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quarta-feira, 30 de julho de 2025

Além do Streaming: O colecionismo de discos como caminho para uma escuta mais profunda.

 



O The Tao of the Guitar faz 20 anos!

É com enorme alegria que celebramos  — em 2025 — duas décadas de existência do nosso blog The Tao of the Guitar

Desde 2005, dedico este espaço a compartilhar ideias, descobertas e paixões ligadas à arte de fazer música com o violão e à compreensão mais profunda daquilo que nos move enquanto músicos, ouvintes e, sobretudo, aprendizes.

Hoje iremos abordar um tema fundamental para o desenvolvimento artístico e intelectual de quem se dedica à música clássica: a importância do colecionismo de discos — especialmente CDs — para estudantes e ouvintes desse universo.


Muito além do streaming: por que colecionar discos importa

Vivemos a era do streaming, da abundância e do acesso instantâneo. No entanto, para quem busca formação musical sólida, especialmente na música clássica, a experiência do contato direto com discos revela riquezas que nenhuma plataforma digital consegue substituir.


Os encartes: aprendizado na palma da mão

Lembro com viva nitidez do quanto aprendi lendo encartes de CDs e LPs na minha juventude. Eles não são apenas complementos: trazem análises de obras, histórias dos intérpretes, detalhes sobre gravações — um rico material pedagógico, fundamental para quem quer ir além da escuta passiva e se embrenhar nos contextos histórico, estilístico e interpretativo das músicas estudadas.


A materialidade: foco, inspiração e concentração

Existe um poder inspirador inegável no objeto palpável. O simples fato de pegar um CD, apreciar a arte gráfica, folhear o encarte e posicionar o disco no player transforma a escuta em ritual: aumenta o foco, aprofunda a concentração e promove uma escuta ativa plenamente imersiva, muito diferente da relação fugaz e dispersa que, por vezes, temos ao ouvir música em meio a múltiplas distrações digitais.


Organização e pesquisa: a experiência do colecionador

O colecionismo permite construir uma biblioteca auditiva personalizada. Ao organizar minha estante por compositores, intérpretes ou escolas interpretativas, consigo visualizar relações, tradições e evoluções musicais de modo que nenhum serviço de streaming proporciona. Em música clássica isso é essencial: dificilmente playlists digitais respeitam movimentos de sonatas, sinfonias, suítes — e, para o entendimento do todo, ouvir essas obras de forma integral faz toda diferença.


Qualidade de som: o CD reina absoluto (ao lado do bom vinil)

Para quem exige qualidade sonora — dinâmica, silêncio, transparência —, nada supera o CD, sobretudo em comparação com arquivos comprimidos do streaming. Vinil também ocupa um lugar histórico e afetivo, mas o CD traz praticidade, baixíssimo ruído e precisão, fatores decisivos em repertórios com nuances detalhadas, como a música de câmara, as gravações históricas ou as gravações de instrumentos solo (Violão, Alaúde, Piano, Cravo etc ... ou mesmo instrumentos de corda friccionada tocando obras solo como as Suites para Celo de Bach , por exemplo).


O papel de plataformas como Discogs — e a compra online

Hoje, comprar CDs novos tornou-se tarefa quase exclusivamente digital. Lojas físicas rarearam, mas a Amazon, Imusic e outras plataformas viabilizam que continuemos a alimentar nossas coleções. E, para raridades, edições especialíssimas ou pesquisa minuciosa de informações técnicas e históricas, o Discogs é fonte indispensável: ali catalogo parte da minha coleção, Sigo aprendendo nos fóruns e, por vezes, adquiro discos de outros apaixonados mundo afora.


Entendendo discografias: pesquisa e trajetória interpretativa

Para o estudante de música clássica, mapear discografias de intérpretes é fonte de descobertas inesgotáveis. Como mostra o trabalho do professor Sidney Molina, “O Violão na Era do Disco: interpretação e desleitura na arte de Julian Bream”, muito do repertório do violão e de outros instrumentos se construiu pelas gravações — conhecer as diferentes leituras de uma mesma obra é uma das maiores aventuras do ouvinte atento, trazendo ensinamentos que vão (muito) além das partituras.


Por que abandonar o colecionismo empobrece o ouvinte clássico

A cultura do colecionismo preserva história, memória afetiva, profundidade intelectual. Quem ignora completamente esse universo tende a perder a chance de explorar abordagens interpretativas, trajetórias editoriais, partituras raras, encartes informativos — e, acima de tudo, abdica de uma relação mais íntima e comprometida com o ato de ouvir música.


Minha história com discos: entre memórias e redescobertas

Sou uma criança dos anos 70. Cresci em uma casa inundada por discos — vinil, fitas K7 (originais e gravadas), fitas de rolo e, a partir dos anos 80, os ainda raros e caríssimos CDs. Meu pai era fã inveterado de ópera, jazz, música de câmara, orquestra, MPB — e audiófilo de primeira: nossa sala guardava um sistema HI-FI lendário, com um receiver Sansui quadrifônico, toca-discos Philips, tape-deck AKAI, gravador de rolo ("Reel to Reel") AKAI e, depois (nos anos 80), um CD player Sony que tocava, entre outros, as sinfonias de Beethoven em edições japonesas (ainda vivas em minha coleção).

Nota: as imagens a seguir são apenas ilustrativas.






A trilha sonora da casa transitava pelos universos mais plurais: música antiga, frevo, música francesa, folclores do mundo, violão solo, e por influência dos meus irmãos, rock dos anos 70 como Pink Floyd, Led Zeppelin, Beatles e Stones. Eram tempos de descobertas e aprendizado coletivo em família.

E tinha também o aprendizado com os amigos e com as famílias de amigos próximos. Meus grandes amigos de infância Alain Guerra e Mathias Anguita Echiburu foram importantíssimos nesse sentido em minha formação musical. Muito dos meus gostos por rock dos anos 70 se deram também por causa deles. O tio de Alain ("Tio Dido") tinha uma coleção imensa de discos com materiais que eram completamente inacessíveis pra nós na época... "Dido" era generoso o suficiente pra deixar as crianças ouvirem. Devo muito a esses dois grandes amigos e às suas famílias. Não consigo mensurar o quanto aprendemos juntos ouvindo tantos discos e investigando minuciosamente as capas e encartes daquela coleção incrível. É uma memória que sempre inunda de gratidão o meu coração.

No final dos anos 80, após a perda do meu pai, os vinis e a era do HI-FI começaram a desaparecer lá em casa. Boa parte dos equipamentos foi se desfazendo aos poucos — era a ascensão do Walkman, do Discman, daqueles Boombox nem sempre agradáveis — e o ritual de comprar vinil já não tinha o mesmo encanto para nós. Mesmo assim, os discos mais importantes permaneceram protegidos, quase como relíquias familiares, e ninguém tinha coragem de abrir mão de algo tão significativo. Aos poucos, fui adquirindo CDs nos anos 90 e 2000, mas não me via como colecionador: eu simplesmente queria ouvir música, fosse nos grandes “bolachões” ou nos compactos CDs, sempre atento aos encartes, que eu adorava folhear.

Quando a internet chegou de vez no meu dia a dia, já nos anos 2000, fiquei fascinado pela possibilidade de baixar música com softwares nada ortodoxos (alguns deles usavam tapa-olho, tinham mão de gancho, perna de pau e bebiam rum) — foi a fase do E-Mule, com HDs abarrotados de álbuns, discografias inteiras e encartes digitalizados. Isso expandiu meu universo musical enormemente, até porque os próprios professores da universidade incentivavam a ouvir de tudo. Durante esse período importante, aprendi muito apenas explorando aquele oceano musical digital. Depois vieram os smartphones e o streaming, que no início me entusiasmaram, mas, (um pouco mais tarde) quando eu já era um professor, fui me dando conta do que estávamos deixando para trás ao abandonar o contato físico com os álbuns. Uma saudade dos discos começou a crescer, uma vontade de retomar aquela relação tátil e concentrada com a música.

Foi então que resolvi remontar um sistema HI-FI e reestruturar minha coleção de discos. Alguns discos de vinil, e, também, alguns CDs haviam sobrevivido apenas como lembranças da infância e juventude; cuidei deles, limpei cada peça e voltei a comprar novos discos, percebendo, agora com mais consciência, que meu formato preferido é mesmo o CD — prático, eficiente e perfeito para música clássica. Meu sistema HI-FI atualmente é enxuto e funcional: um par de monitores Edifier S-1000 MKII, notebook com interface Scarlet 1818, um DAC/Preamp Fiio, CD Player TEAC CD-P650, toca-discos Audio-Technica LP-120 e fone Audio-Technica ATH M50x. Aprender sobre DAC, Toslink e tantos detalhes técnicos me fez enxergar de vez o potencial impressionante do CD, especialmente quando o equipamento corresponde. Com certeza, meu Sistema atual não é um grande sistema como o que meu pai tinha nos anos 70 ... mas tenho, como meu equipamento, um som muito mais preciso de CDs, algo que eu não sonhava ser possível. O uso dos DACs dedicados para CDs e as diferentes maneiras de conversão do sinal, abriram portas oníricas pra audição das mini-bolachinhas prateadas; além do acesso ao streaming, claro (sim, eu uso streaming também ... não seja radical). 

:)

Nota: as imagens a seguir são apenas ilustrativas.





Com o novo sistema montado, comecei realmente a me entender como colecionador — vendo nos discos um capítulo vivo do meu caminho musical. Passei a mergulhar ainda mais nas informações dos encartes, nas histórias dos intérpretes, nas curiosidades de selos e gravações. Aos poucos, comecei a compartilhar esse olhar com alunos e colegas no Conservatório Pernambucano de Música, sentindo que era fundamental alertar a todos sobre o valor da mídia física e do colecionismo, e sobre tudo o que se perde quando abandonamos isso sem reflexão.

Hoje, minha coleção tem cerca de 150 LPs e aproximadamente 1.100 CDs, sendo essa última parte ampliada por aquisições pessoais e, também, por doações generosas. Estes números são apenas uma especulação, pois realmente não fico contando. Compartilho esse amor pelo colecionismo de discos com alunos e colegas, sempre ressaltando: a mídia física é um refúgio para a alma, uma ponte entre o passado e o presente, entre o mundo material e o sonho, entre o afeto e a erudição musical.

Vou deixar aqui algumas fotos reais do meu atual Sistema HI-FI. São imagens descompromissadas e triviais do dia-a-dia de estudos e escutas ... por favor, não reparem a bagunça.

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O convite

Se você chegou até aqui, espero ter despertado a vontade de explorar mais o mundo dos discos — por aqui, em outros posts do The Tao of the Guitar, você encontra muitas indicações de álbuns essenciais para ouvir, mergulhar e aprender. E, para os curiosos, convido a visitar a parte da minha coleção que cataloguei no Discogs. Que esse blog continue sendo, por anos a fio, um ponto de encontro entre a paixão pelo violão, o amor pelos discos e a busca incessante pelo conhecimento musical.

Veja aqui minha página do Discogshttps://www.discogs.com/user/jpguitar

e o nosso álbum incrível de hoje:

Lang Lang - Bach: Goldberg Variations (Extended Edt.)


https://music.youtube.com/playlist?list=OLAK5uy_kxtLPf52mtVuboPQsZRc2d7giykhmGIjo&si=WeoWeWxe4OUHYPYX


Grande abraço musical.

Boas escutas e ótimos estudos.

[]

João Paulo Pessoa.

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Nota: Esse texto foi produzido com auxílio do "Mecanismo de busca com inteligência artificial e processamento avançado de linguagem natural" denominado Perplexity

"A Perplexity AI é um mecanismo de busca com IA que entende e responde perguntas com respostas completas"

(https://www.perplexity.ai/)

Um comentário:

Joao Paulo Pessoa disse...

Que alegria ver este texto publicado aqui no The Tao of the Guitar! Esta postagem marca um ponto de virada importantíssimo: celebrar a materialidade do som e o valor do colecionismo de discos, especialmente para quem ama música clássica. Sinto que ao compartilhar minha trajetória e reflexões, abro um novo caminho no blog — não só para falar de discos de forma mais pessoal e aprofundada, mas também para revisitar álbuns, analisar equipamentos de áudio, discutir edições raras e, enfim, valorizar toda a experiência “física” da música em plena era digital.

Até aqui, tenho trazido muitas dicas de livros, partituras e indicações gerais de discos, mas acredito que chegou a hora de expandir ainda mais — detalhar as histórias por trás das gravações, experimentar novos equipamentos e dividir essas descobertas com vocês. O universo da mídia física, do HI-FI ao simples CD player, é repleto de nuances capazes de transformar nossa escuta e nosso estudo musical.

Convido todos a acompanharem de perto essa nova fase do blog, participando com ideias, relatos e dicas. Que venham os reviews de álbuns, de sistemas de som, de acessórios e tudo mais que possa enriquecer nossa jornada como ouvintes atentos. E que possamos continuar celebrando juntos a paixão pelo violão, pela música e pelo infinito universo dos discos!