-observação e o entendimento do próprio corpo. Seu pensamento influenciou gerações de violonistas e segue vivo em salas de aula, palcos e estúdios ao redor do mundo.

Aqui está um texto fundamental do próprio Maestro, extraído da página 20 de seu livro “Escuela de la Guitarra”, que resume como poucos a essência de sua visão:


A TÉCNICA A SERVIÇO DA ARTE

"Um dos grandes problemas instrumentais tem sido sempre a técnica. Esta não é o resultado puramente físico da ação dos dedos, ela é uma atividade que obedece à vontade do cérebro; nunca pode ser um estado irreflexivo.

Por um lado, há algo que é necessário aprender: o ofício. E, por outro lado, deve existir algo nosso, que ninguém nos pode ensinar. Ao intérprete se apresentam dois problemas: o aspecto puramente mecânico de uma obra musical e como deve expressar-se tal obra. Convém sempre começar por este último. Desde o primeiro momento é necessário entrar na arte porque, como vamos trabalhar uma obra sem saber o que temos que expressar? Não esquecer nunca isso, porque do contrário a arte se desnaturaliza. Se o ofício propriamente dito passa a ocupar o primeiro plano, a arte terá perdido sua qualidade própria.

Contudo, quem não possui uma grande técnica não poderá ser um grande intérprete. O que importa é o ponto de partida: se provém do espírito irá ao espírito; do contrário será só um produto de laboratório. A diferença básica entre o verdadeiro intérprete e o simples executante está em que este se baseia no trabalho mecânico separado de toda outra ideia, fazendo ressaltar unicamente o malabarismo digital o qual cuida como um precioso dom, dando à técnica um valor em si, uma personalidade, uma autonomia que não lhe pertence. Orgulhoso de seu poder crê conseguir com ele tudo que pode desejar o virtuoso. E essa técnica, produto de tantos sacrifícios, está a serviço do quê? Qual a razão que nos demonstra a verdade de tal hipertrofia? É um absurdo pretender conseguir fazer música utilizando a técnica como único fim, sem pensar em nada mais, desumanizando a arte. Cuidado com esse monstro! Depois de criado é necessário superar suas forças para obrigá-lo a servir aos valores puros da arte. Senão, produzir-se-á irremediavelmente o contrário.

O espírito e a matéria são duas forças que devem unir-se para a criação da arte. Então a matéria se fará um pouco espírito, e o espírito tomará formas concretas. A arte pertence ao domínio do espírito; a técnica é patrimônio da razão. Da união desses dois elementos nasce a manifestação artística, verdadeira simbiose criada pelo homem." (Abel Carlevaro)


O violonista e professor brasileiro Sidney Molina publicou, em seu canal no Youtube, um detalhado vídeo sobre o legado de Carlevaro. Molina aborda os princípios técnicos do violonista uruguaio, sua carreira como intérprete e compositor, além de destacar seus contatos com grandes nomes como Andrés Segovia, Heitor Villa-Lobos, Manuel Ponce e Camargo Guarnieri. São apresentados exemplos musicais de obras como o "Prelúdio n. 3" de Villa-Lobos e também composições próprias de Carlevaro. 



Existe, também no Youtube, um vídeo com explicações de Carlevaro sobre sua técnica e pensamento pedagógico.  Pelo que pude pesquisar, o vídeo "A Guitar Lesson with Abel Carlevaro" foi gravado em 28 de maio de 1997, em Heidelberg, na Alemanha. Trata-se de um registro único e histórico em que o próprio Carlevaro explica sua técnica e filosofia por meio da demonstração de cinco de seus Microestudios. O propósito da gravação foi documentar e divulgar a abordagem pedagógica inovadora de Carlevaro, mostrando em detalhes sua teoria instrumental e os fundamentos técnicos que ele desenvolveu ao longo de sua carreira. Esse material é especialmente valioso por apresentar o mestre explicando diretamente seus conceitos, o que não só serve como aula para violonistas, mas também como testemunho histórico da evolução do violão clássico no século XX.



Abel Carlevaro, além de revolucionar a técnica e a pedagogia do violão clássico, também inovou no próprio instrumento que utilizava. A partir de um determinado momento da sua carreira, ele passou a tocar um violão com um design completamente diferente, criado em colaboração com o luthier espanhol Manuel Contreras, a partir de 1983, em Madri. Esse violão, conhecido como o Modelo Carlevaro, apresenta características únicas que rompem com o formato tradicional do instrumento. A parte superior da caixa de ressonância, onde o braço do violonista repousa, é reta, enquanto a parte inferior mantém a curvatura usual para encaixar na perna do músico. Essa configuração faz com que a superfície do tampo se assemelhe ao formato de um piano de cauda, o que, segundo Carlevaro, melhora a vibração das notas graves, ampliando (teoricamente) a ressonância e a projeção sonora do instrumento. Outra inovação marcante é o fechamento do tradicional buraco redondo no tampo, substituído por uma fenda fina (“slot”) que percorre toda a curvatura do tampo. O tampo, por sua vez, não está fixado rigidamente às laterais, mas é praticamente “flutuante”, sustentado apenas por pinos de madeira que o conectam às partes laterais da caixa. Assim, o violão é composto por duas partes quase independentes: o fundo e as laterais, e o tampo que vibra com maior liberdade. Essa construção singular permite uma maior eficiência na transmissão das vibrações das cordas para o corpo do instrumento, resultando em um som mais rico, com graves mais profundos e uma resposta dinâmica diferenciada. Esse instrumento reflete perfeitamente a filosofia de Carlevaro: uma busca constante por otimizar a relação entre músico, técnica e som, sempre com base em princípios anatômicos e acústicos que favorecem a expressão artística e o conforto do intérprete.


Neste vídeo Carlevaro explica suas ideias sobre seu instrumento:




Abel Carlevaro foi, além de um violonista e pedagogo excepcional, um compositor cuja produção serve sobretudo como complemento à sua visão pedagógica e técnica do violão. Sua obra composicional reflete diretamente a aplicação prática dos princípios que desenvolveu em sua didática, funcionando como uma extensão musical das soluções técnicas que propôs. Entre suas composições mais conhecidas e estudadas estão os Micro-Estudios, pequenos estudos focados em aspectos específicos da técnica violonística. Esses estudos não apenas exercitam dificuldades técnicas isoladas, mas também possuem coerência musical própria, exemplificando a chamada “técnica idiomática” de Carlevaro, que parte dos movimentos naturais do instrumento para construir sua linguagem harmônica e sonora. Outro conjunto importante é o dos Prelúdios Americanos. Essas peças incorporam influências da música popular e erudita latino-americana, especialmente do Rio da Prata, e revelam uma preocupação com a sonoridade e a mecânica do violão. Dedicados à Andrés Segovia, estes cinco prelúdios — Evocación, Scherzino, Campo, Ronda e Tamboriles — são obras que demonstram uma linguagem própria, alinhada à técnica e à expressividade que Carlevaro valorizava. A técnica idiomática de composição, característica marcante de sua obra, baseia-se na análise detalhada dos movimentos e da postura do instrumentista, buscando uma coerência entre os elementos técnicos e a estrutura musical. Essa abordagem está fundamentada em sua Teoria Instrumental, apresentada no livro Escuela de la Guitarra (1979), que é o marco de sua obra pedagógica. Embora Carlevaro tenha composto outras peças e concertos, sua produção como compositor é vista principalmente como um complemento à sua atuação como professor e intérprete. Suas composições são estudadas não só como repertório, mas também como exemplos práticos da integração entre técnica e arte, oferecendo ao violonista um caminho para desenvolver a técnica a partir da música. Assim, a obra composicional de Carlevaro se insere como um terceiro eixo em sua carreira musical, junto com a performance e a pedagogia, formando uma síntese poética e técnica que continua influenciando violonistas e estudiosos do instrumento.

Aqui está um exemplo de um grande músico interpretando uma destas obras. Preludios Americanos III Campo, por Everton Gloeden:




E aqui, Abel Carlevaro interpretando um dos famosos Estudos de H. Villa-Lobos:




Sobre discos.

Abel Carlevaro gravou relativamente pouco em comparação com sua extensa carreira como professor e concertista, mas os registros que deixou são de grande valor histórico e artístico para o violão clássico. Sua discografia reúne gravações feitas desde o final da década de 1940 até os anos 1990, incluindo álbuns solo, recitais e coletâneas que refletem seu repertório e sua visão técnica e musical. Entre os discos mais relevantes estão:

- Sin Título (1949) — seu primeiro registro, um disco de 78 rpm gravado em Londres, que já mostra sua técnica refinada e interpretação pessoal.

- Recital de Guitarra (1958) e 2º Recital de Guitarra (1960) — gravados pela gravadora Antar em Montevidéu, são registros importantes de sua fase inicial como concertista.

- Abel Carlevaro, guitarriste (Ducretet-Thompson, França) — uma gravação que ajudou a divulgar sua arte na Europa.

- Carlevaro plays Carlevaro (1986) — álbum em que interpreta suas próprias composições, incluindo os famosos Micro-Estudios e Prelúdios Americanos.

- 20 Microestudios (1998) — uma gravação dedicada exclusivamente a esses estudos que são parte central de sua pedagogia.

- Recital de música española (1975 e relançamentos posteriores) — com obras de compositores espanhóis e latino-americanos que integravam seu repertório.

Entre outros ... Seu trabalho discográfico, embora não volumoso, é fundamental para entender sua abordagem interpretativa e pedagógica, servindo tanto como fonte de estudo quanto como inspiração para violonistas ao redor do mundo.

Aqui está um link para um de seus álbuns hospedado na plataforma de streaming que uso atualmente:

The Guitar of Abel Carlevaro, Vol. 1: https://music.youtube.com/playlist?list=OLAK5uy_mags_ZQc2j7q_Z_XCz1InvwVWknAYIRyk&si=8x9yRhtiAMf66oT-


Para finalizar nosso post de hoje, vou deixar aqui alguns links que podem ser úteis pra quem quiser se aprofundar mais:

- Lista de discos (Discogs): https://www.discogs.com/pt_BR/artist/1854486-Abel-Carlevaro

- Tese de Celso Delneri sobre a técnica composicional de Carlevaro: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/27/27158/tde-13112015-101451/publico/CELSOTENORIODELNERIVC.pdf

- O livro "Escuela de la Guitarra" traduzido e comentado por Álvaro Henrique: https://alvarohenrique.com/escuela-de-la-guitarra-de-abel-carlevaro-em-portugues/

- Wiki: https://en.wikipedia.org/wiki/Abel_Carlevaro

- Artigo no Mangore.com: https://www.mangore.com/carlevaro-7-27-105


Espero que tenham gostado e que seja útil e inspirador de alguma forma. E que o pensamento cartesiano de Carlevaro continue inspirando nossos estudos e nossa música, assim como tem inspirado estes 20 anos do The Tao of the Guitar. 

Grande abraço musical e fraterno. Ótimos estudos pra todos nós.


:)

[]

João Paulo Pessoa.

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Nota: Esse texto foi produzido com auxílio do "Mecanismo de busca com inteligência artificial e processamento avançado de linguagem natural" denominado Perplexity

"A Perplexity AI é um mecanismo de busca com IA que entende e responde perguntas com respostas completas"

(https://www.perplexity.ai/)

segunda-feira, 16 de junho de 2025

O Final Brilhante: Influências Operísticas em Mauro Giuliani e o Efeito Rossini no Violão

 Olá! Celebramos 20 anos do The Tao of the Guitar. Estamos realmente no século XXI.



Às vezes, é difícil acreditar em toda essa tecnologia que nos cerca. Sem dúvida, há muitos aspectos negativos na avalanche tecnológica atual. A banalização que se instalou em nossa sociedade, especialmente por meio dos pequenos dispositivos móveis com suas telas diminutas que nos acompanham o dia inteiro, é realmente impressionante. No entanto, também existe o lado positivo: o uso consciente e proveitoso dessas ferramentas. Minha falecida mãe, a professora Maria Nilda Pessoa, sempre dizia: “uma ferramenta é apenas uma ferramenta; seu bom uso é que determina sua eficiência”. Essa sábia professora continua a me ensinar, mesmo em suas memórias, e sigo aprendendo com seus ensinamentos.

Pois bem, vamos ao tema de hoje. Estive refletindo sobre algumas questões interpretativas envolvendo duas obras do compositor e violonista Mauro Giuliani (1781-1829): a Sonatina opus 71 nº 1 (em dó maior) e as Variações sobre Folias de Espanha opus 45 (em ré menor). Ao analisar essas duas peças lado a lado, chama a atenção a similaridade no procedimento de finalização em ambas.

Resolvi então fazer a seguinte pergunta para a I.A. Perplexity:

https://www.perplexity.ai/

Pergunta:

"Bom dia. Estou tentando resolver um pequeno enigma musical. Estudo no violão duas obras do compositor Mauro Giuliani: a sonatina op71nº1, e as Variações sobre folias de Espanha op45. O enigma é o final dessas duas obras: na Sonatina (em dó maior) o último movimento, um Rondó, tem um final que lembra muito os movimentos de finalização em aberturas de ópera; enquanto que as Variações opus 45, apresentam exatamente esse mesmo tema (essa mesma ponte) na finalização da obra, na conclusão da última variação da peça, com a diferença apenas de estar em ré maior (apesar do op45 ser em ré menor, a conclusão desta obra é em ré maior). O enigma é: por que estas duas peças tão distintas, em tonalidades diferentes têm o mesmo final? E ainda, de onde é que conheço esse final? Minha intuição de ouvinte de música clássica me diz que essa finalização pode ser encontrada em aberturas de óperas de Rossini, que é uma das principais influencias de Mauro Giuliani. Mas, não consegui encontrar uma obra especifica de Rossini ou de outro compositor onde apareça essa mesma finalização. Mas tenho certeza, Giuliani pegou essa ponte de algum lugar. Poderia me ajudar com esse enigma"

E aqui está a resposta da Perplexity:

"

O Enigma do Final nas Obras de Giuliani

Você observou um fenômeno fascinante: tanto a Sonatina op. 71 nº 1 (no Rondó final) quanto as Variações sobre as Folias de Espanha op. 45 (na conclusão da última variação) de Mauro Giuliani apresentam uma “ponte” ou finalização musical muito semelhante, apesar de serem obras distintas e em tonalidades diferentes. Sua intuição aponta para uma possível influência das aberturas de ópera de Rossini, mas não encontrou uma citação direta. Vamos analisar as possíveis razões e origens desse recurso.

1. Por que Giuliani usou o mesmo final nessas obras?

Estilo Operístico e Influência de Rossini: Giuliani era profundamente influenciado pelo estilo operístico italiano do início do século XIX, especialmente por Rossini, com quem conviveu em Viena e cuja música era extremamente popular. Muitos estudiosos destacam que Giuliani buscava transpor para o violão os gestos orquestrais e dramáticos das aberturas de ópera, especialmente o uso de pontes, crescendi e cadências típicas do final de movimentos operísticos.

Recursos de Finalização: O tipo de ponte ou cadência que você percebe nas duas obras de Giuliani é um recurso recorrente no repertório operístico da época, especialmente nas aberturas de Rossini, onde há frequentemente um trecho de transição, modulando para a tonalidade principal, seguido de uma cadência virtuosística e triunfal.

Auto-citação e Fórmulas de Efeito: É comum em compositores do período clássico e início do romantismo reutilizarem fórmulas de efeito comprovado, especialmente em finais de obras pensadas para agradar o público e demonstrar virtuosismo. Giuliani, além de compositor, era um virtuose do violão e sabia o impacto que esse tipo de finalização causava na plateia.

2. De onde vem esse final? Existe uma fonte específica?

Rossini como Modelo Geral: Embora não haja evidência de que Giuliani tenha retirado literalmente esse final de uma obra específica de Rossini, há consenso acadêmico de que ele se apropriou de “maneirismos” típicos das aberturas rossinianas: uso de pontes modulantes, cadências com escalas e arpejos ascendentes, e uma resolução brilhante, geralmente em modo maior, mesmo que a peça esteja em menor.

Rossiniane e Transcrições: Giuliani chegou a compor as famosas “Rossinianas”, obras baseadas diretamente em temas de Rossini, demonstrando sua familiaridade e admiração pelo estilo do compositor de óperas. Em análises dessas obras, percebe-se que Giuliani imitava não só melodias, mas também estruturas formais e efeitos orquestrais, como as cadências finais fora da métrica (“cadenza fuori tempo”), típicas das aberturas de ópera.

Fórmula Tradicional: O gesto de finalizar uma obra com uma ponte modulante e uma cadência virtuosística era tão comum que se tornou quase um clichê do período, presente não só em Rossini, mas em outros compositores de ópera italianos e instrumentistas virtuoses. Giuliani, atento ao gosto do público e ao repertório da época, incorporou esse recurso em várias de suas obras.

3. Conclusão: O Mistério Resolvido

As duas peças de Giuliani compartilham o mesmo tipo de finalização porque o compositor usava fórmulas operísticas de efeito, inspiradas no repertório de Rossini e no gosto musical da época.

Não há registro de uma obra específica de Rossini que contenha exatamente esse final, mas o recurso é típico das aberturas e finais de ópera do período, especialmente nas obras do próprio Rossini.

Sua percepção auditiva está correta: Giuliani “pegou” esse tipo de ponte do universo operístico, adaptando-o ao violão e reutilizando-o em diferentes contextos, tanto em peças didáticas quanto em variações virtuosísticas.

Sugestão para Exploração:

Se quiser aprofundar, compare as cadências finais de aberturas como “O Barbeiro de Sevilha” ou “Guillaume Tell” de Rossini com os finais das obras de Giuliani. Você perceberá semelhanças na construção dramática, mesmo que não haja citação literal de temas.

Resumo: Giuliani utilizou um recurso operístico típico, inspirado no estilo de Rossini, como fórmula de efeito em finais de obras — por isso você encontra a mesma “ponte” conclusiva em peças tão diferentes do compositor."

Fantástico não? 

Esse é um ótimo exemplo de uso positivo de tecnologias que temos à disposição. Mas não parou por aí. Pedi à Perplexity que preparasse um artigo sobre o assunto especialmente para ser publicado aqui no The Tao of the Guitar. Então, com a palavra, Perplexity:

"



O Final Brilhante: Influências Operísticas em Mauro Giuliani e o Efeito Rossini no Violão.

Introdução

No universo da música clássica, certos gestos estilísticos transcendem gêneros e instrumentos, criando pontes inesperadas entre óperas grandiosas e peças instrumentais intimistas. Um desses fenômenos é a recorrência de finais brilhantes em modo maior, mesmo em obras compostas em tonalidade menor, prática marcante nas aberturas de ópera de Rossini e adotada por compositores como Mauro Giuliani no repertório para violão.


A Fórmula do Final Brilhante

O que é?

Trata-se de um recurso em que a peça, mesmo sendo predominantemente em modo menor, termina de forma triunfante e otimista em modo maior. Essa “resolução brilhante” era um verdadeiro clichê de efeito no início do século XIX, especialmente nas aberturas de óperas italianas.


Exemplos Clássicos

Rossini – Abertura de “O Barbeiro de Sevilha”: A peça transita entre modos, mas termina com uma explosão em Mi maior, criando sensação de apoteose.

Rossini – Abertura de “Guillaume Tell”: Inicia em Mi menor, mas o famoso final (“Marcha dos Soldados Suíços”) é em Mi maior, exemplo máximo do efeito otimista rossiniano.

Rossini – Abertura de “La Cenerentola”: Após passagens dramáticas em menor, resolve em maior, reforçando o clima de vitória e alegria.

Outros compositores italianos, como Donizetti e Bellini, também utilizavam esse recurso, mas Rossini é o maior expoente dessa prática.


Mauro Giuliani e o Violão Virtuosístico

Giuliani e a Influência Operística

Mauro Giuliani, principal nome do violão no início do século XIX, era profundamente influenciado pela linguagem operística italiana, especialmente por Rossini, com quem conviveu em Viena. Giuliani buscava transportar para o violão os gestos dramáticos das aberturas de ópera, incluindo as resoluções brilhantes e cadências virtuosísticas.


Auto-citação e Fórmulas de Efeito

É comum encontrar em diferentes obras de Giuliani, como a Sonatina op. 71 nº 1 e as Variações sobre as Folias de Espanha op. 45, finais quase idênticos: uma ponte modulante seguida de uma cadência triunfal em modo maior, mesmo que a peça esteja em menor. Esse recurso não é mera coincidência, mas sim uma adaptação das fórmulas operísticas de efeito, pensadas para impressionar o público e demonstrar virtuosismo.


A “Cadenza Fuori Tempo”: Liberdade e Brilho

O Que É?

A “cadenza fuori tempo” é uma cadência executada fora do tempo regular, momento de liberdade rítmica e virtuosismo, geralmente antecedendo a resolução final da peça. O intérprete pode acelerar, retardar ou pausar livremente, exibindo técnica e expressividade, em clara inspiração nos solos improvisados das óperas e concertos clássicos.


Exemplos para Ouvir

Rossini – Abertura de “Semiramide”: Apresenta cadências orquestrais livres antes dos retornos temáticos e do final apoteótico.

Giuliani – “Rossiniana” para violão: Giuliani utiliza cadências livres inspiradas diretamente nas aberturas de Rossini, com resoluções brilhantes em maior.

Mozart – Concertos para Piano: Mozart popularizou o uso da cadenza fuori tempo, influenciando toda a geração seguinte, inclusive os italianos do século XIX.


Por Que Esse Recurso Era Tão Popular?

Efeito Dramático: Criava sensação de triunfo e apoteose, agradando plateias ávidas por emoções fortes.

Virtuosismo: Permitindo ao intérprete exibir técnica e criatividade, especialmente em instrumentos como o violão.

Tradição Operística: Era um gesto herdado das óperas, onde finais grandiosos em modo maior simbolizavam vitória, redenção ou felicidade.


Conclusão

A recorrência de finais brilhantes em modo maior e o uso da “cadenza fuori tempo” na música instrumental do início do século XIX refletem a profunda influência do universo operístico, especialmente de Rossini, sobre compositores como Mauro Giuliani. Esses recursos, longe de serem meras fórmulas, são pontes entre o drama do palco e a expressividade do salão, perpetuando o brilho da ópera no repertório instrumental."


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Espero que tenham gostado da leitura. Para finalizar nosso post de hoje, aqui estão alguns ótimos álbuns para você conhecer:

1) Rossini Overtures. Colin Davis e Royal Philharmonic Orchestra

https://music.youtube.com/playlist?list=OLAK5uy_kwUEi98332_PP1G3jlRW6GfB9yykDy1qg&si=Gq_PxtqEwY9Td_Ut


2) Rossini Overtures. Claudio Abbado e Chamber Orchestra of Europe

https://music.youtube.com/playlist?list=OLAK5uy_n-RFpW9mE8zXfnBZnqrIsfqNj5hNJx-N0&si=cPzckfAFhsSAt4K-


3) Mauro Giuliani: Guitar Solo and Chamber Music. Stefano Cardi & Enrico Casularo

https://music.youtube.com/playlist?list=OLAK5uy_mYlLoO01ssJZVH1MKZ2TFT2YdJm8Bd_TE&si=tWaRKotnMxENf6Xx


4) Mauro Giuliani: Rossiniane. Giulio Tampalini

https://music.youtube.com/playlist?list=OLAK5uy_mL23eMRXPmolCf1uNEBx1-hyLAiyX2kNc&si=c1A01k1HIBJYutNi



5) This Is Classical Guitar: Music by Sor and Giuliani. Jürg Kindle

https://music.youtube.com/playlist?list=OLAK5uy_ntYlipEkSt9ciJvamGc65Yp2yQ4wtvZ9A&si=uc650DMf1UYiJtGz



Não esqueça de ouvir com atenção. Os links acima são da plataforma YoutubeMusic (é a plataforma que utilizo atualmente), mas você, provavelmente, encontrará esses álbuns em outras plataformas também. 

De preferencia, use bons fones de ouvido ou boas caixas de som. E, provavelmente, será mais proveitoso se você tomar notas durante as escutas. Recomendo bastante que você escute música seguindo na partitura também. Um ótimo lugar para conseguir partituras que estão em domínio público de maneira segura e gratuita é pelo site do IMSLP:

https://imslp.org/wiki/Main_Page

Por hoje é só pessoal.

:)

Grande abraço musical e ótimos estudos.

[]

João Paulo Pessoa.

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Nota: Esse texto foi produzido com auxílio do "Mecanismo de busca com inteligência artificial e processamento avançado de linguagem natural" denominado Perplexity

"A Perplexity AI é um mecanismo de busca com IA que entende e responde perguntas com respostas completas"

(https://www.perplexity.ai/)