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segunda-feira, 1 de setembro de 2025

20 anos do "The Tao of the Guitar" e um convite para uma imersão na música de Paul Galbraith


Neste ano comemoramos 20 anos de existência do blog The Tao of the Guitar! Desde 2005, temos compartilhado com nossos leitores uma diversidade de conteúdos: dicas de leitura, indicações de materiais técnicos, relatos de experiências musicais, análises, fotos, poesias e diversas abstrações sobre a arte de fazer música ao violão. Convidamos todos a navegar pelas postagens antigas e descobrir esse rico acervo, que é fruto de uma caminhada constante de aprendizado e reflexão.

O nome do nosso blog traduz um ideal: unir o estudo técnico e artístico do violão a uma ideia mais profunda de caminho — um caminho espiritual, uma ferramenta de autoconhecimento. É essa perspectiva que buscamos cultivar, tanto na prática do instrumento quanto na vivência pessoal. E é justamente nesse espírito que queremos falar hoje da música de Paul Galbraith, um artista cuja arte ressoa profundamente com os valores musicais, artísticos, estéticos, filosóficos e espirituais que defendemos em nosso espaço.

Paul Galbraith é um violonista renomado, com uma trajetória brilhante. Sua música, seus discos e sua técnica única, aliada a seu violão de 8 cordas e sua postura viosionária, nos encantam e inspiram. A delicadeza, a precisão e a profundidade com que ele aborda o repertório são um convite a um mergulho profundo na música.

Em 2010, tive a oportunidade singular de participar de uma masterclass com Paul Galbraith durante um importante festival internacional de violão. Fui selecionado entre poucos alunos para ter esse contato direto com ele, uma experiência transformadora que já relatamos em um texto aqui no blog, que recomendo a todos lerem, pois traz detalhes e insights valiosos:

 https://thetaooftheguitar.blogspot.com/2010/03/vi-fenavipi-masterclass-com-paul.html 


Para mim, esse contato pessoal foi decisivo para aprofundar minha conexão com sua arte.


Quanto ao disco Sonatas e Partitas, lançado em 1998, só tive acesso alguns anos depois, provavelmente após 2005. Naquela época, antes da consolidação dos serviços de streaming no Brasil, dependíamos de amigos, professores e do compartilhamento de arquivos para descobrir gravações de grandes músicos. Lembro claramente da impressão ao ouvir as gravações em mp3 deste disco, que não saía da memória do meu player digital. Curiosamente, mesmo tendo hoje o CD físico em mãos, o disco continua comigo no mp3 player — um sinal da importância e da intimidade que ele conquistou em minha vida musical.

Logo nas primeiras audições, mesmo sem acesso ao encarte, a detalhes ou às ideias interpretativas de Galbraith, percebi intuitivamente várias nuances que depois confirmei ao ler o texto do próprio artista. Uma delas é a sensação de que as Sonatas e Partitas formam um conjunto único, uma verdadeira "suíte de suítes". Um dos elementos que mais me chamou atenção foi a aparente "unidade de pulso" entre as faixas, que imprime ao disco um caráter reflexivo e hipnótico. É um verdadeiro refúgio para a alma, uma imersão onde o ouvinte se funde com o violonista e seu som.

O disco é dividido em dois CDs: no primeiro, temos as Sonatas 1 e 2 e a Partita 1; no segundo, as Partitas 2 e 3 e a Sonata 3. Sinto que o primeiro disco representa uma peregrinação, uma caminhada que sai de um ponto e determina um destino certo. Esse destino, sem dúvidas, é alcançado no começo do segundo disco, com a emblemática Partita nº 2, especialmente sua Chaconne. A Sonata 3 e a Partita 3, por sua vez, me parecem simbolizar o retorno — uma verdadeira viagem espiritual.

Um ponto técnico interessante a mencionar é a escolha das tonalidades no disco: apenas as Partitas 1 e 3 mantêm as tonalidades originais. A Partita nº 2, BWV 1004, que normalmente se toca em ré menor, é aqui apresentada por Galbraith em mi menor, causando um certo estranhamento. Essa escolha pode estar relacionada ao seu violão de 8 cordas, conhecido como Brahms-Guitar, que provoca adaptações próprias. Mas, ao refletir, percebemos que mudar tonalidades em obras de Bach ao adaptá-las para outros instrumentos é uma prática comum — as famosas Suites para violoncelo, por exemplo, raramente são executadas satisfatoriamente no violão na tonalidade original. O próprio Bach recorria a esse recurso ao adaptar suas obras e de seus contemporâneos para outros instrumentos. Assim, essas decisões se tornam plenamente compreensíveis.

Gostaria de avisar ao leitor que, logo abaixo, está a tradução para o português do texto do encarte do CD "Sonatas and Partitas" de Paul Galbraith. Ressalto que o objetivo dessa tradução é puramente pedagógico: facilitar o acesso de alunos e leitores ao conteúdo rico que acompanha a música, já que na maioria das plataformas de streaming ele não está disponível. Escutar o disco com o encarte em mãos é uma experiência muito mais completa e enriquecedora.

Um link para ouvir o disco em um serviço de streaming será deixado ao final da tradução. Mas esse disco é bastante difundido e, atualmente, pode ser encontrado facilmente nas principais plataformas de streaming musical.





Tradução do encarte "Sonatas and Partitas" - Paul Galbraith


"

Dedicado a George Hadjinikos, grande músico e professor, em seu 75º ano.

P.G. ... 


Já em 1958, Julian Bream publicou um artigo na Guitar Review dizendo que as Seis Sonatas e Partitas para violino eram ideais para o violão, como se tivessem sido escritas para esse instrumento. O próprio conceito fluido de Bach sobre a intercambialidade possível entre instrumentos nestas obras pode ser claramente visto pelo fato de que a Terceira Partita para violino existe em uma versão original para alaúde (BWV 1006A), e que a Segunda Sonata para violino também existe em uma versão para teclado.

Para minha própria transcrição das Sonatas e Partitas — ou “6 Solo”, como Bach chamou — me apoiei nas próprias transcrições de Bach, assim como na adaptação para alaúde contemporânea da Fuga da Sonata I e na maravilhosa versão para piano de Brahms da Chacona para apenas a mão esquerda. Para as demais obras, tratei os arranjos conforme as exigências da música, pois a textura da escrita varia consideravelmente. Para mim, essa variação de textura foi intencional por parte de Bach para proporcionar diversidade e contraste. Assim, houve momentos em que senti que era vital não adicionar nada em movimentos de linha única. Os Doubles na Partita I, por exemplo, sugerem uma textura polifônica rica principalmente por uma supressão consciente de “preenchimento”. Mas também há ocasiões em que a música parece exigir uma realização mais cheia, e aqui fiz pleno uso da extensão do alaúde barroco do meu violão de 8 cordas.

Bach escreveu o conjunto alternando as formas: Sonata I, Partita I, Sonata II, Partita II, Sonata III, Partita III. Algumas leituras agruparam as três Sonatas juntas e as três Partitas separadamente. Não que essas versões não funcionem! Mas era um sonho meu há algum tempo poder tocar o “6 Solo” da forma como foi composto, pois tinha uma forte intuição de que foi concebido como uma única peça, como uma “suíte de suítes”. Foi com o desenvolvimento do meu novo violão de 8 cordas em 1994 que encontrei uma forma de executar essa música “de uma vez só”, já que as cordas extras aguda e grave permitiram manter a mesma afinação durante toda a peça. Enquanto a estudava neste instrumento e a apresentava ao longo dos anos, comecei a perceber as interconexões dentro da música.

Agora estou convencido de que um fio temático percorre a obra, e que suas origens estão em um Urtema (tema raiz), que é o tema da Fuga da Sonata III. Esse Urtema é ele mesmo uma variação do “Come Holy Ghost”, um hino popular da época que simboliza a Ressurreição de Cristo. O uso desse tema da Ressurreição no final de uma obra longa — que se poderia chamar épica — de Bach, que personificou a visão de Lutero da “teologia através da música”, sugere fortemente uma narrativa ao estilo bíblico. Minha impressão pessoal é que o “6 Solo” é uma história gospel instrumental em forma de tríptico, contando o Nascimento, a Paixão e a Ressurreição de Cristo.

Aqui estão algumas pistas para essa narrativa conforme a vejo:

Após a introdução declamatória do Adagio de abertura, Bach nos dá uma fuga que lembra muito sua fuga “Unto Us a Child Is Born” da Cantata 42. O Siciliano que segue é a canção de ninar perfeita, como as do Oratório de Natal. Para mim, a Partita I traz a própria voz de Cristo (aqui em um tom agudo contrastante) em Si menor, a tonalidade mais pessoal de Bach.

A música da Paixão começa com o Grave da Sonata II, onde o baixo descendente simboliza a partida do mundo. Esse motivo, que vem diretamente do contorno descendente do tema da Ressurreição, é intensificado pelo seu uso como linha de baixo durante toda a Partita II, culminando nas variações contínuas que constituem a Chacona, uma das obras-primas incontestáveis e insondáveis de Bach (e da música em geral). A Chacona chega a um momento crucial no “6 Solo”: a “Seção Áurea”, na verdade, da teoria arquitetônica grega antiga.

O fato de a Chacona espelhar a estrutura geral do “6 Solo” em sua forma tríptica assim como em seus 32 segmentos (o “6 Solo” tem 32 movimentos) — e de que em seu manuscrito Bach a liga sem pausa ao Adagio de abertura da Sonata III seguinte — parece mais uma evidência da unidade geral do conjunto.

Esse Adagio parece emergir da sombra da Chacona, oscilando no seu andar laborioso entre uma nova tonalidade prometida e a tonalidade anterior, ainda lembrada, da Chacona. O ritmo pontilhado, geralmente simbólico (na música antiga) do sofrimento, aparentemente carrega um peso pesado e sugere para mim a imagem clara do “Caminho da Cruz”. Há até três dramáticas “quedas” cadenciais antes de finalmente chegarmos à cadência maior tônica, que até então nos foi negada (na verdade, não temos certeza durante todo o movimento em qual tonalidade estamos até essa cadência final).

Além disso, toda a obra até agora esteve quase totalmente no modo menor (as exceções são os dois movimentos lentos das Sonatas I e II). Então, esta é a primeira vez que Bach nos dá uma sensação real de modo maior, e na sequência vem o tema da Ressurreição. O modo maior que foi tão esperado e finalmente liberado nos conduz com uma exuberância alegre até o fim do “6 Solo”. Bach corona a obra com algumas das músicas mais felizes que já escreveu. De fato, Bach, em sua Cantata 29, colocou as palavras “We Thank Thee, God, We Thank Thee” (Agradecemos a Ti, Deus, Agradecemos a Ti) no Prelúdio da Partita III.

Paul Galbraith ... Paul Galbraith ganhou reconhecimento público pela primeira vez na Grã-Bretanha quando, aos 17 anos, sua performance no Concurso Internacional de Guitarra Segovia lhe rendeu a Medalha de Prata. Segovia, que estava presente no concurso, chamou sua performance de “magnífica”. No ano seguinte, ele ganhou o prêmio Jovem Músico do Ano da BBC na televisão.

Esses prêmios ajudaram a lançar sua carreira internacional, incluindo apresentações com algumas das melhores orquestras da Grã-Bretanha e Europa (entre elas, Royal Philharmonic, Chamber Orchestra of Europe, BBC Philharmonic, Scottish Symphony Orchestra, English Chamber Orchestra, BBC Scottish Orchestra, Scottish Baroque Orchestra, Ulster Orchestra, Hallé Orchestra e Scottish Chamber Orchestra). Turnês de concerto o levaram a EUA, Canadá, Espanha, Itália, Grécia, República Tcheca, Noruega, Hungria, Brasil, China, Índia e Islândia. Desde 1983, Galbraith estuda com o maestro e pianista grego George Hadjinikos.

A posição única de tocar de Galbraith foi revelada pela primeira vez no Festival de Edimburgo em 1989. Seu violão é suportado por um espigão metálico (semelhante ao de um violoncelo) que repousa sobre uma caixa de ressonância de madeira. O instrumento em si foi projetado por Galbraith em colaboração com o renomado construtor David Rubio. As oito cordas e o design extraordinário deste violão aumentam efetivamente o alcance e as possibilidades do instrumento a um nível nunca antes possível.

As seis cordas padrão são “circundadas” por duas cordas extras, uma mais aguda e outra mais grave, estendendo o alcance para ambos os lados. Isso normalmente seria impossível com comprimento fixo das cordas. Contudo, esse problema foi resolvido variando o comprimento da corda em uma ponte inclinada, uma ideia inspirada no instrumento renascentista “Orphereon” ... que usava esse sistema único (único, isto é, para instrumentos com trastes, já que a harpa e todos os instrumentos de teclado têm comprimentos variados de cordas). O alcance do instrumento permitiu a Galbraith fazer transcrições de obras de compositores não usualmente associados ao violão, como Haydn, Schubert e Brahms.


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Em 1995, Galbraith fez a estreia mundial da sua transcrição completa das sonatas e partitas solo para violino de Bach no Festival Bach da Filadélfia, e em 1996 as apresentou no Festival de Edimburgo. A BBC TV escolheu filmar este concerto e transmitiu parte dele na Grã-Bretanha como um dos destaques do festival. Em agosto de 1996, seu CD com obras de Brahms e outros compositores foi eleito “Melhor do Mês” pela BBC Radio.


(Críticas sobre o disco e sobreo o violonista em publicações especializadas)

“As viagens longas para ouvi-lo valem a pena.” The Guardian

“Execução de brilho impressionante... Sua técnica é de tirar o fôlego, mas nunca mais importante que a própria música. Seu Bach é profundamente sentido, e sua técnica permite que esses sentimentos nos cheguem com uma maravilhosa facilidade.” The Scotsman

“O melhor guitarrista da sua geração.” Classical Guitar

“O que muitos queriam ver e ouvir foi a mudança revolucionária que ele trouxe para tocar violão... os resultados foram verdadeiramente notáveis, com uma clareza incrível e uma enorme variedade dinâmica que nunca tinha ouvido em qualquer guitarrista antes. O público ficou hipnotizado.” The Times de Londres

“Ele não só dominou tecnicamente seu instrumento, mas tem a capacidade de acessar seus mistérios internos.” Classical Guitar Magazine

“Galbraith conquistou uma façanha considerável ao transcrever e decorar as seis Sonatas e Partitas solo de Bach, e as tocou com um real sentido de comunicar algo na música, e não apenas uma virtuosidade técnica... um aumento delicioso de sonoridade instrumental e cor fez este concerto uma experiência prazerosa. Tanto Galbraith quanto seu instrumento têm potencial para fazer coisas notáveis.” Glasgow Herald

“A performance de Galbraith é cativante do início ao fim.” Classic CD

“Na terça-feira à noite, no Grande Salão, me encantei com a combinação de artista, instrumento e música. Pianíssimos de delicadeza extrema contrastavam com momentos de poder quase assombroso. Nunca ouvi ninguém tocar assim. Galbraith parecia ter transcendendo a técnica e estabelecido uma conexão pessoal com uma fonte interior, permitindo que a música comunicasse de forma surpreendentemente direta. Tudo soava como uma obra-prima naquela noite.” Classical Guitar

“Paul Galbraith tem algo próximo do gênio.” Classical Music

“Ele produziu música de cor, riqueza e virtuosismo incomuns.” Philadelphia Inquirer

“Sua musicalidade é tão ‘autêntica’ que cada nota traz a marca da verdade e as noções acadêmicas de erudição tornaram-se supérfluas. Ele manteve o público em silêncio extasiado, como hipnotizado por algum mágico.” The Scotsman


Informações sobre Paul Galbraith e seu violão: www.paulgalbraith.com


Produtores Executivos: Amelia S. Haygood, Carol Rosenberger

Produtor de Gravação: Ramiro Belgardt

Engenheiros de Gravação: John Eargle, Jeff Mee

Edição: Ramiro Belgardt, Peter S. Myles

Associados de Produção: Phyllis Bernard, Catharine Jaap

Gravado em 1, 2, 4, 5 de setembro de 1997; 19 a 21 de janeiro de 1998

Primeira Igreja Congregacional, Los Angeles

Processamento Digital 20-bit: Prism AD-1

Edição Digital: Sonic Solutions

Monitores de Som

Gravação: Genelec 1030A

Pós-produção: JBL 250Ti

Microfones: Sennheiser MKH-20, AKG C480/CK-61ULS

Console: Soundcraft Spirit Folio

Construtor do violão: David Rubio, Cambridge, Inglaterra

Fotos da capa e contracapa: Harry J. Pack

Direção Criativa: Harry Pack, Tri-Arts and Associates

Gráficos: Mark Evans

Agradecimentos Especiais

Lisa Sapinkopf, Lisa Sapinkopf Artists, Berkeley, Califórnia

Antonio Tessarim, luthier brasileiro, por sua bela caixa de ressonância


© 1998 Delos Productions, Inc., Santa Monica, Califórnia, EUA

Impressão e montagem nos EUA

(Fim do encarte)




Link para o ouvir o álbum "Sonatas and Partitas" de Paul Galbraith no Youtube Music:

https://music.youtube.com/playlist?list=OLAK5uy_mB1s9VLzwAiGbfwY_8O2aoNKLzpYRfjTs&si=pcEqeHhg6kaNR2eF


Esse é um convite para mergulhar fundo não só na música, mas nas histórias, técnicas e contemplações que ela pode despertar. Que a arte de Paul Galbraith amplie sua jornada musical e espiritual. E que o The Tao of the Guitar continue sendo um ponto de encontro para quem busca unir técnica, expressão e autoconhecimento através do violão.


Grande abraço e ótimos estudos.

João Paulo Pessoa.

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Nota: Esse texto (e a tradução apresentada) foram produzidos com auxílio do "Mecanismo de busca com inteligência artificial e processamento avançado de linguagem natural" denominado Perplexity. 

"A Perplexity AI é um mecanismo de busca com IA que entende e responde perguntas com respostas completas"

(https://www.perplexity.ai/)

quarta-feira, 30 de julho de 2025

Além do Streaming: O colecionismo de discos como caminho para uma escuta mais profunda.

 



O The Tao of the Guitar faz 20 anos!

É com enorme alegria que celebramos  — em 2025 — duas décadas de existência do nosso blog The Tao of the Guitar

Desde 2005, dedico este espaço a compartilhar ideias, descobertas e paixões ligadas à arte de fazer música com o violão e à compreensão mais profunda daquilo que nos move enquanto músicos, ouvintes e, sobretudo, aprendizes.

Hoje iremos abordar um tema fundamental para o desenvolvimento artístico e intelectual de quem se dedica à música clássica: a importância do colecionismo de discos — especialmente CDs — para estudantes e ouvintes desse universo.


Muito além do streaming: por que colecionar discos importa

Vivemos a era do streaming, da abundância e do acesso instantâneo. No entanto, para quem busca formação musical sólida, especialmente na música clássica, a experiência do contato direto com discos revela riquezas que nenhuma plataforma digital consegue substituir.


Os encartes: aprendizado na palma da mão

Lembro com viva nitidez do quanto aprendi lendo encartes de CDs e LPs na minha juventude. Eles não são apenas complementos: trazem análises de obras, histórias dos intérpretes, detalhes sobre gravações — um rico material pedagógico, fundamental para quem quer ir além da escuta passiva e se embrenhar nos contextos histórico, estilístico e interpretativo das músicas estudadas.


A materialidade: foco, inspiração e concentração

Existe um poder inspirador inegável no objeto palpável. O simples fato de pegar um CD, apreciar a arte gráfica, folhear o encarte e posicionar o disco no player transforma a escuta em ritual: aumenta o foco, aprofunda a concentração e promove uma escuta ativa plenamente imersiva, muito diferente da relação fugaz e dispersa que, por vezes, temos ao ouvir música em meio a múltiplas distrações digitais.


Organização e pesquisa: a experiência do colecionador

O colecionismo permite construir uma biblioteca auditiva personalizada. Ao organizar minha estante por compositores, intérpretes ou escolas interpretativas, consigo visualizar relações, tradições e evoluções musicais de modo que nenhum serviço de streaming proporciona. Em música clássica isso é essencial: dificilmente playlists digitais respeitam movimentos de sonatas, sinfonias, suítes — e, para o entendimento do todo, ouvir essas obras de forma integral faz toda diferença.


Qualidade de som: o CD reina absoluto (ao lado do bom vinil)

Para quem exige qualidade sonora — dinâmica, silêncio, transparência —, nada supera o CD, sobretudo em comparação com arquivos comprimidos do streaming. Vinil também ocupa um lugar histórico e afetivo, mas o CD traz praticidade, baixíssimo ruído e precisão, fatores decisivos em repertórios com nuances detalhadas, como a música de câmara, as gravações históricas ou as gravações de instrumentos solo (Violão, Alaúde, Piano, Cravo etc ... ou mesmo instrumentos de corda friccionada tocando obras solo como as Suites para Celo de Bach , por exemplo).


O papel de plataformas como Discogs — e a compra online

Hoje, comprar CDs novos tornou-se tarefa quase exclusivamente digital. Lojas físicas rarearam, mas a Amazon, Imusic e outras plataformas viabilizam que continuemos a alimentar nossas coleções. E, para raridades, edições especialíssimas ou pesquisa minuciosa de informações técnicas e históricas, o Discogs é fonte indispensável: ali catalogo parte da minha coleção, Sigo aprendendo nos fóruns e, por vezes, adquiro discos de outros apaixonados mundo afora.


Entendendo discografias: pesquisa e trajetória interpretativa

Para o estudante de música clássica, mapear discografias de intérpretes é fonte de descobertas inesgotáveis. Como mostra o trabalho do professor Sidney Molina, “O Violão na Era do Disco: interpretação e desleitura na arte de Julian Bream”, muito do repertório do violão e de outros instrumentos se construiu pelas gravações — conhecer as diferentes leituras de uma mesma obra é uma das maiores aventuras do ouvinte atento, trazendo ensinamentos que vão (muito) além das partituras.


Por que abandonar o colecionismo empobrece o ouvinte clássico

A cultura do colecionismo preserva história, memória afetiva, profundidade intelectual. Quem ignora completamente esse universo tende a perder a chance de explorar abordagens interpretativas, trajetórias editoriais, partituras raras, encartes informativos — e, acima de tudo, abdica de uma relação mais íntima e comprometida com o ato de ouvir música.


Minha história com discos: entre memórias e redescobertas

Sou uma criança dos anos 70. Cresci em uma casa inundada por discos — vinil, fitas K7 (originais e gravadas), fitas de rolo e, a partir dos anos 80, os ainda raros e caríssimos CDs. Meu pai era fã inveterado de ópera, jazz, música de câmara, orquestra, MPB — e audiófilo de primeira: nossa sala guardava um sistema HI-FI lendário, com um receiver Sansui quadrifônico, toca-discos Philips, tape-deck AKAI, gravador de rolo ("Reel to Reel") AKAI e, depois (nos anos 80), um CD player Sony que tocava, entre outros, as sinfonias de Beethoven em edições japonesas (ainda vivas em minha coleção).

Nota: as imagens a seguir são apenas ilustrativas.






A trilha sonora da casa transitava pelos universos mais plurais: música antiga, frevo, música francesa, folclores do mundo, violão solo, e por influência dos meus irmãos, rock dos anos 70 como Pink Floyd, Led Zeppelin, Beatles e Stones. Eram tempos de descobertas e aprendizado coletivo em família.

E tinha também o aprendizado com os amigos e com as famílias de amigos próximos. Meus grandes amigos de infância Alain Guerra e Mathias Anguita Echiburu foram importantíssimos nesse sentido em minha formação musical. Muito dos meus gostos por rock dos anos 70 se deram também por causa deles. O tio de Alain ("Tio Dido") tinha uma coleção imensa de discos com materiais que eram completamente inacessíveis pra nós na época... "Dido" era generoso o suficiente pra deixar as crianças ouvirem. Devo muito a esses dois grandes amigos e às suas famílias. Não consigo mensurar o quanto aprendemos juntos ouvindo tantos discos e investigando minuciosamente as capas e encartes daquela coleção incrível. É uma memória que sempre inunda de gratidão o meu coração.

No final dos anos 80, após a perda do meu pai, os vinis e a era do HI-FI começaram a desaparecer lá em casa. Boa parte dos equipamentos foi se desfazendo aos poucos — era a ascensão do Walkman, do Discman, daqueles Boombox nem sempre agradáveis — e o ritual de comprar vinil já não tinha o mesmo encanto para nós. Mesmo assim, os discos mais importantes permaneceram protegidos, quase como relíquias familiares, e ninguém tinha coragem de abrir mão de algo tão significativo. Aos poucos, fui adquirindo CDs nos anos 90 e 2000, mas não me via como colecionador: eu simplesmente queria ouvir música, fosse nos grandes “bolachões” ou nos compactos CDs, sempre atento aos encartes, que eu adorava folhear.

Quando a internet chegou de vez no meu dia a dia, já nos anos 2000, fiquei fascinado pela possibilidade de baixar música com softwares nada ortodoxos (alguns deles usavam tapa-olho, tinham mão de gancho, perna de pau e bebiam rum) — foi a fase do E-Mule, com HDs abarrotados de álbuns, discografias inteiras e encartes digitalizados. Isso expandiu meu universo musical enormemente, até porque os próprios professores da universidade incentivavam a ouvir de tudo. Durante esse período importante, aprendi muito apenas explorando aquele oceano musical digital. Depois vieram os smartphones e o streaming, que no início me entusiasmaram, mas, (um pouco mais tarde) quando eu já era um professor, fui me dando conta do que estávamos deixando para trás ao abandonar o contato físico com os álbuns. Uma saudade dos discos começou a crescer, uma vontade de retomar aquela relação tátil e concentrada com a música.

Foi então que resolvi remontar um sistema HI-FI e reestruturar minha coleção de discos. Alguns discos de vinil, e, também, alguns CDs haviam sobrevivido apenas como lembranças da infância e juventude; cuidei deles, limpei cada peça e voltei a comprar novos discos, percebendo, agora com mais consciência, que meu formato preferido é mesmo o CD — prático, eficiente e perfeito para música clássica. Meu sistema HI-FI atualmente é enxuto e funcional: um par de monitores Edifier S-1000 MKII, notebook com interface Scarlet 1818, um DAC/Preamp Fiio, CD Player TEAC CD-P650, toca-discos Audio-Technica LP-120 e fone Audio-Technica ATH M50x. Aprender sobre DAC, Toslink e tantos detalhes técnicos me fez enxergar de vez o potencial impressionante do CD, especialmente quando o equipamento corresponde. Com certeza, meu Sistema atual não é um grande sistema como o que meu pai tinha nos anos 70 ... mas tenho, como meu equipamento, um som muito mais preciso de CDs, algo que eu não sonhava ser possível. O uso dos DACs dedicados para CDs e as diferentes maneiras de conversão do sinal, abriram portas oníricas pra audição das mini-bolachinhas prateadas; além do acesso ao streaming, claro (sim, eu uso streaming também ... não seja radical). 

:)

Nota: as imagens a seguir são apenas ilustrativas.





Com o novo sistema montado, comecei realmente a me entender como colecionador — vendo nos discos um capítulo vivo do meu caminho musical. Passei a mergulhar ainda mais nas informações dos encartes, nas histórias dos intérpretes, nas curiosidades de selos e gravações. Aos poucos, comecei a compartilhar esse olhar com alunos e colegas no Conservatório Pernambucano de Música, sentindo que era fundamental alertar a todos sobre o valor da mídia física e do colecionismo, e sobre tudo o que se perde quando abandonamos isso sem reflexão.

Hoje, minha coleção tem cerca de 150 LPs e aproximadamente 1.100 CDs, sendo essa última parte ampliada por aquisições pessoais e, também, por doações generosas. Estes números são apenas uma especulação, pois realmente não fico contando. Compartilho esse amor pelo colecionismo de discos com alunos e colegas, sempre ressaltando: a mídia física é um refúgio para a alma, uma ponte entre o passado e o presente, entre o mundo material e o sonho, entre o afeto e a erudição musical.

Vou deixar aqui algumas fotos reais do meu atual Sistema HI-FI. São imagens descompromissadas e triviais do dia-a-dia de estudos e escutas ... por favor, não reparem a bagunça.

:)












O convite

Se você chegou até aqui, espero ter despertado a vontade de explorar mais o mundo dos discos — por aqui, em outros posts do The Tao of the Guitar, você encontra muitas indicações de álbuns essenciais para ouvir, mergulhar e aprender. E, para os curiosos, convido a visitar a parte da minha coleção que cataloguei no Discogs. Que esse blog continue sendo, por anos a fio, um ponto de encontro entre a paixão pelo violão, o amor pelos discos e a busca incessante pelo conhecimento musical.

Veja aqui minha página do Discogshttps://www.discogs.com/user/jpguitar

e o nosso álbum incrível de hoje:

Lang Lang - Bach: Goldberg Variations (Extended Edt.)


https://music.youtube.com/playlist?list=OLAK5uy_kxtLPf52mtVuboPQsZRc2d7giykhmGIjo&si=WeoWeWxe4OUHYPYX


Grande abraço musical.

Boas escutas e ótimos estudos.

[]

João Paulo Pessoa.

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Nota: Esse texto foi produzido com auxílio do "Mecanismo de busca com inteligência artificial e processamento avançado de linguagem natural" denominado Perplexity

"A Perplexity AI é um mecanismo de busca com IA que entende e responde perguntas com respostas completas"

(https://www.perplexity.ai/)

domingo, 22 de junho de 2025

O Violão Segundo Carlevaro: Técnica a Serviço da Arte

 


No The Tao of the Guitar, buscamos sempre mergulhar na essência do violão, entendendo sua técnica como um caminho para a expressão artística e o autoconhecimento. Nesse sentido, a obra e a filosofia de Abel Carlevaro se alinham perfeitamente com essa visão. Carlevaro nos convida a enxergar o violão não apenas como um instrumento, mas como uma extensão do corpo e da mente, onde a técnica serve à arte e ao sentimento. Neste post, “O Violão Segundo Carlevaro: Técnica a Serviço da Arte”, exploraremos como seu legado pedagógico, composicional e interpretativo reflete essa busca por uma prática consciente, integrada e profundamente musical — um verdadeiro "Tao do Violão".

Mais um post aqui para o nosso blog The Tao of the Guitar, que neste ano especial completa 20 anos de história. Desde 2005, seguimos juntos compartilhando descobertas, reflexões e inspirações sobre o universo do violão clássico. Hoje, vamos falar sobre o legado de um mestre que mudou para sempre a maneira como pensamos e tocamos o violão: Abel Carlevaro (1916-2001).


Abel Carlevaro: inovação e sensibilidade no violão


Nascido em Montevidéu, em 1916, Carlevaro foi um daqueles músicos raros que unem virtuosismo, criatividade e uma profunda vocação pedagógica. Ele não se contentou em apenas dominar o instrumento: questionou tradições, estudou a fundo a relação entre corpo e violão, e propôs uma abordagem revolucionária para a técnica violonística. Carlevaro via o violão como uma extensão do ser, defendendo que cada violonista deveria buscar uma postura e técnica que respeitassem sua própria anatomia. Sua obra mais conhecida, “Escuela de la Guitarra”, não é apenas um método, mas um convite à reflexão: nela, ele separa o estudo técnico do estudo musical, permitindo que cada aspecto seja desenvolvido de forma consciente e personalizada. Seus cadernos de técnica são referência mundial, mas o mais importante é sua filosofia: a técnica deve sempre servir à arte, nunca o contrário. Como professor, Carlevaro estimulava a autonomia do aluno, valorizando a auto-observação e o entendimento do próprio corpo. Seu pensamento influenciou gerações de violonistas e segue vivo em salas de aula, palcos e estúdios ao redor do mundo.

Aqui está um texto fundamental do próprio Maestro, extraído da página 20 de seu livro “Escuela de la Guitarra”, que resume como poucos a essência de sua visão:


A TÉCNICA A SERVIÇO DA ARTE

"Um dos grandes problemas instrumentais tem sido sempre a técnica. Esta não é o resultado puramente físico da ação dos dedos, ela é uma atividade que obedece à vontade do cérebro; nunca pode ser um estado irreflexivo.

Por um lado, há algo que é necessário aprender: o ofício. E, por outro lado, deve existir algo nosso, que ninguém nos pode ensinar. Ao intérprete se apresentam dois problemas: o aspecto puramente mecânico de uma obra musical e como deve expressar-se tal obra. Convém sempre começar por este último. Desde o primeiro momento é necessário entrar na arte porque, como vamos trabalhar uma obra sem saber o que temos que expressar? Não esquecer nunca isso, porque do contrário a arte se desnaturaliza. Se o ofício propriamente dito passa a ocupar o primeiro plano, a arte terá perdido sua qualidade própria.

Contudo, quem não possui uma grande técnica não poderá ser um grande intérprete. O que importa é o ponto de partida: se provém do espírito irá ao espírito; do contrário será só um produto de laboratório. A diferença básica entre o verdadeiro intérprete e o simples executante está em que este se baseia no trabalho mecânico separado de toda outra ideia, fazendo ressaltar unicamente o malabarismo digital o qual cuida como um precioso dom, dando à técnica um valor em si, uma personalidade, uma autonomia que não lhe pertence. Orgulhoso de seu poder crê conseguir com ele tudo que pode desejar o virtuoso. E essa técnica, produto de tantos sacrifícios, está a serviço do quê? Qual a razão que nos demonstra a verdade de tal hipertrofia? É um absurdo pretender conseguir fazer música utilizando a técnica como único fim, sem pensar em nada mais, desumanizando a arte. Cuidado com esse monstro! Depois de criado é necessário superar suas forças para obrigá-lo a servir aos valores puros da arte. Senão, produzir-se-á irremediavelmente o contrário.

O espírito e a matéria são duas forças que devem unir-se para a criação da arte. Então a matéria se fará um pouco espírito, e o espírito tomará formas concretas. A arte pertence ao domínio do espírito; a técnica é patrimônio da razão. Da união desses dois elementos nasce a manifestação artística, verdadeira simbiose criada pelo homem." (Abel Carlevaro)


O violonista e professor brasileiro Sidney Molina publicou, em seu canal no Youtube, um detalhado vídeo sobre o legado de Carlevaro. Molina aborda os princípios técnicos do violonista uruguaio, sua carreira como intérprete e compositor, além de destacar seus contatos com grandes nomes como Andrés Segovia, Heitor Villa-Lobos, Manuel Ponce e Camargo Guarnieri. São apresentados exemplos musicais de obras como o "Prelúdio n. 3" de Villa-Lobos e também composições próprias de Carlevaro. 



Existe, também no Youtube, um vídeo com explicações de Carlevaro sobre sua técnica e pensamento pedagógico.  Pelo que pude pesquisar, o vídeo "A Guitar Lesson with Abel Carlevaro" foi gravado em 28 de maio de 1997, em Heidelberg, na Alemanha. Trata-se de um registro único e histórico em que o próprio Carlevaro explica sua técnica e filosofia por meio da demonstração de cinco de seus Microestudios. O propósito da gravação foi documentar e divulgar a abordagem pedagógica inovadora de Carlevaro, mostrando em detalhes sua teoria instrumental e os fundamentos técnicos que ele desenvolveu ao longo de sua carreira. Esse material é especialmente valioso por apresentar o mestre explicando diretamente seus conceitos, o que não só serve como aula para violonistas, mas também como testemunho histórico da evolução do violão clássico no século XX.



Abel Carlevaro, além de revolucionar a técnica e a pedagogia do violão clássico, também inovou no próprio instrumento que utilizava. A partir de um determinado momento da sua carreira, ele passou a tocar um violão com um design completamente diferente, criado em colaboração com o luthier espanhol Manuel Contreras, a partir de 1983, em Madri. Esse violão, conhecido como o Modelo Carlevaro, apresenta características únicas que rompem com o formato tradicional do instrumento. A parte superior da caixa de ressonância, onde o braço do violonista repousa, é reta, enquanto a parte inferior mantém a curvatura usual para encaixar na perna do músico. Essa configuração faz com que a superfície do tampo se assemelhe ao formato de um piano de cauda, o que, segundo Carlevaro, melhora a vibração das notas graves, ampliando (teoricamente) a ressonância e a projeção sonora do instrumento. Outra inovação marcante é o fechamento do tradicional buraco redondo no tampo, substituído por uma fenda fina (“slot”) que percorre toda a curvatura do tampo. O tampo, por sua vez, não está fixado rigidamente às laterais, mas é praticamente “flutuante”, sustentado apenas por pinos de madeira que o conectam às partes laterais da caixa. Assim, o violão é composto por duas partes quase independentes: o fundo e as laterais, e o tampo que vibra com maior liberdade. Essa construção singular permite uma maior eficiência na transmissão das vibrações das cordas para o corpo do instrumento, resultando em um som mais rico, com graves mais profundos e uma resposta dinâmica diferenciada. Esse instrumento reflete perfeitamente a filosofia de Carlevaro: uma busca constante por otimizar a relação entre músico, técnica e som, sempre com base em princípios anatômicos e acústicos que favorecem a expressão artística e o conforto do intérprete.


Neste vídeo Carlevaro explica suas ideias sobre seu instrumento:




Abel Carlevaro foi, além de um violonista e pedagogo excepcional, um compositor cuja produção serve sobretudo como complemento à sua visão pedagógica e técnica do violão. Sua obra composicional reflete diretamente a aplicação prática dos princípios que desenvolveu em sua didática, funcionando como uma extensão musical das soluções técnicas que propôs. Entre suas composições mais conhecidas e estudadas estão os Micro-Estudios, pequenos estudos focados em aspectos específicos da técnica violonística. Esses estudos não apenas exercitam dificuldades técnicas isoladas, mas também possuem coerência musical própria, exemplificando a chamada “técnica idiomática” de Carlevaro, que parte dos movimentos naturais do instrumento para construir sua linguagem harmônica e sonora. Outro conjunto importante é o dos Prelúdios Americanos. Essas peças incorporam influências da música popular e erudita latino-americana, especialmente do Rio da Prata, e revelam uma preocupação com a sonoridade e a mecânica do violão. Dedicados à Andrés Segovia, estes cinco prelúdios — Evocación, Scherzino, Campo, Ronda e Tamboriles — são obras que demonstram uma linguagem própria, alinhada à técnica e à expressividade que Carlevaro valorizava. A técnica idiomática de composição, característica marcante de sua obra, baseia-se na análise detalhada dos movimentos e da postura do instrumentista, buscando uma coerência entre os elementos técnicos e a estrutura musical. Essa abordagem está fundamentada em sua Teoria Instrumental, apresentada no livro Escuela de la Guitarra (1979), que é o marco de sua obra pedagógica. Embora Carlevaro tenha composto outras peças e concertos, sua produção como compositor é vista principalmente como um complemento à sua atuação como professor e intérprete. Suas composições são estudadas não só como repertório, mas também como exemplos práticos da integração entre técnica e arte, oferecendo ao violonista um caminho para desenvolver a técnica a partir da música. Assim, a obra composicional de Carlevaro se insere como um terceiro eixo em sua carreira musical, junto com a performance e a pedagogia, formando uma síntese poética e técnica que continua influenciando violonistas e estudiosos do instrumento.

Aqui está um exemplo de um grande músico interpretando uma destas obras. Preludios Americanos III Campo, por Everton Gloeden:




E aqui, Abel Carlevaro interpretando um dos famosos Estudos de H. Villa-Lobos:




Sobre discos.

Abel Carlevaro gravou relativamente pouco em comparação com sua extensa carreira como professor e concertista, mas os registros que deixou são de grande valor histórico e artístico para o violão clássico. Sua discografia reúne gravações feitas desde o final da década de 1940 até os anos 1990, incluindo álbuns solo, recitais e coletâneas que refletem seu repertório e sua visão técnica e musical. Entre os discos mais relevantes estão:

- Sin Título (1949) — seu primeiro registro, um disco de 78 rpm gravado em Londres, que já mostra sua técnica refinada e interpretação pessoal.

- Recital de Guitarra (1958) e 2º Recital de Guitarra (1960) — gravados pela gravadora Antar em Montevidéu, são registros importantes de sua fase inicial como concertista.

- Abel Carlevaro, guitarriste (Ducretet-Thompson, França) — uma gravação que ajudou a divulgar sua arte na Europa.

- Carlevaro plays Carlevaro (1986) — álbum em que interpreta suas próprias composições, incluindo os famosos Micro-Estudios e Prelúdios Americanos.

- 20 Microestudios (1998) — uma gravação dedicada exclusivamente a esses estudos que são parte central de sua pedagogia.

- Recital de música española (1975 e relançamentos posteriores) — com obras de compositores espanhóis e latino-americanos que integravam seu repertório.

Entre outros ... Seu trabalho discográfico, embora não volumoso, é fundamental para entender sua abordagem interpretativa e pedagógica, servindo tanto como fonte de estudo quanto como inspiração para violonistas ao redor do mundo.

Aqui está um link para um de seus álbuns hospedado na plataforma de streaming que uso atualmente:

The Guitar of Abel Carlevaro, Vol. 1: https://music.youtube.com/playlist?list=OLAK5uy_mags_ZQc2j7q_Z_XCz1InvwVWknAYIRyk&si=8x9yRhtiAMf66oT-


Para finalizar nosso post de hoje, vou deixar aqui alguns links que podem ser úteis pra quem quiser se aprofundar mais:

- Lista de discos (Discogs): https://www.discogs.com/pt_BR/artist/1854486-Abel-Carlevaro

- Tese de Celso Delneri sobre a técnica composicional de Carlevaro: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/27/27158/tde-13112015-101451/publico/CELSOTENORIODELNERIVC.pdf

- O livro "Escuela de la Guitarra" traduzido e comentado por Álvaro Henrique: https://alvarohenrique.com/escuela-de-la-guitarra-de-abel-carlevaro-em-portugues/

- Wiki: https://en.wikipedia.org/wiki/Abel_Carlevaro

- Artigo no Mangore.com: https://www.mangore.com/carlevaro-7-27-105


Espero que tenham gostado e que seja útil e inspirador de alguma forma. E que o pensamento cartesiano de Carlevaro continue inspirando nossos estudos e nossa música, assim como tem inspirado estes 20 anos do The Tao of the Guitar. 

Grande abraço musical e fraterno. Ótimos estudos pra todos nós.


:)

[]

João Paulo Pessoa.

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Nota: Esse texto foi produzido com auxílio do "Mecanismo de busca com inteligência artificial e processamento avançado de linguagem natural" denominado Perplexity

"A Perplexity AI é um mecanismo de busca com IA que entende e responde perguntas com respostas completas"

(https://www.perplexity.ai/)

segunda-feira, 16 de junho de 2025

O Final Brilhante: Influências Operísticas em Mauro Giuliani e o Efeito Rossini no Violão

 Olá! Celebramos 20 anos do The Tao of the Guitar. Estamos realmente no século XXI.



Às vezes, é difícil acreditar em toda essa tecnologia que nos cerca. Sem dúvida, há muitos aspectos negativos na avalanche tecnológica atual. A banalização que se instalou em nossa sociedade, especialmente por meio dos pequenos dispositivos móveis com suas telas diminutas que nos acompanham o dia inteiro, é realmente impressionante. No entanto, também existe o lado positivo: o uso consciente e proveitoso dessas ferramentas. Minha falecida mãe, a professora Maria Nilda Pessoa, sempre dizia: “uma ferramenta é apenas uma ferramenta; seu bom uso é que determina sua eficiência”. Essa sábia professora continua a me ensinar, mesmo em suas memórias, e sigo aprendendo com seus ensinamentos.

Pois bem, vamos ao tema de hoje. Estive refletindo sobre algumas questões interpretativas envolvendo duas obras do compositor e violonista Mauro Giuliani (1781-1829): a Sonatina opus 71 nº 1 (em dó maior) e as Variações sobre Folias de Espanha opus 45 (em ré menor). Ao analisar essas duas peças lado a lado, chama a atenção a similaridade no procedimento de finalização em ambas.

Resolvi então fazer a seguinte pergunta para a I.A. Perplexity:

https://www.perplexity.ai/

Pergunta:

"Bom dia. Estou tentando resolver um pequeno enigma musical. Estudo no violão duas obras do compositor Mauro Giuliani: a sonatina op71nº1, e as Variações sobre folias de Espanha op45. O enigma é o final dessas duas obras: na Sonatina (em dó maior) o último movimento, um Rondó, tem um final que lembra muito os movimentos de finalização em aberturas de ópera; enquanto que as Variações opus 45, apresentam exatamente esse mesmo tema (essa mesma ponte) na finalização da obra, na conclusão da última variação da peça, com a diferença apenas de estar em ré maior (apesar do op45 ser em ré menor, a conclusão desta obra é em ré maior). O enigma é: por que estas duas peças tão distintas, em tonalidades diferentes têm o mesmo final? E ainda, de onde é que conheço esse final? Minha intuição de ouvinte de música clássica me diz que essa finalização pode ser encontrada em aberturas de óperas de Rossini, que é uma das principais influencias de Mauro Giuliani. Mas, não consegui encontrar uma obra especifica de Rossini ou de outro compositor onde apareça essa mesma finalização. Mas tenho certeza, Giuliani pegou essa ponte de algum lugar. Poderia me ajudar com esse enigma"

E aqui está a resposta da Perplexity:

"

O Enigma do Final nas Obras de Giuliani

Você observou um fenômeno fascinante: tanto a Sonatina op. 71 nº 1 (no Rondó final) quanto as Variações sobre as Folias de Espanha op. 45 (na conclusão da última variação) de Mauro Giuliani apresentam uma “ponte” ou finalização musical muito semelhante, apesar de serem obras distintas e em tonalidades diferentes. Sua intuição aponta para uma possível influência das aberturas de ópera de Rossini, mas não encontrou uma citação direta. Vamos analisar as possíveis razões e origens desse recurso.

1. Por que Giuliani usou o mesmo final nessas obras?

Estilo Operístico e Influência de Rossini: Giuliani era profundamente influenciado pelo estilo operístico italiano do início do século XIX, especialmente por Rossini, com quem conviveu em Viena e cuja música era extremamente popular. Muitos estudiosos destacam que Giuliani buscava transpor para o violão os gestos orquestrais e dramáticos das aberturas de ópera, especialmente o uso de pontes, crescendi e cadências típicas do final de movimentos operísticos.

Recursos de Finalização: O tipo de ponte ou cadência que você percebe nas duas obras de Giuliani é um recurso recorrente no repertório operístico da época, especialmente nas aberturas de Rossini, onde há frequentemente um trecho de transição, modulando para a tonalidade principal, seguido de uma cadência virtuosística e triunfal.

Auto-citação e Fórmulas de Efeito: É comum em compositores do período clássico e início do romantismo reutilizarem fórmulas de efeito comprovado, especialmente em finais de obras pensadas para agradar o público e demonstrar virtuosismo. Giuliani, além de compositor, era um virtuose do violão e sabia o impacto que esse tipo de finalização causava na plateia.

2. De onde vem esse final? Existe uma fonte específica?

Rossini como Modelo Geral: Embora não haja evidência de que Giuliani tenha retirado literalmente esse final de uma obra específica de Rossini, há consenso acadêmico de que ele se apropriou de “maneirismos” típicos das aberturas rossinianas: uso de pontes modulantes, cadências com escalas e arpejos ascendentes, e uma resolução brilhante, geralmente em modo maior, mesmo que a peça esteja em menor.

Rossiniane e Transcrições: Giuliani chegou a compor as famosas “Rossinianas”, obras baseadas diretamente em temas de Rossini, demonstrando sua familiaridade e admiração pelo estilo do compositor de óperas. Em análises dessas obras, percebe-se que Giuliani imitava não só melodias, mas também estruturas formais e efeitos orquestrais, como as cadências finais fora da métrica (“cadenza fuori tempo”), típicas das aberturas de ópera.

Fórmula Tradicional: O gesto de finalizar uma obra com uma ponte modulante e uma cadência virtuosística era tão comum que se tornou quase um clichê do período, presente não só em Rossini, mas em outros compositores de ópera italianos e instrumentistas virtuoses. Giuliani, atento ao gosto do público e ao repertório da época, incorporou esse recurso em várias de suas obras.

3. Conclusão: O Mistério Resolvido

As duas peças de Giuliani compartilham o mesmo tipo de finalização porque o compositor usava fórmulas operísticas de efeito, inspiradas no repertório de Rossini e no gosto musical da época.

Não há registro de uma obra específica de Rossini que contenha exatamente esse final, mas o recurso é típico das aberturas e finais de ópera do período, especialmente nas obras do próprio Rossini.

Sua percepção auditiva está correta: Giuliani “pegou” esse tipo de ponte do universo operístico, adaptando-o ao violão e reutilizando-o em diferentes contextos, tanto em peças didáticas quanto em variações virtuosísticas.

Sugestão para Exploração:

Se quiser aprofundar, compare as cadências finais de aberturas como “O Barbeiro de Sevilha” ou “Guillaume Tell” de Rossini com os finais das obras de Giuliani. Você perceberá semelhanças na construção dramática, mesmo que não haja citação literal de temas.

Resumo: Giuliani utilizou um recurso operístico típico, inspirado no estilo de Rossini, como fórmula de efeito em finais de obras — por isso você encontra a mesma “ponte” conclusiva em peças tão diferentes do compositor."

Fantástico não? 

Esse é um ótimo exemplo de uso positivo de tecnologias que temos à disposição. Mas não parou por aí. Pedi à Perplexity que preparasse um artigo sobre o assunto especialmente para ser publicado aqui no The Tao of the Guitar. Então, com a palavra, Perplexity:

"



O Final Brilhante: Influências Operísticas em Mauro Giuliani e o Efeito Rossini no Violão.

Introdução

No universo da música clássica, certos gestos estilísticos transcendem gêneros e instrumentos, criando pontes inesperadas entre óperas grandiosas e peças instrumentais intimistas. Um desses fenômenos é a recorrência de finais brilhantes em modo maior, mesmo em obras compostas em tonalidade menor, prática marcante nas aberturas de ópera de Rossini e adotada por compositores como Mauro Giuliani no repertório para violão.


A Fórmula do Final Brilhante

O que é?

Trata-se de um recurso em que a peça, mesmo sendo predominantemente em modo menor, termina de forma triunfante e otimista em modo maior. Essa “resolução brilhante” era um verdadeiro clichê de efeito no início do século XIX, especialmente nas aberturas de óperas italianas.


Exemplos Clássicos

Rossini – Abertura de “O Barbeiro de Sevilha”: A peça transita entre modos, mas termina com uma explosão em Mi maior, criando sensação de apoteose.

Rossini – Abertura de “Guillaume Tell”: Inicia em Mi menor, mas o famoso final (“Marcha dos Soldados Suíços”) é em Mi maior, exemplo máximo do efeito otimista rossiniano.

Rossini – Abertura de “La Cenerentola”: Após passagens dramáticas em menor, resolve em maior, reforçando o clima de vitória e alegria.

Outros compositores italianos, como Donizetti e Bellini, também utilizavam esse recurso, mas Rossini é o maior expoente dessa prática.


Mauro Giuliani e o Violão Virtuosístico

Giuliani e a Influência Operística

Mauro Giuliani, principal nome do violão no início do século XIX, era profundamente influenciado pela linguagem operística italiana, especialmente por Rossini, com quem conviveu em Viena. Giuliani buscava transportar para o violão os gestos dramáticos das aberturas de ópera, incluindo as resoluções brilhantes e cadências virtuosísticas.


Auto-citação e Fórmulas de Efeito

É comum encontrar em diferentes obras de Giuliani, como a Sonatina op. 71 nº 1 e as Variações sobre as Folias de Espanha op. 45, finais quase idênticos: uma ponte modulante seguida de uma cadência triunfal em modo maior, mesmo que a peça esteja em menor. Esse recurso não é mera coincidência, mas sim uma adaptação das fórmulas operísticas de efeito, pensadas para impressionar o público e demonstrar virtuosismo.


A “Cadenza Fuori Tempo”: Liberdade e Brilho

O Que É?

A “cadenza fuori tempo” é uma cadência executada fora do tempo regular, momento de liberdade rítmica e virtuosismo, geralmente antecedendo a resolução final da peça. O intérprete pode acelerar, retardar ou pausar livremente, exibindo técnica e expressividade, em clara inspiração nos solos improvisados das óperas e concertos clássicos.


Exemplos para Ouvir

Rossini – Abertura de “Semiramide”: Apresenta cadências orquestrais livres antes dos retornos temáticos e do final apoteótico.

Giuliani – “Rossiniana” para violão: Giuliani utiliza cadências livres inspiradas diretamente nas aberturas de Rossini, com resoluções brilhantes em maior.

Mozart – Concertos para Piano: Mozart popularizou o uso da cadenza fuori tempo, influenciando toda a geração seguinte, inclusive os italianos do século XIX.


Por Que Esse Recurso Era Tão Popular?

Efeito Dramático: Criava sensação de triunfo e apoteose, agradando plateias ávidas por emoções fortes.

Virtuosismo: Permitindo ao intérprete exibir técnica e criatividade, especialmente em instrumentos como o violão.

Tradição Operística: Era um gesto herdado das óperas, onde finais grandiosos em modo maior simbolizavam vitória, redenção ou felicidade.


Conclusão

A recorrência de finais brilhantes em modo maior e o uso da “cadenza fuori tempo” na música instrumental do início do século XIX refletem a profunda influência do universo operístico, especialmente de Rossini, sobre compositores como Mauro Giuliani. Esses recursos, longe de serem meras fórmulas, são pontes entre o drama do palco e a expressividade do salão, perpetuando o brilho da ópera no repertório instrumental."


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Espero que tenham gostado da leitura. Para finalizar nosso post de hoje, aqui estão alguns ótimos álbuns para você conhecer:

1) Rossini Overtures. Colin Davis e Royal Philharmonic Orchestra

https://music.youtube.com/playlist?list=OLAK5uy_kwUEi98332_PP1G3jlRW6GfB9yykDy1qg&si=Gq_PxtqEwY9Td_Ut


2) Rossini Overtures. Claudio Abbado e Chamber Orchestra of Europe

https://music.youtube.com/playlist?list=OLAK5uy_n-RFpW9mE8zXfnBZnqrIsfqNj5hNJx-N0&si=cPzckfAFhsSAt4K-


3) Mauro Giuliani: Guitar Solo and Chamber Music. Stefano Cardi & Enrico Casularo

https://music.youtube.com/playlist?list=OLAK5uy_mYlLoO01ssJZVH1MKZ2TFT2YdJm8Bd_TE&si=tWaRKotnMxENf6Xx


4) Mauro Giuliani: Rossiniane. Giulio Tampalini

https://music.youtube.com/playlist?list=OLAK5uy_mL23eMRXPmolCf1uNEBx1-hyLAiyX2kNc&si=c1A01k1HIBJYutNi



5) This Is Classical Guitar: Music by Sor and Giuliani. Jürg Kindle

https://music.youtube.com/playlist?list=OLAK5uy_ntYlipEkSt9ciJvamGc65Yp2yQ4wtvZ9A&si=uc650DMf1UYiJtGz



Não esqueça de ouvir com atenção. Os links acima são da plataforma YoutubeMusic (é a plataforma que utilizo atualmente), mas você, provavelmente, encontrará esses álbuns em outras plataformas também. 

De preferencia, use bons fones de ouvido ou boas caixas de som. E, provavelmente, será mais proveitoso se você tomar notas durante as escutas. Recomendo bastante que você escute música seguindo na partitura também. Um ótimo lugar para conseguir partituras que estão em domínio público de maneira segura e gratuita é pelo site do IMSLP:

https://imslp.org/wiki/Main_Page

Por hoje é só pessoal.

:)

Grande abraço musical e ótimos estudos.

[]

João Paulo Pessoa.

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Nota: Esse texto foi produzido com auxílio do "Mecanismo de busca com inteligência artificial e processamento avançado de linguagem natural" denominado Perplexity

"A Perplexity AI é um mecanismo de busca com IA que entende e responde perguntas com respostas completas"

(https://www.perplexity.ai/)

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025

Aniversário de 30 anos do CD do Cruor!

 



Olá ... mais um post aqui no nosso blog. Comemorando, é claro, os 20 anos do The Tao of the Guitar. Desde o ano de 2005 que estamos firmes aqui nas postagens sobre música e violão ... são 20 anos de blog. Um marco bem interessante mesmo.

Mas 2025 também é o ano em que o CD do Cruor completa 30 anos de gravado. Em 1995 eu estava tocando guitarra nesta banda incrível de thrash metal. Gravamos o nosso CD naquele ano ... e foi um marco na história do Heavy Metal em Pernambuco. Fomos a primeira banda de metal pernambucana a ter um trabalho registrado e lançado em CD. Na época, as bandas alternativas do Recife ainda estavam trabalhando com o então famoso formato de "Fitas-demo", e nenhuma banda de heavy metal do nosso estado havia gravado e lançado um CD ainda (nem mesmo vinil, que eu saiba). O cd do CRUOR, gravado em Olinda-PE em 1995, foi masterizado, fabricado e lançado na Suiça na época. A história está registrada não apenas em nosso CD, mas também no livro PESADO: Origem e Consolidação do Metal em Pernambuco, de Wilfred Gadêlha. Esta obra incrivelmente importante do jornalista e músico Wilfred Gadêlha conta não apenas a história do Cruor, mas de toda uma cena do heavy metal pernambucano, destacando a trajetória de diversas bandas importantes que fizeram (e fazem) o movimento do Heavy Metal em Pernambuco. Esse livro foi lançado em 2014. É interessante observar também que o próprio autor do livro (Wilfred), também foi integrante do Cruor em uma fase posterior à minha passagem pelo grupo. 




Depois de 30 anos de lançamento do CD do Cruor, ele tornou-se bem raro. Um ítem de colecionador mesmo. E eu mesmo não possuia mais este CD em minha coleção. Tentei comprar ... mas as pessoas que o possuiam vendiam muito caro mesmo. No discogs (maior plataforma para colecionadores e comerciantes de discos raros), o cd do Cruor está saindo por quase 900 reais (em 2025) ...

Não possuir o disco era, para mim, um certo empecilho. Além de ser também um embaraço para que produzisse algum material realtivo ao Cruor em algum de meus canais de comunicação. Mas, eis que ganho o CD de presente de uma grande amiga (Flávia Maciel ... muito obrigado Flavinha). 

Então, justamente, em 2025, 30 anos depois, fiz o meu Episódio Documentário CRUOR: 30 anos de lançamento do CD ... Um episódio mais que especial do meu podcast audiovisual Discos para ouvir-por João Paulo Pessoa.

Faz bastante tempo que venho compartilhando sugestões de escuta de álbuns em meu canal do Youtube, em meu Instagram e aqui no The Tao of the Guitar também ... Lá no Discos para ouvir por JPP, estamos no ep. 14 deste podcast audiovisual que começou como uma playlist de vídeos sobre minha própria coleção de discos.

Acontece que ainda não tinha parado para falar sobre um dos discos mais especiais da minha vida: o CD do Cruor - a lendária banda de thrash-metal pernambucana, da qual tive a honra de fazer parte entre os anos de 1992 e 2002 ... participo neste CD como guitarrista e compositor/co-autor. Como disse antes, este disco representa um marco na história da música pernambucana pesada, relacionada ao rock, ao heavy-metal, ao thrash, etc. No livro de Wilfred Gadêlha lançado em 2014, "Pesado - Origem e Consolidação do Metal em Pernambuco", há uma narrativa valiosa e uma análise sobre a importância deste CD na história do Metal de Pernambuco. E tenho bastante orgulho mesmo de abrir este livro e ver meu nome escrito em suas páginas, registrando assim minha participação nesta história tão importante.

 Mas neste episódio do nosso podcast, neste "EP. Especial - 30 anos do lançamento do CD do Cruor", eu mostro a minha perspectiva da história. É a narrativa do ponto de vista de quem vivenciou a criação da obra em questão, de quem escreveu músicas e letras presentes no CD, tocou no disco, na tour de divulgação, em vários shows, com distintas formações, etc ... 

São muita histórias, que de certa forma, complementam as informações presentes no livro: detalhes importantes sobre a gravação e/ou concepção do disco, que não cabiam na narrativa de Wilfred em seu livro, ficam aqui registrados para a posteridade. Foi uma década da minha vida com muito som pesado, e com ótimas histórias e vivencias.

Nosso podcast Discos para ouvir - por João Paulo Pessoa, está disponível em várias plataformas de streaming como Spotify, Deezer, etc. 

Vou deixar aqui o link do nosso Episódio Documentário CRUOR: 30 anos de lançamento do CD lá no Youtube mesmo, por ser a plataforma que eu uso mais. Preparem a pipoca antes porque são duas horas de muita história:



Espero que seja útil a quem se interessa pelo tema.

Grande abraço musical e fraterno e bons estudos.


João Paulo Pessoa.


Escute aqui o CD do Cruor gravado em 1995. Tive a honra de fazer parte do Cruor e ser o guitarrista da banda na época da gravação deste CD. Algumas das obras do disco (como Insane Harmony, Game of Words, Banditry, entre outras) são também de co-autoria minha, junto com Jairo Neto e Zeca Aranha. Aqui está o link para a página do Cruor na plataforma Bandcamp: https://cruor.bandcamp.com/album/cruor


segunda-feira, 13 de janeiro de 2025

"No novo tempo..."

Jam session prog rock em 11/01/2025. 
Guitarra: João Paulo Pessoa / Bateria: Vinícius Galvão / Baixo: Jairo neto.
Um reencontro mágico e histórico.
 

"No novo tempo. Apesar dos castigos. Estamos crescidos. Estamos atentos. Estamos mais vivos. Pra nos socorrer. ..." (Trecho da canção Novo Tempo de Ivan Lins)


2025 ... Como diremos sempre ao longo desse ano: 20 anos do The Tao of the Guitar. Estamos desde 2005 compartilhando aqui ideias e pensamentos relacionados ao nosso fazer musical. A razão desse post é apontar possíveis novos rumos para o The Tao of the Guitar, sem deixar nossa essência se perder e/ou se desvirtuar. 

Alguns poucos posts atrás, eu divulguei aqui a estréia do meu podcast "João Paulo Pessoa", onde, no primeiro episódio, eu conto resumidamente minha trajetória como músico e meu caminho de órfão desolado e perdido, passando por guitarrista de rock em bandas alternativas do Recife, e chegando a professor efetivo de violão erudito no Conservatório Pernambucano de Música, a mais respeitada e conceituada escola de música de nossa região, onde leciono desde o ano de 2010, quando conquistei a Cátedra de Professor Efetivo de Violão Erudito, via concurso público. Nesta jornada que narro no primeiro ep. do meu podcast, cito os nomes dos meus grandes amigos, e parceiros em experiências sonoras, Vinícius Galvão (que foi meu companheiro de grupo na histórica banda de prog rock recifense Van Ludwig*, onde ele tocava bateria) e Jairo Neto (outro companheiro do mundo do rock'n'roll, com quem toquei na famosa banda de trash metal pernambucana Cruor**, da qual Jairo é, e sempre será, o baixista, vocalista em tempos de crise, mentor intelectual, "espírito sombrio" e articulador de ideias insanas). 

Pois bem, acontece que, não por acaso, alguns dias depois de ter postado essa narrativa nas redes (através do sofisticado emaranhado de dispositivos de divulgação das minhas ideias confusas), aconteceu no dia 11 de janeiro de 2025, em um bar do Recife chamado "Bacabelha", o meu retorno oficial ao mundo do Rock'n'roll através de uma jam com Jairo e Vini. Estou aqui então, escrevendo este post para tentar descrever a sensação de estar a pelo menos 25 anos afastado do sentimento único de estar no palco com um power trio fazendo prog rock e, de repente, se ver com uma guitarra elétrica nas mãos improvisando meus solos como se nunca tivesse me afastado deles. 

Mas, vamos por partes (como dizem alguns profissionais de áreas mais ligadas a assuntos comerciais do dia-a-dia): tudo começou com uma postagem no instagram. Não ... não foi isso, foi bem antes ... mas como tudo é extremamente confuso de explicar, vamos supor uma plausível simplicidade para conseguir o feito de colocar isso em palavras de uma maneira minimamente compreesível. 

Jairo já falava comigo há muito tempo sobre como seria interessante se eu voltasse a tocar guitarra elétrica. Neste sentido, o meu amigo chileno, Matias Anguita Echiburu foi um precursor de ideias ... Sinceramente, Matiitas me enchia a paciência praticamente exigindo por anos que eu voltasse ao mundo do rock com minhas frases improvisadas de guitarra elétrica. E por mais que eu explicasse que estava envolvido com outras imaginações artísticas, mais ligadas ao universo segoviano da emulação de realidades orquestrais nas miniaturas dos sonhos violonísticos, etc etc ... Ainda assim, Matiitas não se conformava e, literalmente, me enchia a paciência. Chegou num ponto em que tive que bloquear Matias no instagram (ainda está bloqueado, na verdade), mesmo continuando a sentir um imenso amor fraternal pelo meu brother chileno, que, por sinal, foi um dos grandes responsáveis por eu gostar tanto assim de Deep Purple até hoje em dia. Portanto, Matiitas foi influente de certa forma no meu gosto pela guitarra elétrica e pelo volume da eletricidade. Matias Anguita Echiburu, apesar de ser um pouco chato às vezes, nunca deixou de ocupar um lugar de irmão em meu coração sonoro. 

Mas, voltando aos pedidos menos enfáticos de Jairo Neto por um retorno meu ao rock'n'roll, uma inteligente ideia dele foi propor ao meu grande irmão Vinícius que também conversasse comigo ... isso já tem um bom tempo. Anos. E eu, como bom obstinado que sou, sempre tentava explicar meus "sonhos segovianos" e justificava minhas escolhas explicando com fervor, quase religioso, a sofisticação do poder polifônico do violão, a delicadeza e sutileza do formato das unhas de um violonista, a imensa necessidade de imersão psicoacústica para a manutenção de uma pretensa habilidade de trânsito estilístico temporal no repertório do violão clássico, as incompatibilidades entre as técnicas de mão direita e esquerda no violão cássico e na guitarra elétrica, entre outras explicações técnicas que deviam parecer delirantemente absurdas para os meus amigos do rock'n'roll, mas, que correspondem, de fato, a uma pragmática realidade (ou quase isso, pelo menos). Mas, enfim, algum tempo depois, eu mesmo acabei me convencendo (não sei exatamente como) da necessidade de voltar a tocar guitarra elétrica. Curiosamente, e para minha surpresa, estou estudando mais violão clássico agora, depois de voltar ao rock e à guitarra eletrica ... paradoxos.

Continuando esta postagem um tanto quanto difusa de hoje, vou explicar de maneira breve e objetiva (não acredite nisso) o que aconteceu no dia 11 de janeiro de 2025. 

Decidimos, eu, Jairo e Vini, que haveria um reencontro musical. Que tocaríamos em power trio. Mas, o que tocariamos? Não tínhamos muita ideia. Apenas combinamos de fazer isso no sábado, 11/01 ... (Sabbath!). Inicialmente seria apenas um ensaio em estúdio. Mas, Jairo nos falou da possibilidade de tocarmos ao vivo, para uma pequena platéia, numa curta apresentação de 10 minutos, no sábado à noite, lá no Bacabelha - o bar onde Jairo toca blues nos sábados à noite, integrando o trio do guitarrista recifense Rodrigo Morcego. Nossa jam seria no intervalo da apresentação de Morcego. Só precisávamos respeitar o tempo disponível que seria de dez ou quinze minutos. Nas palavras dele "não pode passar de quinze minutos de maneira alguma". Tanto eu quanto Vini achamos prudente aceitar a oferta totalmente irresponsável que Jairo nos fez, de nos juntarmos para tocar ao vivo para uma platéia, depois de aproximadamente 30 anos que não tocávamos juntos. 

Na verdade, pelo menos no meu caso, eu não me apresentava em público com uma guitarra elétrica numa formação power trio há, no mínimo, 20 anos. Acho que a última vez que subi num palco com uma guitarra elétrica à frente de uma banda foi durante o meu curso de Licenciatura em Música na UFPE, provavelmente antes do ano de 2002. Na época, tínhamos um grupo de música instrumental chamado "Da Licença" e tocávamos em eventos da nossa universidade. Depois disso, ingressei no mundo do violão e da música clássica e minhas apresentações passaram a ser sempre acústicas (em teatros ou igrejas), com o meu repertório de violão solo, música de câmara com o "Duo Pessoa da Silva", além de outras formações e experiências nesse sentido. Mas, nada de rock, prog e muito menos guitarra elétrica ou qualquer outra coisa que estivesse plugada. 

Acredito que no caso de Vini tambem não foi muito diferente, uma vez que já faz muitos anos que o monstro da batera - Vini - deu lugar ao Prof. Vinicius Galvão, um pacato e muito atuante psicólogo, professor e pesquisador dos problemas que atordoam a alma humana ... tendo trocado as baquetas por ferramentas freudianas, mais sutis, há bastante tempo. 

De qualquer maneira, decidimos (pelo menos eu e Vini) que era hora de voltar ... e a melhor maneira era simplesmente voltar como quem nunca partiu. Começamos nossa jam improvisando sobre uma música que tocávamos no setlist do Van Ludwig: nossa própria versão instrumental para o Tema para a Procissão de N. Sra. Mãe dos Homens, uma música composta pelo pai de Vinícius, o médico e compositor Luis Paulo Galvão***. Para completar o risco de ser um completo fiásco, Vini havia nos avisado: "Papai estará na plateia hoje à noite". Mas, magicamente, ao começarmos a tocar, vi que isso que falam os mais antigos sobre "o espírito do rock'n'roll" ou coisa parecida, de alguma maneira é, de fato, verdade. Ficamos possuídos pelo som que produzíamos ... Jairo estava totalmente integrado nos graves com as emulações tribais primitivas das viradas da bateria de Vini ... eu fechei os olhos e simplesmente permiti que as notas embaixo de meus dedos falassem por mim ... De repente, estávamos improvisando em cima do tema de "The Rover" do Led Zeppelin, depois improvisos puros, soltos,  originais ... e, por um tempo, não sabíamos mais em que estrutura musical estávamos ... naturalmente (sem pensar mesmo) o riff de Purple Haze de Jimi Hendrix surgiu em baixo dos meus dedos e, instataneamente, o clima mudou. Jairo e Vini me seguiram em outra paisagem sonora por mais algum tempo ... até que, como que prevendo um devaneio, Jairo puxa, em plena euforia hendrixiana, o Tema para a Procissão de N. Sra. Mãe dos Homens novamente ... e, aos poucos, fomos voltando, voltando, voltando... Em aproximadamente dez ou doze minutos de Jam Session, desenvolvemos de maneira quase instintiva uma estrutura musical coesa de três movimentos, tornando assim a nossa jam uma verdadeira "Experiência Prog".

Provavelmente, as coisas não aconteceram exatamente assim ... mas, foi a forma que consegui de traduzir em palavras o que senti naquela noite sonora com os meus amigos do rock'n'roll, Vini Galvão e Jairo Neto. Aproveito também para agradecer ao guitarrista Rodrigo Morcego pela força, cedendo o espaço para nossa jam e, ainda por cima, me emprestando sua Gibson Les Paul para eu tocar naquela noite. É como eu disse lá no dia: "Marcelo, meu velho, você é o cara!"

Espero que este relato verídico (ou muito próximo disso) sirva de inspiração para que você pegue agora o seu instrumento musical e vá praticar. Como diz o professor e guitarrista de jazz pernambucano Nilton Rangel: "Todo dia um pouquinho, aqui. Meu filho. amanhã, melhor. Dez reais"


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*O Van Ludwig foi uma banda pernambucana, recifense, de prog rock, que atuou fortemente na cena underground do Recife, entre os anos 1988 e 1998. Era um quarteto que contava com a seguinte formação: Daniel Duarte (Teclado e Voz), Leonardo Nunes (Baixo e Voz), Vinícius Galvão (Bateria) e João Paulo Pessoa (Guitarra Elétrica). Apesar de termos gravado duas "fitas-demo" em estúdios e termos feito alguns programas de rádio (principalmente aparições no programa "Faixa Local" da Rádio Universitária FM), além de diversos shows (alguns dos quais lembro que foram registrados em fita cassete) ... ainda assim, não tenho até o presente momento nenhum registro disponível de nossas gravações. Mas há esperança. Estamos tentando entrar em contato com pessoas que podem possuir alguns desses registros.

            

**Escute aqui o CD do Cruor gravado em 1995. Tive a honra de fazer parte do Cruor e ser o guitarrista da banda na época da gravação deste CD. Algumas das obras do disco (como Insane Harmony, Game of Words, Banditry, entre outras) são também de co-autoria minha, junto com Jairo Neto e Zeca Aranha. Aqui está o link para a página do Cruor na plataforma Bandcamp: https://cruor.bandcamp.com/album/cruor


***Escute aqui o EP de Luis Paulo Galvão, "Cheguei Recife":  https://music.youtube.com/playlist?list=OLAK5uy_kKyOgOmA2UQUOfEvisgmxkrd5m-UaDVGw&si=j5K4Hj-Q7KOxI8b3 ... N. Sra Mãe dos Homens é a terceira faixa do EP. 

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Agradecimentos muito especiais a Maria Flor ... pela revisão do texto e pela imensa força de sempre.


Grande abraço musical e bons estudos.

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Joaõ Paulo Pessoa.