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sexta-feira, 12 de agosto de 2022

Por que ouvir Haydn? Quem foi esse compositor?

 Olá ...



O post de hoje vai ser não apenas sobre Haydn, mas também sobre a importância de usarmos bem os recursos de pesquisa disponíveis na internet. A idéia de falar um pouco sobre Haydn aqui no blog surgiu em uma aula que eu estava dando essa semana sobre o Estudo op. 60 nº1 de Matteo Carcassi. Eu estava explicando para meu aluno sobre a necessidade de ouvir muita música que se relacione com o estilo da obra que estamos estudando. Sempre falo esse tipo de coisa nas aulas: "(...) se você está estudando blues, precisa ouvir muito blues e tem que conhecer nomes como BB King, por exemplo. Se está estudando forró, precisa conhecer Luiz Gonzaga (...) da mesma maneira, se estamos estudando música clássica, temos que ouvir muito esse estilo". Isso é um fato. Mas é importante também levar em conta que quando se trata do "fazer musical" histórico, ou seja, da interpretação da música do passado, temos que considerar como criadores do que estamos ouvindo, não apenas o compositor, mas também o intérprete. 
Ao considerar a idéia de que precisamos estudar a música de Carcassi, é fundamental saber em que época ele viveu e quais foram suas principais influências. Durante minha aula, eu estava tentando trazer para meu aluno a compreensão da necessidade de contextualizar o que ele estava tocando, para tentarmos chegar ao entendimento de que fazer música vai muito além da leitura das notas e dos sinais da partitura. Citei então os três nomes que são os pilares da música do período clássico e que, com toda certeza, formam um conhecimento básico para interpretar ao violão a música de compositores como Sor, Carcassi, Aguado, Giuliani, Carulli, etc ... Os três pilares aos quais me refiro são Haydn, Mozart e Beethoven. Nesse momento da aula meu aluno explica pra mim: "poxa, professor, já ouvi falar de Mozart e Beethoven ... mas nunca soube da existencia de um compositor chamado Haydn". Essa então foi a fagulha que motivou a presente postagem. 
Acho que é super normal (e na verdade, revigorante), que durante a nossa jornada de aprendizado, apareçam nomes de compositores que nunca ouvimos falar, de culturas longínquas, intérpretes surpreendentes e novidades em geral. É preciso então, estarmos sempre abertos a esse novo conhecimento e dispostos a trilhar esse caminho que vai além de nossas escalas e arpejos ao violão. É preciso, portanto, ler textos e artigos, ouvir falas e palestras, pesquisar nos sites da internet e também nos livros ... mas principalmente, ouvir muita música (tanto gravações, quanto concertos ao vivo).
Vou então citar aqui nesta postagem alguns vídeos que encontrei no Youtube com falas muito relevantes sobre a vida de Haydn, álbuns que estão nos serviços de streaming de música com obras importantes do compositor sendo executadas por intérpretes consagrados, assim como links de sites com textos interessantes para um conhecimento básico sobre Haydn. Mas o que é fundamental nisso tudo? 
O mais importante mesmo é que você sinta que é possível você fazer o mesmo com qualquer nome de compositor e/ou intérprete que seja uma novidade para você. Resumindo em duas palavras: seja curioso.
Vamos começar então pelos links. Sempre (ou quase sempre) que for buscar sobre um novo compositor, um bom ponto de partida é observar se já existe algum artigo no site Wikipedia sobre o compositor em questão. No caso, Haydn é um gigante no mundo da música clássica ocidental e, portanto, estão com toda certeza presentes nessa plataforma, informações sobre sua vida e obra.

Note que este primeiro link foi para uma versão em português da Wikipedia. É muito comum que artigos postados na Wikipedia em diferentes idiomas, apresentem conteúdos diferentes. Frequentemente os artigos em inglês apresentam informações mais detalhadas. Se você consegue ler em inglês e/ou não se importa de usar um serviço como o google tradutor, por exemplo, vai poder acessar informações mais precisas e detalhadas visitando as páginas em inglês no Wikipedia. Para alguns assuntos específicos, as páginas em alemão são ainda melhores. Perceba a diferença ao comparar a versão em inglês do artigo da Wikipedia que fala sobre a vida e obra de Haydn, com a versão em português do link anterior:

Para este post aqui do blog vou deixar só os links da Wiki mesmo. Mas, quando for fazer sua pesquisa, tente ir além. Pesquise em sites de universidades, pdf´s de artigos acadêmicos, teses, sites de museus e instituições culturais e mais o que sua imaginação permitir. Investigue e não tenha pressa.

Próximo passo: vídeos do Youtube e /ou podcasts e coisas do gênero. 
Apesar de poder ver e ouvir grandes orquestras e intérpretes tocando no Youtube, eu acho preferível, pelo menos em um primeiro momento, buscarmos informações textuais e falas em vídeos didáticos e pedagógicos de canais especializados da plataforma. Vou começar dessa vez com um vídeo em inglês do canal Inside the Score. Infelizmente, esse vídeo não apresenta legendas em português. Mas recomendo bastante que haja um esforço no sentido de acessar o conhecimento e as informações contidas nele. Se forem citados nomes de orquestras e/ou intérpretes e maestros é importante que você guarde esse nomes. Se necessário anote em algum lugar. Tente guardar também o nome das obras citadas, para poder ouvi-las na íntegra em um momento posterior. Você verá que ele cita, entre outras obras,  no vídeo: o Credo da Missa Brevis em Fá maior, o Adagio do quarteto nº1, a Sinfonia "Surpresa", a Sinfonia "do Adeus" e a grande obra prima de Haydn, A Criação (The Creation) ... nesse momento ele cita o nome do regente Adam Fischer e a Orquestra Filarmônica da Hungria. Após assistir o vídeo você pode pesquisar e ouvir as obras citadas com os intérpretes citados em sua plataforma de streaming de música preferida. Acho que esse é o processo que você deve tentar seguir em suas pesquisas. Recomendo muito mesmo que você use vídeos como esse apenas como ponto de partida para investigações mais profundas. É bem importante você ter a noção clara de que, ver esse tipo de conteúdo não substitui ouvir música e/ou ler textos, e que a facilidade sedutora dos conteúdos bonitos do Youtube pode muitas vezes manter você apenas na superficie daquilo que você pretende atingir. De qualquer forma, acredito ser uma plataforma muito boa mesmo para pinçar referências. E recomendo bastante também o trabalho desenvolvido pelo canal Inside the Score.


  

Vamos agora a um segundo vídeo do Youtube qua fala sobre a vida e obra de Haydn. Dessa vez um vídeo em lingua portuguêsa, do canal do músico, professor e violonista Sidney Molina. Eu sou super fã do trabalho feito por Sidney Molina no Youtube e também com seu quarteto de violões, o Quaternaglia. Molina é doutor em música e tem trabalhos incríveis, como sua tese sobre a discografia de Julian Bream e/ou sua série de programas de rádio sobre o mesmo tema. Recomendo muito que você conheça o trabalho deste grande músico e pesquisador brasileiro. Mas agora, voltando a Haydn, perceba que neste vídeo, Molina é mais criterioso quando cita as obras e os respectivos intérpretes. Quando ele cita o segundo movimento da Sinfonia 92 "A Surpresa", por exemplo, ele coloca também o nome da orquestra (London Philarmonic) e do regente (Georg Solti). Você pode, e deve, aproveitar as informações e dicas contidas no vídeo do prefessor Molina, e em um momento posterior, buscar as obras e intérpretes em um servico de streaming de música, e escutá-las na integra.


E, por fim, o terceiro, último, e mais importante passo no nosso pequeno exercício de investigação em cima da obra de um determinado compositor: a pesquisa das obras para ouvir. Como citei anteriormente, acho pertinente conhecer as obras através de gravações, álbuns (somente áudio). Não que eu não goste de assistir vídeos de boas orquestras e intérpretes no Youtube. Mas a escuta em plataformas de streaming de música me parece proporcionar mais a concentração desejada para o estudante mergulhar no mundo sonoro. A explicação das razões por essa minha preferência ocupariam um espaço longo demais nessa postagem, portanto, me contento com essa singela explicação: é melhor assim. 

Vou citar portanto, alguns álbuns de minha preferência pessoal, que encontrei na plataforma de streaming que uso no momento que é o Youtube Music. Mas você com certeza encontra estas gravações em outras plataformas. Não vou linkar aqui os álbuns citados nos dois vídeos anteriores. Deixo este trabalho para o estudante ávido por conhecer mais. Perceba que foram citados nos vídeos obras de grande proporção de Haydn ... busque escutá-las. Mas na minha lista, vou indicar obras para pequenas formações e/ou instrumentos solistas. 

Vamos aos álbuns que recomendo:

1) Doric String Quartet - Haydn String Quartets (Wigmore Hall Live): começamos bem com essa super gravação dos quartetos opus 09, 50 e 76 de Haydn. É o registro de um recital ... gravado ao vivo mesmo nessa sala importantíssima em Londres. Traz a emoção de uma performance ao vivo e calor do palco para o som. Para nós violonistas, a escuta de bons quartetos de cordas tocando obras de mestres como Haydn é essencial para nutrir nossa imaginação musical. E o Doric String Quartet se mostra virtuosísticamente incrível neste álbum.

https://music.youtube.com/playlist?list=OLAK5uy_lgeJ_fGgcvMM6yQgi79ZFBrbgsrIfh-1U&feature=share 

2) András Schiff - Haydn Piano Sonatas: este é um pianista muito consagrado que você deve conhecer. Suas gravações são muito bem feitas e seu perfeccionismo nos leva a um outro nível de escuta. As sonatas para piano são uma parte bem importante da obra de Haydn e nos aproxima dos desafios que temos ao interpretar música vistuosística do período clássico no violão. Neste álbum você ouvirá as sonatas 32, 33, 53, 54 e 58.

https://music.youtube.com/playlist?list=OLAK5uy_n42UmJNFquH2j92b6AD5UgEJnJnDyRrCM&feature=share 

3) Paul Galbraith - Paul Galbraith plays Haydn: para os desavisados a resposta é Não! Haydn não escreveu para violão. O que ouvimos nesse álbum incrível do violonista escocês Paul Galbraith, são as suas transcrições para seu violão de oito cordas (que ele chama de Brahms Guitar) das sonatas de Haydn para piano nº 11, 31, 32 e 57. Considero Galbraith como um mestre espiritual, guru e/ou uma espécie de mentor musical imaginário ... Tive a honra de ser aluno de Paul Galbraith em uma masterclass e isso com certeza me impactou muito mesmo. Na época até escrevi uma postagem aqui no blog sobre esta experiência. Sou super fã de suas gravações, principalmente do álbum que tem as sonatas e partitas de J. S. Bach. Neste disco listado aqui, tocando Haydn, Galbraith nos fala, através de suas interpretações, de como não há limites para a vontade e para a imaginação do artista, de explorar os oceanos de outros mundos com o seu instrumento musical. Recomendo muito ouvir repetidas vezes!

https://music.youtube.com/playlist?list=OLAK5uy_nODM5Ubmzg5M8-b6_m_mXYky3_hqxtzns&feature=share

Espero ter ajudado.

Grande abraço e bons estudos.

[]

:)

JPP

quinta-feira, 11 de agosto de 2022

Eficiência na prática do instrumento musical: reflexão constante.

 Olá ...

Esta será uma postagem rápida pra deixar registrado aqui no nosso blog esse pequeno vídeo do canal Ted-Ed que fala sobre a eficiência no treino de uma atividade de performance, como é a prática de um instrumento musical. Várias dicas sobre o assunto podem ser encontradas em postagens aqui do nosso blog e em livros que já comentamos aqui, como esse Manual Prático do autor cubano Ricardo Iznaola:

https://thetaooftheguitar.blogspot.com/2010/01/indicacao-de-leitura-ricardo-iznaola-on.html

O video do Ted-ED vai trazer mais informações científicas para nossa reflexão, sempre com ajuda de animaçôes e de uma maneira leve e descontraída. Achei o conteúdo realmente interessante, didático e pertinente, mas uma coisa me chamou atenção: a constante comparação entre a prática dos instrumentos musicais e as atividades esportivas. Claro que a analogia é interessante e muitas vezes verdadeira. Quando se trata de repetições, temos mesmo isso em comum com muitas práticas esportivas. Mas acredito que a complexidade no estudo da música vai além disso. Existem componentes intelectuais e afetivos que se fundem ao movimento de maneira bastante intrincada. É bem difícil mesmo de analisar isso. Um livro que se aprofunda bem no tema é Alucinações Musicais, de Oliver Sacks. Vale a pena conferir:

https://books.google.com.br/books/about/Alucina%C3%A7%C3%B5es_musicais.html?id=LAaCCgAAQBAJ&source=kp_book_description&redir_esc=y


Mas, voltando ao vídeo do Ted-Ed, as dicas que são mostradas são realmente muito boas e vale muito a pena seguir. Confiram:




É isso aí ... vamos usar nossas repetições com consciência, eliminar as distrações, usar a prática mental da visualização e tentar melhorar sempre a eficiência de nossa prática. Acredito que não exista fórmula mágica e que esse é um assunto que precisa ter espaço definitivo garantido em nossa pauta sobre coisas pra refletir. Se estudamos música através de um instrumento musical, temos que refletir constantemente sobre a eficiência de nossa prática.

Grande abraço musical e bons estudos.

JPP

:)

[]


segunda-feira, 1 de agosto de 2022

Comparando "Scarlattis": a escuta musical de diferentes meios para a obra do mesmo compositor.

 Olá ...



Mais um pequeno exercício de escuta musical comparativa. Na postagem de hoje a proposta é ouvir três álbuns de diferentes instrumentos abordando a obra do mesmo compositor. No caso, a música escrita originalmente para cravo, do compositor barroco Domenico Scarlatti (1685-1757), sendo executada em três meios diferentes: o violão, o piano e o cravo. 

A importancia deste compositor dentro da tradição dos instrumentos harmônicos na música clássica ocidental é imensurável, e seu grande testamento são suas 555 Sonatas escritas diretamente para o cravo. Não estamos falando da sonata com vários movimentos do período clássico, ou da forma sonata que se desenvolve no séc. XVIII. As Sonatas de Scarlatti são, em sua maioria, movimentos únicos escritos em forma binária. Apenas algumas dessas obras não foram dedicadas ao cravo. Um pequeno grupo de 4 Sonatas é dedicado ao orgão, enquanto outras 5 delas são dedicadas a uma pequena formação instrumental (Sonatas para solista e continuo, essas sim são escritas com vários movimentos). Sendo assim, as 555 Sonatas de Domenico Scarlatti formam um dos mais importantes compêndios de obras escritas para o cravo no período barroco. Mais tarde estas obras serão incorporadas ao repertório do piano moderno.

É dificil afirmar com precisão quando, e como, essas obras começaram a ser incorporadas também ao repertório do violão. É provável que as primeiras transcrições tenham aparecido na primeira metade do séc. XX, através de nomes como Emilio Pujol e/ou Andres Segóvia. Recomendo bastante a leitura deste tópico em um conhecido forum de violão:

https://violao.org/topic/24676-falando-sobre-repertorio-28-domenico-scarlatti/

Vamos agora aos álbuns que proponho que sejam ouvidos como uma saudável maneira de apreciar e comparar a música de Scarlatti em diferentes meios. Os três álbuns que vou sugerir aqui podem ser encontrados (na data desta postagem) em plataformas de streaming. Vou deixar como sugestão links para o Youtube Music, por ser a plataforma que uso atualmente. Mas é totalmente possível encontrar os mesmos álbuns em outras plataformas ou mesmo ouvi-los através de uma midia física como o CD, por exemplo. 

O primeiro álbum é do cravista Trevor Pinnock

https://music.youtube.com/playlist?list=OLAK5uy_mE6Y6KblywNzE-LuxzNAs7IZxUK3zGuUY&feature=share 

Na verdade, esse é um LP do cravista Trevor Pinnock gravado na igreja de St Margaret, na Inglaterra, em 1981, relançado em CD em 1995, e publicado em plataformas digitais em 2007. Aqui ouvimos uma interpretação bastante ligada ao movimento de música antiga dos anos 70. As frases são muito bem cuidadas e a articulação impecável. Importante observar como a ornamentação funciona com perfeita organicidade no cravo. O ouvinte que está começando na escuta de instrumentos de época pode estranhar o som um pouco mais pontiagudo do cravo. Já conversei com muitos pianistas que dizem odiar o som do cravo. Acho que é uma questão de ter a imaginação aberta para a história também ... eu acho fascinante pensar no som dos instrumentos de época como uma máquina do tempo para a imaginação. Mas, além disso, realmente gosto desse som mais afiado do cravo. Acho perfeito para a música que foi feita pra ele. As polifonias soam com clareza, as ornamentações não parecem exageradas ou difíceis, enfim, tudo parece adequado. Nesse álbum, Trevor Pinnock consegue nos transportar realmente não apenas para a época barroca, mas, mais do que isso, para o âmago das experimentações harmônicas de Domenico Scarlatti em suas Sonatas.

Vamos para o nosso segundo álbum, entrando agora na sonoridade escura, grave, aveludada e profunda do piano moderno. O álbum que proponho aqui é um CD duplo do pianista russo Mikhail Pletnev. Eu tenho a alegria de possuir este CD aqui em mídia física, e posso dizer que soa muito melhor do que no streaming, pelo menos aqui no meu equipamento e na data em que estou escrevendo esse texto. Mas este trabalho pode ser facilmente encontrado também nas plataformas digitais. No Youtube Music ele foi publicado em 2 volumes separados, por isso vou colocar os dois links aqui:

https://music.youtube.com/playlist?list=OLAK5uy_lEXOM53ZAlVPiZuVmf731UVuu5SjlSrgQ&feature=share 

https://music.youtube.com/playlist?list=OLAK5uy_lONTv0qw1XGjlG5mKFtAp5i1DDwRC_V_0&feature=share 

De acordo com as informações no encarte do CD de Pletnev, essa gravação foi feita em outubro de 1994, nos estúdios Abbey Road, em Londres, em um piano Steinway. Mikhail Pletnev é um virtuose da moderna escola russa do piano. Por isso, a gente sente um pouco mais de romantismo pianístico em sua interpretação de Scarlatti. Mas, por favor, não me entenda mal. As interpretações de Pletnev neste CD são incrivelmente bem informadas do ponto de vista histórico, tanto no que concerne à ornamentação, quanto às articulações. Os desafios técnicos são vencidos com facilidade e a música flui como água. Recomendo uma boa pausa e um café antes de sair do cravo para o piano moderno. A mudança é realmente drástica. Um outro conselho para os ouvintes mais iniciantes: tentem ouvir comparativamente, mas sem julgar qual o seu preferido. Para crescer musicalmente, a escuta atenta e analítica de timbres de instrumentos diferentes é muito importante, mas, além disso, precisamos ter a noção de que os julgamentos definitivos relacionados ao nosso "gostar" musical, podem muitas vezes nos confundir bastante.

Finalmente, chegamos ao nosso terceiro álbum Scarlattiano do dia. Agora vamos experimentar ouvir Domenico Scarlatti soando na madeira na qual habitamos, que é a caixa acústica e misteriosa do violão. O álbum que sugiro é um CD do violonista brasileiro Fabio Zanon, totalmente dedicado a apresentar as transcrições do próprio violonista para algumas das Sonatas do compositor italiano que é objeto da nossa postagem. E, como dá para ver na foto no inicio do post, também possuo este CD em mídia física, meio que sempre é preferível para mim. De qualquer forma, encontrei este álbum no Youtube Music também:

https://music.youtube.com/playlist?list=OLAK5uy_mneDruQalsDrhw9ru0rxT9MgeMCd97em0&feature=share 

Aqui, principalmente o ouvinte violonista mais iniciante, precisa ter uma noção da arte da transcrição. Mesmo entre os músicos mais cultos, essa palavra pode ter diferentes significados. É importante entender que nos referimos a "transcrição" como uma tradução da linguagem de um instrumento para outro, nesse caso, do cravo para o violão. Se você é iniciante na música e no violão, sugiro ler um pouco sobre o assunto. O violão tem atualmente um repertório próprio muito vasto e rico. Mas, muito do que precisamos estudar para adquirir domínio de linguagem em nosso instrumento, inclui transcrições. Sendo assim, é fundamental entender o assunto começando pela terminologia. Se puder, leia os dois pequenos textos na Wikipedia, versão inglês e português. Eles não são iguais.

https://en.wikipedia.org/wiki/Transcription_(music) 

https://pt.wikipedia.org/wiki/Transcri%C3%A7%C3%A3o_(m%C3%BAsica) 

Voltando ao álbum de Fabio Zanon, apreciaremos aqui não somente a maestria do violonista, mas também a genialidade das transcrições. As ornamentações em cordas duplas e/ou com ligados de mão esquerda surgem sem esforço, as linhas melódicas são apresentadas com clareza, os rudimentos polifônicos aparecem cristalinos e a sonoridade cravística é sugerida sem paródias e com muita elegância. Em certos momentos, como na seção central da Sonata K.394, por exemplo, o violão parece despejar uma verdadeira cascata de notas, mas sem parecer forçado ou espremido. Pelo contrário, a fluência é uma forte característica nas interpretações apresentadas no álbum. Por conta da própria natureza do violão, não tenho a sensação meio líquida das interpretações pianísticas, deixando assim o violão como meio termo sonoro entre o cravo e o piano. Mas, claro, isso é apenas um ponto de vista. 

Espero que tenha sido útil a experiência de comparar esse três álbuns. Precisamos muito lembrar que nosso melhoramento constante como músicos está totalmente atrelado ao nosso desenvolvimento como ouvintes e apreciadores de música. O melômano não surge pronto, ele constrói a si mesmo com a prática constante da escuta.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Melomania 


Revisão de texto e "tremenda força": Maria Flor ❤


Grande abraço musical e bons estudos.

[]

:)

JPP