Este blog é um espaço para a publicação de artigos sobre música, arte, literatura, poesia, filosofia, citações, fotos, textos, vídeos e idéias sobre a arte de decifrar os segredos desta caixa mágica de sons que é o violão. João Paulo Pessoa.
Além de posts relacionados ao universo do violão e da música clássica, você encontrará aqui textos sobre prog rock, guitarra elétrica e outros interesses musicais e artísticos da minha personalidade.
Boa viagem.
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terça-feira, 4 de dezembro de 2007
Paul O'Dette - Barroque guitar.
Great!!!!!!!!
domingo, 2 de dezembro de 2007
Hsi-K’ang (223-262 d.C.) realiza um ensaio poético taoísta sobre o alaúde.

Ao seu juízo, nenhum outro instrumento exercia uma influência tão poderosa nos homens. Começa relatando a origem natural do alaúde: a madeira com que se constrói é de robustas árvores que crescem em elevadas montanhas, em harmonia com o solo e a Terra, com o Sol e a Lua. Em paisagens recônditas, elevam-se majestosas entre a neblina “espiritual” que flutua nas montanhas e se mesclam com as nuvens; em paisagens nos cumes das montanhas, visitadas pela ave fênix, permanecem quietas em passiva majestosidade, enquanto a brisa suave as deflora.
Essas árvores, rodeadas de um cenário sulcado por torrentes que se precipitam espumantes, e pedras de jade e jaspe de extáticas cores, são naturalmente espirituais e belas: por esta razão são adequadas para inspirar um profundo amor à música.
É nesses locais que os sábios se reúnem, fugindo do ruído mundano. Ali vagam e meditam, ali seus corações se enaltecem de nobres emoções. Desejando explorar seus mais fundos sentimentos, esses homens superiores escolheram a madeira dessas árvores para traçar o desenho do alaúde. Moldaram sua forma, decoraram-no com incrustações de marfim e chifre de rinoceronte, recamaram-no com belas pedras, puseram-lhe cordas de seda e chaves de jade. Com ele criaram canções e harmonizaram melodias e canto em enriquecidas formas harmoniosas. As notas do alaúde foram variadas e coloridas com plumas multicores de aves selvagens, produzidas por pulsações dançantes dos dedos dos sábios. Como a estrutura de construção do alaúde é harmoniosa, sua sonoridade também o é. Sua influência pode purificar o coração e o espírito, e influir na harmonia do Céu e da Terra.
Essa música supera todas as artes.
Não se consegue interpretar música magistral com as mãos, mas com o coração. A música não é gerada pelas diversas notas, mas pelo Tão que flui naturalmente; não quando se tenta “expressar” a música com urgência, mas quando se aquieta o espírito, que se funde com ela.
Existe uma série de regras para o uso do alaúde, que expõe a disposição nobre que deve ter um músico que aspire a interpretar a essência do Tão. Primeiramente, assinala Wu-ch’em (1249-1331), quando alguém toca o alaúde deve comportar-se como se achasse na presença de um superior, independente de que alguém esteja presente ou não. O espírito claro, a mente calma, o olhar tranqüilo e o pensamento sereno. Então, o tato dos dedos será correto e fluido e as cordas amplificarão o sentimento com simplicidade e serenidade, sem efeitos rebuscados que confundem as melodias.
O alaúde deve ser tocado ao se encontrar com alguém que entenda (“compreenda”) a música; ao se conhecer uma pessoa que mereça essa oferenda; para um taoísta em retiro; num salão espaçoso; depois de se ter subido a um alto pavilhão; num claustro taoísta, sentado sobre uma pedra; após ter subido uma montanha, descansando num vale; no barco; caminhando junto a um riacho; descansando num bosque à sombra; quando as duas essências da natureza são brilhantes e claras; quando há lua cheia e brisa fresca.
Não se deve tocar o alaúde quando há vento, trovões e tempo de chuva, quando há eclipses solares ou lunares; num tribunal; numa loja ou num mercado; para uma pessoa vulgar; para um bárbaro; para uma cortesã; para um mercador; depois de uma bebedeira; depois de fazer amor; com roupas desasseadas ou muito desalinhadas; congestionado ou suado; sem haver lavado corretamente as mãos e os dentes; em locais ruidosos.
Com o alaúde ou com qualquer instrumento que nos acompanhe, o ato musical deve se transformar num ato de amor.
obs: texto extraido do livro "O Tao da Música" de Carlos Fregtman (ed. Pensamento).
quinta-feira, 29 de novembro de 2007
http://www.guitarnation.com/
em breve estarei postando aqui novamente!
gde abraço!
João Paulo.
quinta-feira, 18 de maio de 2006
Desiderata of the guitar

quinta-feira, 20 de abril de 2006
Zen Guitar
Algumas idéias do Romantismo.

A rivalidade comercial na Europa foi aumentando e inúmeras guerras localizadas aconteceram. Duas delas consolidaram as unificações nacionais da Itália e da Alemanha. Também o movimento operário se organizou, através dos sindicatos e dos partidos políticos, conquistando, pacificamente ou não, vários direitos sociais até então negados pelas elites. A Ciência tornou-se a principal referência em matéria do conhecimento, desbancando a Filosofia e a Religião, e começou a influenciar o comportamento cotidiano das pessoas.
Nas Artes tivemos um desenvolvimento impressionante de tendências e correntes. As principais correntes literárias foram, na seqüência de surgimento: Romantismo, Realismo/Naturalismo e Parnasianismo, Simbolismo e as primeiras correntes modernistas. Nas Artes Visuais: Romantismo, Realismo, Impressionismo, Art Nouveau, Art Décor, Art Naif e as primeiras correntes modernistas.
A música foi batizada, genericamente e por comodidade, com o nome de "Romantismo". Entretanto esta denominação não expressa de maneira adequada a profunda transformação musical ocorrida nesta arte entre o final do século 18 e o século seguinte. E muitos historiadores já estão propondo redefinir esta nomenclatura para melhor explicitar as várias correntes musicais.
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O Romantismo filosófico-cultural surgiu quase simultaneamente na Inglaterra e na Alemanha no final do século 18. Este movimento era primeiramente uma reação política contra os ataques napoleônicos e, mais tarde, tornou-se uma revolta contra qualquer sujeição às regras sociais, religiosas, culturais e artísticas. Na França, depois de muita resistência, chegou por volta de 1810. E daí espalhou-se para o mundo.
As características desta estética foram:
- liberdade artística e técnica;
- liberação dos sentimentos pessoais (muitas vezes melancólicos) valorizando o "eu" (reflexo do individualismo da burguesia);
- nacionalismo;
- volta a uma Idade Média idealizada;
- exotismo;
- orientalismo;
- saudação ou temor pelo avanço da Ciência ;
- crítica ou fervor religioso;
- exaltação à Natureza em contraposição às convenções da civilização industrial;
- Nostalgia;
- Exaltação da infância como retorno a natureza.
Além disto, para os românticos, a Arte redimiria o ser humano. Os artistas, livres de qualquer herança dos estilos passados e da tutela aristocrática ou clerical, passaram a se submeter às leis do mercado e moldavam sua obra conforme suas expectativas e os seus anseios pessoais em relação à competição individual e ao impacto comercial que poderia causar num público disposto a pagar pela sua criatividade. Decorrem daí os clichês individualistas de que o Romantismo é a "arte confessionária", "arte da expressão pessoal", "arte das emoções e sentimentos puros", e os conceitos de "inspiração", "talento" e "gênio".
Forjada pelos livros de história - para deleite dos diletantes - e, também, pelos próprios artistas, a imagem que temos deles é que nasciam predestinados ou eram de outro mundo; tinham uma infância sofrida e pobre; viviam e morriam com o "mal do século"; estavam sempre ao luar com suas fervorosas amadas imortais; eram gênios incompreendidos; eram vítimas de intrigas e conspirações; ficavam frustrados, desesperados, pessimistas, chorosos e dengosos sem qualquer razão aparente; tinham quinze minutos de uma vasta aclamação pública, mas eram criticados áspera e atrozmente pelos insensíveis críticos da época; produziam cenas escandalosas ou ataques da mais pura loucura; diziam frases retumbantes de inspirada elevação filosófica, poética ou existencial; estavam alienados e não se importavam com nada; gastavam o dinheiro que tinham e o que não tinham e, finalmente, morriam na maior miséria, jovens e esquecidos injustamente, para ressuscitar, para a maior glória, algum tempo depois. Tudo isto é lenda, igual ao que se veicula nas revistas sobre astros do cinema e televisão hoje em dia. A realidade é que a arte, em qualquer momento, vive de um pouco de mistificação, mas é um trabalho e o resultado é fruto de estudos disciplinados e pesquisas cotidianas incessantes.
Bases Filosóficas.
Na segunda metade do século XVIII, entre 1760 e 1785, houve um movimento filosófico que prepararia o caminho para o Romantismo e repercutiria nas obras clássicas de Haydn e Mozart. Este movimento chamou-se Sturm und Drang. O culto à genialidade, a auto-afirmação, a revolta contra os “ditames da razão”, a busca da espontaneidade e da simplicidade na poesia e na música, a busca das raízes históricas nacionais, são todos elementos do Sturm und Drang e repercutiram ao longo de todo século XIX.
O caráter subjetivo da poesia baseada neste movimento filosófico, que aparece em grande parte no Lied poético, vem a ser bastante importante na criação do Lied musical. Como exemplo podemos citar poesias de Goethe, Claudius, Bürger, Lenz e Heder, que foram musicadas por Schubert.
Para a filosofia o ponto de partida do Romantismo foi a obra do autor Fichte, publicada em 1794 com o título Fundamento de Toda Teoria da Ciência. Suas idéias foram difundidas pelos irmãos Schlegel, considerados por muitos autores como os “fundadores do Romantismo”. Um dos traços mais marcantes deste novo movimento, o Romantismo, seria a busca por uma unidade e pela superação de todos os dualismos. O alvo final seria atingir o absoluto, deixando assim a natureza de ser um gigantesco mecanismo governado por leis naturais eternas. Aparece a idéia da evolução em base dialética. Tais idéias nos são apresentadas não só pelo citado autor Bruno Kiefer, mas também pelo especialista em filosofia do Romantismo Gerd Bornheim, e pelo autor Paulo Vizzioli, que escreveu o artigo “sentimento e razão na poesia do Romantismo”.
Estes conceitos e idéias filosóficas têm seus reflexos não só nas ciências, mas também nas artes deste período. A idéia da obtenção de um todo orgânico levaria Wagner mais tarde à busca de uma “arte total”.
Um outro aspecto a ser destacado no Romantismo, é a nostalgia. Sobre ela, temos a seguinte citação de Bornheim: “... a nostalgia não é um fenômeno primeiro do Romantismo. Primeiro é o sentido do infinito, do absoluto, interior à alma humana, condenada a sua finitude, e que se extravasa no romântico sob a forma de nostalgia”. Em seu texto Filosofia do Romantismo, Bornheim cita a autora Carolina Schlegel: “...devemos, algum dia nos tornar onipresentes, todos uns nos outros, sem contudo, sermos unidade. Pois unos não devemos nos tornar porque então o esforço para atingirmos à unidade cessaria”. Parece-nos que estas afirmações sintetizam o pensamento filosófico Romântico.
A música romântica está toda impregnada deste pensamento, desta nostalgia. Para os românticos, a arte deve desvelar a verdade do absoluto. Esta última não é outra senão a beleza. Por esta razão, o artista adquire no Romantismo uma posição singular de importância na sociedade. Os sentimentos, em razão das idéias filosóficas, passam a ter maior importância na vida dos homens. De acordo com o autor do livro Aspectos Psicológicos do Romantismo, Carlos Moraes, “ ao poeta romântico interessa não o poema perfeito, mas aquele que faça pulsar o coração encharcando os olhos de pranto”. Tal afirmação pode ser também dirigida ao músico deste período. A fantasia criadora assume uma importância maior do que a capacidade arquitetônica. Encontramos no texto de Bruno Kiefer trechos do diário de Schubert em que este último diz: “Oh, fantasia! Tu és a jóia inexaurível do homem, fonte inesgotável da qual bebem tantos os artistas quanto os sábios. Permaneça ainda conosco, apesar de reconhecida e admirada somente por poucos, para nos defender contra o assim chamado iluminismo. Aquele feio esqueleto sem músculos e sem sangue”.
AGUSTIN BARRIOS - O PAGANINI DAS SELVAS DO PARAGUAI


PROFISSÃO DE FÉ
AGUSTÍN BARRIOS.
"Hoje, numa época em que os recitais de violão podem ser encarados como uma parte integral da vida de concertos, onde há um repertório e um público formados, é difícil imaginar as dificuldades que se impuseram para Barrios apresentar um concerto desta natureza. Um paraguaio descendente de índios, tocando um instrumento de reputação duvidosa, associado à malandragem, e ao qual não se atribuía a capacidade de sustentar um argumento musical. Sabe-se que Barrios conheceu Villa-Lobos e se encontrou com os chorões cariocas, que estavam no auge de popularidade na década de 1910, e chegou a conhecer João Pernambuco e dizer que ninguém improvisava como ele. Depois de um retorno decepcionante ao Paraguai, Barrios decidiu retornar ao Brasil, cenário de seus maiores êxitos, e aqui residiu até 1932. Foi um período que marcou época na história do violão, durante o qual Barrios compôs grande parte de suas melhores obras."
(Fábio Zanon)